Ministro das Relações Exteriores rebate chanceler de Israel que criticou Lula: “Revoltante”

"Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante", afirmou o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, em resposta a Israel

Equipe InfoMoney

Antônio Cruz/Agência Brasil

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O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, criticou o chanceler do governo israelense, Israel Katz, pelas declarações dadas nos últimos dias sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Vieira classificou como “insólita e revoltante” a forma como Katz se referiu a Lula.

“Uma chancelaria dirigir-se dessa forma a um chefe de Estado de um país amigo, o presidente Lula, é algo insólito e revoltante. Uma chancelaria recorrer sistematicamente à distorção de declarações e a mentiras é ofensivo e grave. É uma vergonhosa página da história da diplomacia de Israel, com recurso a uma linguagem chula e irresponsável”, afirmou Vieira na terça-feira (20), ao sair da Marina da Glória, no Rio de Janeiro. O local receberá, nesta quarta (21) e quinta-feira (22), a reunião de chanceleres do G20.

Mais cedo, em uma publicação em português em sua conta na rede social X, Katz afirmou que “milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas”, criticando Lula por “ousar” comparar Israel a Adolf Hitler.

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“Ainda não é tarde para aprender história e pedir desculpas. Até então – continuará sendo persona non grata em Israel!”, escreveu o ministro israelense, acrescentando que a afirmação de Lula foi “promíscua, delirante” e configurou uma “vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”.

Na sequência, o perfil oficial do governo israelense também atacou o presidente brasileiro, acusando Lula de negar o Holocausto.

Em resposta, Vieira disse que o governo israelense tenta impor uma “cortina de fumaça” para encobrir o suposto massacre em curso em Gaza, onde 30 mil civis palestinos já morreram.

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“Isso tem levado ao crescente isolamento internacional do governo de Benjamin Netanyahu, fato refletido nas deliberações em andamento na Corte Internacional de Justiça. É esse isolamento que o titular da chancelaria israelense tenta esconder. Não entraremos nesse jogo. E não deixaremos de lutar pela proteção das vidas inocentes em risco”, afirmou o chanceler brasileiro.

Entenda o caso

As declarações do chanceler israelense ocorrem após Lula comparar, no domingo (18), “o que está acontecendo na Faixa de Gaza” com o Holocausto, “quando Hitler resolveu matar os judeus”. A declaração do presidente brasileiro foi feita a jornalistas em Adis Abeba, capital da Etiópia, onde estava para participar da 37ª Cúpula da União Africana.

O presidente brasileiro afirmou, na ocasião: “É importante lembrar que, em 2010, o Brasil foi o primeiro país a reconhecer o Estado palestino. É preciso parar de ser pequeno quando a gente tem de ser grande. O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus“.

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A declaração gerou forte reação do governo israelense, que iniciou uma ampla ofensiva militar no enclave palestino, após o Hamas invadir o país em 7 de outubro de 2023, matar 1,2 mil pessoas e sequestrar outras 253. Desde então, os ataques israelenses devastaram a Faixa de Gaza, matando mais de 29 mil pessoas e forçando a maioria dos 2 milhões de habitantes do território palestino a deixarem suas casas.

“Como ousa comparar Israel a Hitler?”

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse, no mesmo dia da declaração de Lula, que o presidente do Brasil “cruzou uma linha vermelha” de forma “vergonhosa e grave”. “Trata-se de banalizar o Holocausto e de tentar prejudicar o povo judeu e o direito de Israel se defender”, publicou Netanyahu. Já o chanceler afirmou que o presidente brasileiro havia se tornado “persona non grata em Israel até que retire o que disse”.

Lula não se retratou, e o governo brasileiro decidiu chamar para consultas o embaixador em Israel, Frederico Meyer, e ao mesmo tempo convocar o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, para dar explicações. Segundo o Itamaraty, as medidas foram tomadas “diante da gravidade das declarações desta manhã do governo de Israel”.

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Hoje, Katz afirmou no X, marcando o presidente brasileiro em sua publicação, que “milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas”. “Como ousa comparar Israel a Hitler? É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez? Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel”.

O Holocausto, promovido pelo nazistas na Segunda Guerra Mundial, matou 6 milhões de judeus.

(Com Agência Brasil)