Para colunista da Forbes, Lula é feito de teflon e só prisão o impedirá de chegar à presidência

"O homem que já foi um dia o mais popular presidente das Américas é feito de Teflon", afirma o colunista Kenneth Rapoza

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Enquanto analistas políticos e o mercado traçam as suas teses sobre por que, apesar de tão implicado na Lava Jato, Lula segue despontando nas pesquisas de popularidade, a Forbes já traça suas teorias sobre a resistência eleitoral do petista. Na avaliação de muitos brasileiros, aponta o colunista Kenneth Rapoza, o ex-presidente não está sendo tratado de forma justa pelo juiz Sérgio Moro e está ganhando o voto de simpatia. 

“O homem que já foi um dia o mais popular presidente das Américas é feito de Teflon”, afirma Rapoza. Ele ressalta que, apesar das acusações feitas contra ele e sua equipe anterior, dia após dia, pouco o afeta: Lula continua sendo o homem mais popular do Brasil. “Quando a coisa fica feia, as pessoas optam por ele para liderar o país pela terceira vez, ao invés de qualquer outro candidato”.

Assim, Rapoza conclui: salvo uma sentença que o leve à prisão, se for permitido a Lula concorrer à presidência, ele será o presidente. Vale ressaltar, contudo, que essa opinião não é compartilhada por diversos cientistas políticos. A consultoria de risco Eurasia Group apontou no fim do mês passado que uma eventual candidatura de Lula (aliás, considerada por ela improvável de acontecer) não deve ser vitoriosa caso vingue, ainda mais levando em conta a alta rejeição do ex-presidente. 

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Baseado na pesquisa Ipsos, o colunista da Forbes ressalta quais são os adversários que o ex-presidente deve enfrentar, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin e o ministro da Fazenda Henrique Meirelles, ambos com baixa taxa de aprovação. Michel Temer, por sua vez, que não está na disputa do ano que vem, possui uma aprovação de apenas 2%, enquanto a desaprovação atinge 94%. 

Outros nomes aventados são os de Marina Silva que, apesar de não estar envolvida na Operação Lava Jato, mostra maior taxa de desaprovação (60%, ante 53% da pesquisa anterior). Um outro fator que pesa contra ela é o fato de não estar no centro das atenções. Depois, há o deputado Jair Bolsonaro, comparado por Rapoza a Donald Trump e que também viu sua rejeição subir na Ipsos. Às vezes também comparado ao presidente americano por ter vindo do mundo dos negócios, o prefeito de São Paulo, João Doria, também está no páreo. Porém, ele também tem muitas diferenças em relação a Trump, mas pode enfrentar resistências do seu partido. O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa também é citado pelo colunista. 

O melhor ou o pior?

Enquanto isso, Lula aparece na dianteira das pesquisas, mas não sem contestações. Para alguns, Lula foi o homem que governou no melhor dos tempos, e outros ele é a razão para o pior dos tempos. 

E, para Rapoza, os tempos de agora são definitivamente ruins, citando o desemprego recorde e o crime desenfreado no Nordeste, assim como no Rio de Janeiro, que está nas cordas. Além disso, a economia enfrentou anos seguidos de recessão. “De fato, o Brasil está perigosamente perto de apagar um grande pedaço dos avanços feitos nos anos Lula, graças a um boom de commodities longo e altos gastos de de Lula e Dilma”, aponta o colunista. 

Porém, Lula segue popular e um dos únicos potenciais oponentes que se aproxima do petista nesses termos é, ironicamente, o juiz Sergio Moro – e ele não é candidato à presidência. Assim, para a Forbes, olhando para o atual cenário dos potenciais candidatos e a julgar pela direção das pesquisas, a economia brasileira terá que decolar como um foguete ou Lula teria que ser banido de concorrer. Senão…

“Neste ponto, tudo o que Lula tem que fazer é salientar que ninguém tem provas suficientes de que ele é o chefe da organização criminosa”, afirma Rapoza. Para o colunista, Lula e a investigação da Petrobras estão se tornando um pouco como a investigação sobre Trump e suas ligações com a Rússia. “Embora haja muito mais informações sobre o caso Lula, ninguém forneceu a Moro a prova cabal de que Lula permitiu o esquema de corrupção e até tenha se beneficiado disso”, aponta o colunista. 

“Se os outros candidatos não se levantarem, Lula ganha”, aponta o colunista da Forbes. Ele aponta ainda que “o Lula Paz e Amor”, como era conhecido nos seus dias como presidente, pode virar “o Lula Vingança e Fúria”. Com essas sinalizações, a maior parte do mercado mostra temor com sua eleição. Contudo, pondera, há pessoas suficientes em Wall Street, que estão tranquilas caso ele vença o pleito. Muitos veem que haverá um sell-off inicial e, depois, tudo voltará ao normal.

Rapoza lembra que a maioria dos analistas políticos acredita que Lula não vai sobreviver a um segundo turno contra qualquer adversário. Já o colunista discorda dessa avaliação: o prognóstico pareceu viável alguns meses atrás, com a economia dando sinais de melhora. Porém, o mercado de trabalho também tem que melhorar e, apesar da retomada do crescimento no Brasil, este ainda é um cenário de crescimento baixo.  

“Se a economia está ruim, Lula pode conseguir angariar pessoas suficientes nos estados mais pobres que se lembram de dias melhores. Mas eles estarão dispostos a deixar o escândalo da Petrobras para trás para ter uma chance, em suas mentes, de voltar a ter dias melhores? Até que haja uma decisão final da Justiça, acredito que sim”, conclui o colunista.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.