Debate entre Trump e Biden foi “derrota” para eleitor e mostrou um cenário binário para o Brasil com quem vencer

Richard Back, Victor Scalet e Sol Azcune analisaram o resultado do encontro desta terça e comentaram o que esperar da corrida presidencial a partir de agora

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – A expectativa era grande para o primeiro debate das eleições dos Estados Unidos entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden, mas o que poucos esperavam era que o encontro seria tão confuso e agressivo das duas partes.

O atual presidente interrompeu seu adversário durante praticamente todo o evento de 90 minutos, não deixando nem que o moderador Chris Wallace falasse. Do outro lado, Biden perdeu a paciência diversas vezes, chegando a mandar Trump calar a boca, chamando-o de palhaço.

Segundo a equipe da XP Política, este foi um debate “truncado”, com poucas propostas apresentadas, apesar dos temas tratados. “Foi um debate ruim, e quem perde são os eleitores”, afirmou Victor Scalet, analista político da XP Investimentos, em live (confira na íntegra no player acima).

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“A política não foi o destaque o debate, as visões dos candidatos não foram destaque. Os destaques foram os ataques pessoais, as interrupções do presidente, as tentativas de Biden de colocar Trump na defensiva”, complementou Sol Azcune, que também é analista política da XP.

Ela ressaltou ainda que a postura do democrata mudou um pouco do que foi visto nos debates das primárias do partido, quando manteve maior respeito e tom ameno, mesmo quando recebia ataques. Desta vez ele preferiu atacar mais seu adversário, até em uma tentativa de se defender da agressividade apresentada por Trump.

“Isso reiterou o cenário que a gente interpreta das eleições americanas de grande polarização e de que os temas não estão talvez tão em foco quanto deveriam estar, mas sim as características mais pessoais dos candidatos”, avaliou Sol.

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Sobre o tom forte dos ataques feitos pelo atual presidente, Scalet disse que, revisitando os debates de Trump com a então candidata Hillary Clinton em 2016, foi possível ver que o republicano teve um tom ainda acima desta vez.

Já para Sol, esta maior agressividade de Trump se deu porque ele passou boa parte do debate “na defensiva”, o que é negativo para ele. Ela apontou que o presidente não conseguiu responder algumas perguntas mais polêmicas, como a questão de seu imposto de renda, o que também ajudou a ressaltar esta atitude defensiva dele.

“Isso [a agressividade de Trump] pode ser interpretado como uma tentativa do presidente de desviar o foco de temas que ele não soube responder ou redirecionar com argumentos”, avaliou.

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Preocupações do mercado e citação ao Brasil

Já o analista político Richard Back, também da XP, apontou para alguns pontos do debate que apesar de não terem chamado tanta atenção nos comentários gerais sobre o encontro, são muito importantes para o mercado financeiro, inclusive no Brasil.

O primeiro ponto que ele destacou foi quando Joe Biden afirmou que, se eleito, pretende elevar os impostos para empresas nos Estados Unidos de 21% para 28%, revertendo em partes uma política adotada por Trump, que reduziu as taxas, que até então eram de 35%, quando assumiu a Casa Branca.

Já o segundo tópico é sobre a Amazônia, com direito a citação nominal do Brasil pelo candidato democrata no debate. “Isto indica que o partido democrata está de olho nesta relação entre Trump e [Jair] Bolsonaro, o que para a gente aqui no Brasil é algo para se ter como ponto de atenção”, afirmou Back.

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Além disso, o analista ressaltou que se Biden vencer a disputa, devemos ver uma maior pressão sobre o Brasil, com os EUA se somando ao que já se vê de países da União Europeia como França e Alemanha, que não querem fazer o acordo com o Mercosul.

Durante o debate Biden propôs que países de todo mundo se reúnam para fornecer US$ 20 bilhões para a preservação da Amazônia e disse que o Brasil enfrentará “consequências econômicas significativas”, caso o país não pare a destruição da floresta e se ele for eleito.

“Eu acho que o sentido político disso é preocupante porque você vê que claramente é um cenário binário para a gente aqui”, avaliou Back.

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“Se o Trump ganha fica como está, com o Bolsonaro às vezes conseguindo alguma coisa, mas se o Trump perde, teremos um pessoal na Casa Branca com uma lupa no Brasil e querendo mudanças nestas políticas, com uma visão completamente diferente em temas ambientais e direitos humanos. E isso tem impacto direto nos mercados e na economia real também. Se a gente não se reposicionar rápido com uma vitória de Biden, podemos ver os EUA sendo mais agressivos com o Brasil, colocando mais barreiras na relação comercial e diplomática”, afirmou.

Para Sol, este foco no Brasil foi uma surpresa, já que um país que costuma ser o centro das atenções sobre a política externa americana é a China. Porém, segundo ela, desta vez o gigante asiático acabou pouco citado, com exceção de menções ao presidente Xi Jinping e ao que Trump chamou de “praga chinesa”, se referindo ao coronavírus.

“Eles não debateram o tema com maior ênfase, o que surpreende já que foi um assunto debatido bastante nas primárias democratas e o Trump fala frequentemente em seus discursos sobre o país, então deve ser um tema que com certeza a gente deve ver voltar ao foco dos debates”, disse a analista.

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Sobre o impacto da eleição no mercado, Scalet afirmou que não importa quem vença, inicialmente a visão da XP se mantém parecida quando o assunto é bolsa americana. Segundo ele, o impacto seria em setores diferentes, com Trump favorecendo mais bancos e empresas de tecnologia, enquanto Biden poderia ser melhor para companhias de infraestrutura, mas o resultado final no mercado seria parecido.

Porém, o analista apontou que um cenário fora da curva, que teria maior impacto não só lá nos EUA, mas também em outros mercados, seria uma vitória de Biden com larga margem e com os democratas assumindo a vantagem no Senado.

“Assim você teria as configurações políticas que dariam mais espaço para esta ala mais intervencionista do partido democrata”, disse Scalet, ponderando que mesmo assim não há expectativa de grandes mudanças de políticas, já que Biden é considerando mais de centro, ponderado.

Por outro lado, o analista destacou que o que se vê hoje é uma expectativa por volatilidade pós-eleição. Olhando para contratos futuros de diversos ativos negociados na bolsa americana, Scalet ressaltou que é vista uma menor volatilidade nos de antes da eleição.

“O mercado está esperando que este pós-três de novembro, com votação pelo correio e possibilidade de atrasar contagem de votos, pode gerar volatilidade. Não quer dizer que a bolsa nos EUA vai cair ou vai subir”, explicou.

No atual momento, mesmo sem histórico de fraudes em eleições ou mesmo uma avaliação de que isso deva acontecer este ano, o que se mostra é que o maior temor do mercado neste momento, mais do que com propostas e impactos, é em como se dará o resultado da eleição, que pode demorar e ir parar até na Justiça.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.