De Lula a Bolsonaro, de Covas a Tabata: a “montanha-russa” de Datena na política

Filiado ao PSDB, José Luiz Datena coleciona passagens por diversos partidos políticos – já são 11, ao todo –, da esquerda à direita, mas sempre desiste na "hora H". Será que agora é para valer?

Fábio Matos

José Luiz Datena, apresentador da TV Bandeirantes (Foto: Governo do Estado de São Paulo)

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Mais novo integrante do ninho tucano em São Paulo, o jornalista e apresentador da TV Bandeirantes José Luiz Datena (PSDB) ensaia, mais uma vez, sua entrada na disputa política. A filiação ao PSDB ocorreu em ato que reuniu algumas das principais lideranças da legenda, na última quinta-feira (4) – 2 dias antes do fim do prazo para que interessados em participar das eleições municipais de 2024 ingressem em um partido.

A chegada de Datena a um partido político, entoando um discurso de candidato, não é nenhuma novidade. Isso já ocorreu inúmeras vezes ao longo dos últimos anos, em um movimento de idas e vindas, anúncios e desistências, o que transformou o apresentador em um personagem quase folclórico na cena política do país. A pergunta que permanece no ar é: afinal, agora é para valer?

Antes de embarcar no PSDB, José Luiz Datena já havia passado por uma dezena de partidos dos mais variados matizes no espectro político-ideológico, de todas as colorações, da esquerda à direita. O apresentador já fez parte de PT, PP, PRP, DEM, MDB, PSL, PSD, União Brasil, PSC e PSB – este último, ao qual se filiou em dezembro de 2023, há apenas quatro meses.

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Como mostrou o InfoMoney, a ideia do PSDB é indicar Datena como candidato a vice na chapa liderada pela deputada federal Tabata Amaral (PSB), que disputará a sucessão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). A transferência de Datena para o PSDB sacramentaria o apoio dos tucanos à candidatura da parlamentar.

Apesar da tendência de ocupar a vice de Tabata, não está descartada a hipótese de o PSDB optar por uma candidatura própria. Se isso ocorrer, o nome do partido seria justamente o de Datena.

Prefeito, vice ou senador?

Em sua extensa trajetória partidária, Datena esteve, por mais de uma vez, a um passo de se candidatar a cargos públicos importantes – mas, na última hora, sempre “refugou”. Isso ocorreu pelo menos em 4 ocasiões nos últimos 8 anos, desde as eleições de 2016.

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Então filiado ao PP, Datena teve o nome anunciado pelo partido à prefeitura de São Paulo, com base em pesquisas internas que mostravam o apresentador liderando, com folga, a disputa – Fernando Haddad (PT) era o prefeito à época e sofria com baixos índices de aprovação dos paulistanos.

Datena acabou desistindo de concorrer e deixou a legenda após a publicação de uma reportagem do jornal O Estado de S.Paulo dando conta de que a Procuradoria-Geral da República (PGR) apontava pelo menos R$ 300 milhões em propinas supostamente direcionadas ao PP entre 2006 e 2014, em casos de corrupção na Petrobras.

Dois anos mais tarde, em 2018, Datena voltou ao centro do debate político ao ter o nome especulado como possível candidato ao Senado Federal. Ele estava no antigo DEM (que se fundiu com o PSL para a criação do União Brasil), mas novamente desistiu da empreitada.

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Vice de Bruno Covas

Nas eleições municipais de 2020, Datena esteve muito próximo de ser companheiro de chapa do então prefeito Bruno Covas (PSDB), que buscava renovar o mandato. Então filiado ao MDB, ele teve uma série de conversas com Covas, que se animava com a possibilidade de ter o apresentador como vice.

Na reta final, Datena – autor de bordões que se tornaram icônicos na TV como “quero ‘ibagens’”, “põe na tela”, “é só nosso” e “me ajuda aí, pô” – recuou mais uma vez, alegando que a TV Bandeirantes havia lhe pedido para permanecer na emissora. O candidato a vice na chapa foi Ricardo Nunes (MDB), que acabaria assumindo a prefeitura após a morte de Covas, em 2021, e agora tenta a reeleição.

Ao se filiar ao PSDB, Datena relembrou o episódio e disse que errou ao não ter aceitado o convite de Covas. “Eu deixei de ser vice-prefeito dele e acho que foi a pior coisa que eu fiz. Acabou caindo no colo do atual prefeito, que transformou São Paulo no que eu vi vindo para cá hoje”, disse.

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Nas eleições de 2022, o sonho de assumir uma cadeira no Senado voltou a passar pela mente do apresentador, que liderava as pesquisas de intenção de voto. Às vésperas do fim do prazo legal para que deixasse a televisão, Datena anunciou mais uma desistência: “Pensei bem e resolvi seguir o meu caminho”, disse.

De Lula a Bolsonaro, de Boulos a Doria

A vida político-partidária de Datena teve início no Partido dos Trabalhadores, de Luiz Inácio Lula da Silva. O jornalista foi filiado ao PT durante 23 anos, entre 1992 e 2015, e sempre se regozijou publicamente pela amizade que dizia nutrir por Lula.

As denúncias de corrupção que abalaram o PT, especialmente a partir da eclosão da Operação Lava Jato e do escândalo do “petrolão”, afastaram Datena dos petistas. Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), ele se aproximou do então presidente da República – que entrevistou algumas vezes e com quem mantinha encontros regulares, inclusive no Palácio do Planalto.

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Em 2022, quando estava no PSC, Datena foi cogitado novamente como candidato ao Senado, possivelmente com o apoio de Bolsonaro e do então candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) – hoje governador do estado. Bolsonaro chegou a dizer que havia “fechado com o Datena”, porém, horas depois dessa declaração, o apresentador agradeceu pelo apoio, mas desistiu da disputa.

O vaivém de Datena na política também o aproximou de nomes como o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato à prefeitura de São Paulo, e o ex-governador do Ceará e ex-ministro Ciro Gomes (PDT).

Em abril do ano passado, Datena apareceu em um vídeo ao lado de Boulos, em que conversavam sobre o cenário eleitoral na capital paulista. “Se você peitar o PT e nós sairmos candidatos, se você falar para o Lula ‘eu quero o Datena como vice e sinto muito’, nós podemos sair”, disse o jornalista, na gravação. Após o vazamento do vídeo, Datena negou que tenha pedido para ser vice de Boulos.

Em 2022, o apresentador também foi especulado como vice da chapa de Ciro Gomes à Presidência da República. Os dois se reuniram para tratar do assunto, mas as conversas não foram adiante.

Por fim, José Luiz Datena já declarou apoio, em 2021, ao ex-governador de São Paulo João Doria (na época, no PSDB) para a Presidência da República. O jornalista foi apresentado como pré-candidato a senador pelo União Brasil, com o apoio dos tucanos paulistas, mas desistiu da disputa após Doria retirar sua candidatura presidencial por não ter obtido apoio interno na legenda. “Doria fez o movimento errado de novo. Ele deixa de ser o traído pelo PSDB e trai o Rodrigo Garcia. Por consequência, eu não tenho mais nenhum compromisso com essa chapa”, afirmou Datena na ocasião.

Na filiação ao PSDB, o 11º partido em sua biografia, Datena se disse honrado e feliz com a nova oportunidade na política, mas não foi assertivo ao comentar a possibilidade de se candidatar em outubro. “O futuro a Deus pertence. Por que eu ia convidar a Tabata para vir aqui se eu penso de forma diferente? Mas não depende só de nós”, afirmou. “Os partidos estão conversando. Precisa perguntar mais para os dirigentes dos partidos. Eles que respondam.”

Veja “ibagens” de José Luiz Datena em diferentes momentos de sua trajetória política:

José Luiz Datena com a deputada federal Tabata Amaral, na filiação do apresentador ao PSB, em dezembro de 2023 (Foto: Divulgação/PSB)
José Luiz Datena deixou o PSB após quatro meses e se filiou ao PSDB (Foto: Reprodução/TV Globo)
José Luiz Datena com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), em Brasília (Foto: Reprodução/redes sociais)
Com o hoje presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT): Datena foi filiado ao PT por mais de 20 anos (Foto: acervo pessoal)
Datena e Guilherme Boulos, pré-candidato do PSOL à prefeitura de São Paulo (Foto: Reprodução/Band)

Fábio Matos

Jornalista formado pela Cásper Líbero, é pós-graduado em marketing político e propaganda eleitoral pela USP. Trabalhou no site da ESPN, pelo qual foi à China para cobrir a Olimpíada de Pequim, em 2008. Além do InfoMoney, teve passagens por Metrópoles, O Antagonista, iG e Terra, cobrindo política e economia. Como assessor de imprensa, atuou na Câmara dos Deputados e no Ministério da Cultura. É autor dos livros “Dias: a Vida do Maior Jogador do São Paulo nos Anos 1960” e “20 Jogos Eternos do São Paulo”.