Biden ganha vantagem sobre Trump na corrida eleitoral, mas suas propostas preocupam o mercado

Pandemia e protestos antirracistas estão pesando sobre Trump, mas propostas de aumento de impostos de Biden podem pesar contra ele

Rodrigo Tolotti

Joe Biden e Donald Trump, que devem repetir neste ano a disputa de 2020 (Reprodução)

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SÃO PAULO – Até poucos meses, o cenário eleitoral nos Estados Unidos mostrava um Donald Trump relativamente tranquilo, enquanto os democratas ainda se mostravam divididos com uma grande quantidade de pré-candidatos. Em poucos meses, contudo, a situação se reverteu completamente.

Com a definição do ex-vice-presidente Joe Biden como o candidato democrata, a corrida eleitoral começou a se acirrar. Mas foi com o estouro da pandemia do novo coronavírus e os protestos antirracistas que Trump viu sua vantagem desabar e se converter em desvantagem, sinalizando que há grandes chances de que ele não vença o pleito.

Nas pesquisas mais recentes, o democrata já aparece com cerca de 10 pontos percentuais de vantagem sobre o atual presidente. E, apesar de muitas pessoas questionarem o que ocorreu em 2016, quando Trump venceu apesar dos levantamentos mostrarem Hillary Clinton à frente, não só as metodologias foram aprimoradas, mas o cenário tem se mostrado diferente.

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No gráfico abaixo, elaborado pela XP Política compilando as principais pesquisas dos EUA, é possível ver que a partir de abril, conforme a crise da Covid-19 estourava junto com os protestos, Biden aumentou sua vantagem. É importante ainda destacar que o período anterior a janeiro desde ano havia poucos dados específicos das pesquisas, por isso há um espaçamento maior na curva.

O presidente Trump tem sido bastante criticado por sua postura no combate à pandemia, o que tem pesado cada vez mais para sua popularidade e desempenho nas pesquisas eleitorais. Nas últimas semanas essa situação piorou ainda mais, conforme alguns dos principais estados dos país registram aumento de casos.

Três dos estados mais importantes da eleição, Texas, Flórida e Arizona, estão enfrentando uma disparada de infectados pelo coronavírus. Segundo a XP Política, o avanço da doença nestas regiões e alguns dos chamados “swing states” (que não são fortemente democratas nem republicanos) afeta negativamente o atual presidente.

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“Sem Texas ou Flórida, será muito difícil Trump encontrar um caminho para manter a Casa Branca”, ressaltam os analistas, destacando, porém, que até novembro a situação deve melhorar, o que pode mudar o cenário visto nas pesquisas também.

Propostas de Biden e impacto no mercado

Dentre tudo no projeto eleitoral de Biden, o que mais preocupa dos investidores é que há um grande foco em aumentar impostos, indo no sentindo contrário do que Trump fez desde que assumiu.

O ex-vice-presidente já apresentou propostas para, por exemplo, elevar impostos corporativos para até 28%, revertendo os cortes feitos pela atual gestão. A expectativa é que esta medida gere US$ 1 trilhão em três anos.

Ele também quer dobrar o imposto mínimo sobre receita de multinacionais americanas no exterior. Em 10 anos, Biden espera arrecadar US$ 3,2 trilhões com isso. O democrata ainda pretende tornar leis antitrustes mais rígidas e aumentar a tributação dos mais ricos.

E apesar de isso ainda não ditar o rumo das bolsas americanas, alguns analistas já apontam que os investidores estão preocupados com isso. Em relatório recente, o Goldman Sachs afirmou que, se aprovado, estes aumentos de impostos corporativos reduziriam o lucro por ação das empresas do S&P 500 em cerca de 12%, o que pesaria para as ações.

E o presidente Trump tem usado essas propostas para tentar alavancar sua candidatura. Nas redes sociais, ele já disse que uma vitória de Biden iria prejudicar os investidores: “Se você quer que seu 401k [plano de aposentadoria] e ações, que estão próximas da máxima histórica, desintegrem e desapareçam, vote pela Esquerda Radical que não faz nada e o corrupto Joe Biden”, tuitou o republicano.

Mas nem todos acreditam que o plano de impostos de Biden seria realmente prejudicial para o mercado. Em relatório, o JPMorgan afirma que apesar da visão negativa do consenso, para eles a vitória democrata seria “neutra a ligeiramente positiva”.

“Dada a atual fraqueza econômica, é provável que a recuperação das empresas e o crescimento do emprego sejam priorizados em detrimento de políticas que possam prejudicar o crescimento econômico e talvez até comprometer o desejado resultado eleitoral para 2022”, escreveu o analista Lakos-Bujas ressaltando que, por conta disso, este aumento de impostos pode ser menor do que o discutido hoje.

Vale lembrar ainda que esta questão das propostas dependerá bastante da configuração do Congresso (clique aqui para ver mais). Atualmente, os democratas comandam a Câmara, o que facilita a tramitação dos projetos de Biden, mas o Senado é republicano. Analistas ainda acham difícil isso mudar, mas se os democratas assumirem a maioria do Senado, poderiam impulsionar também as propostas do ex-vice.

Uma eleição que parecia que seria tranquila para Trump no início do ano, tornou uma grande virada e mesmo que hoje Biden tenha se tornado grande favorito, o cenário se tornou incerto e instável, o que deixa a corrida eleitoral difícil de prever.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.