Líderes nas pesquisas, e daí? Por que analistas políticos não veem Lula ou Bolsonaro na presidência em 2019

Enquanto os últimos levantamentos mostraram os dois políticos (antagônicos, por sinal) na liderança, analistas políticos não os veem como ganhadores do pleito do ano que vem 

Lara Rizério

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SÃO PAULO – As movimentações para 2018 seguem a todo vapor e, cada vez mais, os políticos e o mercado ficarão de olho nas pesquisas eleitorais. Para o mercado, olhando para os números mais recentes, o cenário que se aponta é de preocupação: Lula e Jair Bolsonaro lideram as últimas pesquisas, com destaque para o petista no último Datafolha. Enquanto isso, o Instituto Paraná divulgou na última semana que Bolsonaro aparece liderando em um cenário sem o petista, algo em linha com os dados divulgados pelo DataPoder360 no final de setembro. 

Porém, mesmo antes dessas pesquisas saírem, uma matéria do jornal britânico Financial Times de setembro  avaliou que Bolsonaro era o nome mais provável para suceder o presidente Michel Temer. E tratou essa perspectiva de maneira sombria. “Se as pesquisas de opinião estiverem certas, o mais provável sucessor de Temer, Bolsonaro é um populista de extrema direita que pensa que a polícia deveria ter licença para matar. As perspectivas de uma reforma liberal e pró-crescimento são sombrias”, aponta a publicação, reforçando uma avaliação recorrente da mídia estrangeira ao tratar o deputado federal como uma incógnita em termos econômicos. 

Enquanto isso, a Forbes apontou que Lula é feito de “teflon” e que ele ganharia em todos os cenários: “salvo uma sentença que o leve à prisão, se for permitido ao petista concorrer à presidência, ele será o presidente”, afirma o colunista Kenneth Rapoza.

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Dois fatores contra Bolsonaro

Contudo, muitos analistas políticos mostram ceticismo com relação ao verdadeiro potencial de Bolsonaro e de Lula para 2018. Em entrevista ao InfoMoney logo após a publicação da pesquisa CNT/MDA, no final de setembro (que também mostrou Lula e Bolsonaro na frente), o professor Jairo Pimentel, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, afirmou não acreditar que tal cenário indicado pela pesquisa se confirme no ano que vem. Para ele, cada vez mais se desenha a possibilidade de uma reedição da velha disputa entre azuis e vermelhos, que tem marcado a política brasileira desde a redemocratização. Esse é o cenário base para o especialista mesmo que Lula seja impedido de disputar o pleito e tenha que apoiar a candidatura de outro nome (neste caso, provavelmente Fernando Haddad ou Jaques Wagner). 

Apesar do bom desempenho de Jair Bolsonaro nas pesquisas, o cientista político acredita que a falta de recursos e de tempo de televisão para a campanha poderão pesar ao final da disputa, anulando o que o pré-candidato tem construído de imagem relacionada à ordem, à moral e aos costumes. “Vejo o voto de Bolsonaro hoje muito como um recall. Na campanha, ele terá pouco tempo de televisão e irá derreter. Tempo de televisão e recursos de campanha continuarão sendo variáveis importantes do processo eleitoral”, observou o professor. 

Na mesma linha, a consultoria de risco político Eurasia Group apontou ser improvável que Bolsonaro seja o “Donald Trump do Brasil”, por dois grandes motivos. Além da falta de recursos, os outros nomes que podem entrar no radar são cruciais para definir o desempenho do parlamentar. Para a Eurasia, enquanto os dados de pesquisa confirmam que há demanda no eleitorado para a mudança, como essa demanda se traduzirá em votos, em última análise, dependerá do perfil dos candidatos confirmados. A avaliação é que a recente ascensão de Bolsonaro sugere que ele se beneficia não apenas do voto de protesto, mas também da falta de outras candidaturas críveis. Porém, a consultoria aponta que isso mudará. 

Contudo, para a consultoria, isso não quer dizer que o desempenho de Bolsonaro deva passar despercebido. “As eleições do ano passado nos EUA servem de lembrete de que uma paisagem com inúmeros candidatos pouco atraentes pode abrir caminho para resultados surpreendentes”, aponta a Eurasia.  Neste cenário, a Eurasia aponta que terá atenção dobrada para outras candidaturas antiestablishment que provavelmente surgirão. Alternativamente, suas probabilidades aumentariam em um cenário improvável em que ele é o único candidato antiestablishment. “Mais importante ainda, a ascensão de Bolsonaro é um indicador claro de que ele está instigando um profundo descontentamento no eleitorado, o que dificilmente irá se dissipar, mesmo que a economia se recupere no próximo ano”, avaliou. 

Ceticismo com Lula continua

A Eurasia também segue cética sobre o desempenho eleitoral de Lula. Apesar de ganhar forças nas pesquisas, os analistas políticos não mudam a sua avaliação sobre o petista: para eles, o petista deve enfrentar muitas dificuldades no segundo turno caso a sua candidatura não seja barrada pela Justiça (ele seria impedido de concorrer caso fosse condenado em segunda instância). 

Os analistas explicaram os motivos para a ascensão do petista: “Lula sofreu nas pesquisas nos estágios iniciais da Operação Lava Jato. Mas, ao longo do ano, a tendência foi de um desencanto crescente com a liderança de partidos de todo o espectro político, à medida que as alegações de corrupção se espalham para o PMDB e para o PSDB.  Além disso, uma recente pesquisa de opinião pública da Ipsos mostrou que o Judiciário também está começando a sofrer um impacto em sua imagem em relação ao público”, avaliam os consultores.

Assim, em um contexto em que a rejeição de todos está aumentando, a posição de Lula provavelmente parece ‘menos ruim” para os eleitores que se beneficiaram mais dos ganhos econômicos durante o governo do PT. Essa tendência já era evidente no primeiro semestre de 2017, e provavelmente continuou a se desempenhar até certo ponto nos últimos três a quatro meses. “Mas isso é em um contexto onde o reconhecimento dos nomes dos outros candidatos é baixo”, afirma.  

Desta forma, avalia a Eurasia, se alguém olha para o perfil de demanda do eleitor, o quadro não é bom para Lula. Primeiro, seus números de rejeição são muito maiores do que de qualquer outro candidato. Enquanto os números de rejeição de Lula caíram de 46% para 42% em relação a junho, os números de rejeição de Geraldo Alckmin ficam em 31% e o de João Doria foram para 25%. Esse não é um bom sinal para o segundo turno, dado que ele é o candidato mais conhecido.

Segundo e mais importante, quando o Datafolha perguntou quais as características que os eleitores estão procurando no próximo presidente, 87% responderam: “não estar implicado em casos de corrupção”. Outras pesquisas também mostram que a corrupção será um grande problema para os eleitores em 2018.  “Em suma, vemos o aumento relativo de Lula como função de um ambiente pré-eleitoral onde os candidatos alternativos são muito menos conhecidos (…). Mas os dados do perfil de demanda dos eleitores sugerem que Lula tem passivos muito elevados. Nada nesta última pesquisa altera a nossa visão de que, se Lula concorrer, ele chegará à segunda rodada, mas terá dificuldade em ganhar uma eleição no segundo turno”.

E não é só a Eurasia: os analistas de mercado ainda mostram relativa tranquilidade quando o assunto é a eleição de 2018. Além de apostarem que a candidatura será barrada em segunda instância, há outra questão no radar. 

Há a avaliação de que, por ser um ano antes da eleição, ainda é “muito cedo” para saber os nomes com maior chance de ganhar o pleito. Durante o XP Connection da última quarta-feira, o analista da XP Investimentos, Gustavo Cruz, fez uma comparação com eleições passadas para mostrar que tudo ainda pode acontecer. Quando as pesquisas são comparadas um ano antes do pleito com o resultado efetivo das eleições, não há quase nenhuma relação entre o bom desempenho anterior com a eleição para o cargo pleiteado. “Um ano antes das eleições, as pesquisas não dizem basicamente nada. Elas erram bastante e até fazem com que os candidatos mais bem cotados levem mais pancada ao longo do tempo à medida que seus nomes aparecem na frente nas pesquisas”. Contudo, o investidor estrangeiro está preocupado e já de olho nos nomes que aparecem na dianteira, principalmente em relação àqueles que possuem uma plataforma antirreformista.  

“As pesquisas de um ano antes dizem muito pouco sobre o que vai acontecer de fato. Depois de março, quando os nomes têm que sair mesmo como pré-candidatos, as pesquisas passam a demonstrar mais a realidade. Antes disso, é muito cedo, é bom para especular, mas não traz um quadro bem apurado”, afirmou Cruz. Desta forma, os levantamentos devem ser acompanhados de perto pelo mercado – porém, ainda mais levando em conta um cenário bastante pulverizado, o cenário é de bastante incerteza para as eleições.  

A Eurasia também aponta que a população procura por um candidato antiestablishment, algo que Lula não representa. A visão vai em linha com a análise de diversos especialistas consultados pela Bloomberg em matéria publicada na véspera chamada “as cinco razões pelas quais Lula não assusta o mercado”. 

No Brasil e no exterior, o eleitor está em busca de candidatos de fora do status quo político, sendo o presidente da França, Emmanuel Macron, um exemplo muito lembrado. Caso Lula realmente não concorra, esta tendência poderia ser reforçada, com o estímulo para que novas candidaturas surjam e que nomes já colocados se tornem mais competitivos. 

A última questão é a retomada lenta, mas constante, da economia. Analistas consideram que o ainda fraco desempenho da economia é um dos motivos da alta desaprovação atual do governo, mas acreditam que a situação poderá mudar em 2018, criando um cenário mais favorável a nomes que defendam a política econômica em curso. “As discussões sobre as eleições presidenciais de 2018 podem trazer alguma volatilidade do mercado mas, à medida que o crescimento econômico do Brasil se eleva, as chances de um candidato reformista alinhado com o pensamento econômico atual também aumentam”, destacou o BTG Pactual em sua carteira recomendada de outubro. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.