Vladimir Putin: conheça a trajetória política do presidente russo

Ex-agente da KGB, Putin controla o país há mais de duas décadas. Implacável, não hesita em empregar força militar para impor seus interesses.

Nome completo:Vladimir Vladimirovich Putin
Data de nascimento:07 de outubro de 1952
Local de nascimento:Leningrado, União Soviética
Formação:Direito
Profissão: Agente de serviços de inteligência, político
Partido:Rússia Unida
Cargo de destaque:Presidente da Rússia

Vladimir Putin é um político russo que está em seu quarto mandato como presidente da Rússia. Ele foi também primeiro-ministro do país em duas oportunidades. Ex-agente da KGB, a agência de inteligência da antiga União Soviética (URSS), Putin entrou na política no início dos anos 1990, como assessor de Anatoly Sobchak, seu professor na faculdade de Direito e primeiro prefeito eleito democraticamente de Leningrado, atual São Petersburgo.

Nos anos que se seguiram ao colapso da URSS, Putin teve uma ascensão meteórica na burocracia russa. Em 1991, foi nomeado para seu primeiro cargo, presidente do conselho de relações internacionais da Prefeitura de São Petersburgo. Em 1999, já era primeiro-ministro da Rússia.

Vladimir Putin foi eleito presidente pela primeira vez em 2000. Desde então, vem acumulando poder, tornando-se um autocrata. É o mais longevo líder a ocupar o Kremlin desde o ditador soviético Joseph Stalin, que ficou no cargo de 1927 a 1953.

Depois do caos econômico, social e político que varreu a Rússia nos anos 1990 sob a presidência de Boris Yeltsin, o nacionalista Vladimir Putin se empenhou em reconstruir a economia e o orgulho russo, além de resgatar a influência de seu país sobre territórios da antiga URSS e, antes dela, do Império Russo.

A invasão da Ucrânia iniciada em 24 de fevereiro é reflexo disso. A pretexto de evitar o ingresso da nação vizinha na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e defender separatistas russos em território ucraniano, Putin mais uma vez patrocinou uma incursão militar num país historicamente influenciado pela Rússia, como já havia feito na própria Ucrânia em 2014, na Geórgia, em 2008, e na Chechênia, em 1999, ainda como primeiro-ministro.

Vladimir Putin prometeu “desmilitarizar” e “desnazificar” o país vizinho, acusando os ucranianos de perseguição e genocídio contra russos que vivem em seu território, fazendo analogia à Alemanha nazista. Vale lembrar que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é judeu.

Quem é Vladimir Putin?

Putin Rússia
(Matthew Stockman/Getty Images)

Vladimir Vladimirovich Putin nasceu em 07 de outubro de 1952, em Leningrado, na Rússia. É filho de Vladimir Spiridonovich Putin e Maria Ivanovna Shelomova, um casal de operários. O pai era veterano da 2a Guerra Mundial. Antes de Putin nascer, seus pais tiveram outros dois filhos, que morreram ainda crianças.

Em reportagem do jornal norte-americano New York Times, Putin conta que seu avô paterno era um cozinheiro de mão cheia e, depois da 1a Guerra Mundial, foi trabalhar num distrito de Moscou onde moravam o líder revolucionário Vladimir Ilitch Lênin e sua família. Depois da morte de Lênin, o avô foi transferido para uma das “dachas” (casas de campo) de Stalin.

Quando Vladimir Putin nasceu, o pai trabalhava na fábrica de vagões Yegorov, em Leningrado, e a família morava num apartamento comunal cedido pela indústria. O futuro presidente teve uma infância humilde. Era baixinho e briguento.

Pegou gosto pelas artes marciais. É faixa preta em judô, tendo sido campeão de Leningrado em 1976, e mestre em sambo, luta desenvolvida na União Soviética. Foi campeão da modalidade em Leningrado em 1973. É também faixa preta em caratê.

O jovem Putin queria ser agente secreto. Ficou fã do espião soviético Max Stierlitz, protagonista da série “Dezessete Momentos da Primavera”, exibida na TV em 1973. O personagem interpretado pelo ator Vyacheslav Tikhonov atuava sob disfarce na Berlim da 2a Guerra Mundial.

Em 1975, o futuro presidente se formou em Direito na Universidade Estatal de Leningrado e logo depois entrou na KGB. Trabalhou na unidade de contrainteligência da agência na cidade e depois na área de inteligência estrangeira, aprendendo a falar inglês e alemão.

Em 1983, Putin se casou com Lyudmila Shkrebneva, com quem teve duas filhas, Maria e Katerina. O casal se divorciou em 2013.

Em 1985, foi envidado para Dresden, na Alemanha Oriental, onde estava quando caiu o Muro de Berlim, em 1989. Voltou para Leningrado em janeiro de 1990 e assumiu o cargo de assessor de Relações Internacionais do reitor da Universidade Estatal de Leningrado.

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Trajetória política de Vladimir Putin

Em 1991, começou trabalhar com Sobchak na prefeitura, como presidente do Comitê de Relações Internacionais da cidade, e deixou a agência de inteligência. Ganhou a confiança do chefe e ficou conhecido por sua habilidade em fazer as coisas caminharem.

Na São Petersburgo dos anos 1990, imperavam a corrupção, a criminalidade e a pobreza. O futuro presidente se notabilizou pela eficiência em navegar nessa época conturbada. A partir de 1992, passou a acumular o cargo de vice-prefeito. Era extremamente fiel, mas também ambicioso.

Putin já disse em uma entrevista que se conta “muita lenda” sobre o período. “Mas havia muita violência mesmo, e é verdade que eu dormia com um revólver, para se ter uma ideia daqueles tempos”, afirmou. Ele admitiu também ter recebido ofertas de propina, mas não confirmou se aceitou. “Você queria que eu disse que aceito?”, respondeu a entrevistador.

Rumo ao topo

Em 1996, Sobchak se candidatou novamente a prefeito de São Petersburgo, mas perdeu a eleição. Putin, então, mudou-se para Moscou e assumiu um cargo no governo nacional, à época chefiado por Boris Yeltsin. Rapidamente galgou degraus até o topo da hierarquia do Kremlin.

Os anos 1990 foram marcados pelo caos econômico, hiperinflação, crime organizado, corrupção e drástica redução da influência russa no cenário internacional. De 1991 a 1997, o Produto Interno Bruto (PIB) da Rússia encolheu 43%.

Na seara militar, a Rússia travou uma guerra contra os separatistas da Chechênia, no Cáucaso, de 1994 a 1996, que deixou cerca de 50 mil mortos. O acordo de paz que pôs fim ao conflito foi considerado humilhante para os russos e, na prática, resultou na independência do território, embora Moscou nunca tenha reconhecido.

Em 1998, Putin foi nomeado diretor do Serviço Federal de Segurança (FSB), órgão sucessor da KGB. Em março de 1999, virou secretário do Conselho de Segurança da Rússia. Estava de volta ao lar, mas agora no comando.

Nessa época, Yeltsin e seus aliados eram investigados pelo procurador-geral do país, Yury Skuratov, por suspeita de corrupção. Em 1999, a TV estatal mostrou uma gravação caseira de homem nu, que supostamente era Skuratov, na cama com duas mulheres.

O escândalo derrubou o procurador-geral. Esse foi considerado um caso de “kompromat”, técnica herdada da União Soviética que consiste em chantagear alguém com dados reais ou fabricados.

Meses após o caso, em agosto de 1999, Yeltsin nomeou Putin como primeiro-ministro russo.

Chechênia

Em setembro de 1999, atentados a bomba em prédios residenciais em Moscou resultaram na morte de mais de 200 pessoas. Putin culpou separatistas chechenos, ordenando o bombardeio e uma nova invasão do território ao sul da Rússia.

“Se este for um ataque terrorista, então estamos diante de um inimigo esperto, traiçoeiro, sedento de sangue. Muitos tentaram intimidar a Rússia, mas até hoje ninguém conseguiu”, disse Putin em pronunciamento na TV, na época. A autoria dos atentados nunca foi comprovada.

“Os aviões russos estão atacando apenas as bases de terroristas. Vamos atrás de todos eles, em todos os lugares. Nos aeroportos e até mesmo dentro do banheiro. Quem for encontrado, me desculpem, vai descer feito líquido pela privada. Acabou!”, afirmou Putin, usando linguagem e expressões populares da Rússia.

A incursão militar foi bem sucedida. A Rússia retomou o controle da Chechênia, embora conflitos esporádicos e atentados tenham continuado por muitos anos. São exemplos o ataque num teatro em Moscou, em 2002, que resultou na morte de 130 reféns. E a invasão de uma escola em Beslan por fanáticos religiosos, em 2004, que terminou com um saldo de 334 mortos, sendo 156 crianças.

Episódios como esses chocaram o mundo e permitiram a Putin aumentar seu poder na Rússia, sob a justificativa da segurança. Ele conseguiu, por exemplo, abolir as eleições diretas para governadores regionais, que passaram a ser nomeados pelo Kremlin.

A operação na Chechênia recuperou parte do orgulho perdido dos russos e turbinou a popularidade de Putin, até então pouco conhecido do público nacional. Isso pavimentou sua candidatura para a sucessão de Yeltsin, com apoio do próprio presidente russo.

Yeltsin ainda daria um último presente para Putin, quando em 31 de dezembro de 1999 anunciou sua renúncia antes do fim do mandato, elevando o então primeiro-ministro ao cargo de presidente interino. Logo no primeiro dia do ano de 2000, Putin visitou tropas russas que estavam perto de Grozny, na Chechênia, e deixou clara sua estratégia de retomada do poderio russo.

“Isto não é apenas uma questão de restaurar a honra e a dignidade da Rússia”, declarou, segundo a rede norte-americana de TV CNN. “É algo mais importante que isso. É uma questão de colocar um fim à divisão da Federação Russa”, acrescentou.

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A chegada de Vladimir Putin à presidência

Em março de 2000, Putin foi eleito presidente pela primeira vez, com cerca de 53% dos votos, já no primeiro turno. O candidato do Partido Comunista, Gennady Zyuganov, ficou em segundo lugar, com quase 30%.

Yeltsin telefonou para parabenizar seu sucessor, mas ficou sem retorno. Frio, Putin costuma se livrar rapidamente de aliados que se tornam um fardo, e o ex-presidente era muito impopular.

Ao mesmo tempo, seus marqueteiros começaram a criar uma imagem mais simpática do novo líder: esportista e homem do povo.

No início de seu governo, Putin enfrentou uma grave crise. Em agosto de 2000, o submarino nuclear Kursk naufragou no Mar de Barents com 118 tripulantes. O presidente recusou ajuda externa para o resgate, oferecida principalmente por Noruega e Reino Unido, e só dez dias depois do acidente suspendeu as férias que tirava no balneário de Sochi. Toda a tripulação morreu e o novo mandatário virou alvo de pesadas críticas.

Perseguições

Entre os críticos estava o oligarca Boris Berezovsky. Integrante do círculo mais próximo de Yeltsin, Berezovsky assumiu o controle de grandes companhias de diferentes setores nos anos 1990, incluindo a principal rede estatal de TV. Ele apoiou a eleição de Putin, mas criticou publicamente ações do governo, incluindo o próprio presidente por sua atuação no caso do Kursk.

Berezovsky passou a ser alvo de investigações e teve empresas tomadas pelo Estado. O oligarca deixou a Rússia a acabou se exilando em Londres, na Inglaterra, onde morreu em circunstâncias misteriosas em 2013.

Acostumados a ter enorme influência no governo durante os anos 1990, empresários como Berezovsky foram surpreendidos por Putin, que queria apoio, mas não iria se dobrar as caprichos dos bilionários, nem aceitaria dissidências. Destino semelhante teve o magnata da mídia Vladimir Gusinsky, que chegou a ser preso e depois foi para o exílio.

Em 2003, Mikhail Khodorkovsky, controlador da petrolífera Yukos, então homem mais rico da Rússia e apoiador de partidos de oposição, foi preso sob acusação de crimes financeiros. Jurou inocência, mas foi condenado. Em 2013, Putin o perdoou. Fora da cadeia, também deixou o país.

O modus operandi de execração de desafetos na mídia estatal, processos, prisão e sequestro de bens seguiu ao longo dos governos de Putin. O presidente gosta de oligarcas que pode chamar de seus.

Ele levou para Moscou ex-colegas dos serviços de inteligência e do período em São Petersburgo, e incorporou no governo métodos da KGB.

A estratégia de intimidação vale também para opositores políticos e jornalistas, e pode ir além. Vários casos suspeitos de envenenamentos e assassinatos de críticos de Putin ocorreram nos últimos 20 anos, dentro e fora da Rússia. O governo praticamente acabou com a mídia independente no país.

A jornalista Anna Politkovskaya, do jornal Novaya Gazeta, por exemplo, foi assinada a tiros no elevador do edifício onde morava, em 7 de outubro de 2006, data de aniversário de Putin. Ela denunciava os abusos cometidos na Chechênia por tropas russas e pelo governo pró-Moscou comandado por Akhmad Kadyrov e seu filho, Ramzan Kadyrov.

Exilado em Londres depois de denunciar corrupção e outros crimes no governo russo, o ex-agente da FSB Alexander Litvinenko acusou Putin de ser o mandante do assassinato da jornalista. Poucos dias depois, ele foi internado após se encontrar com dois russos num hotel da capital britânica.

Foi constatado envenenamento por polônio-210, um elemento radiativo,  e Litvinenko morreria algumas semanas depois. O governo do Reino Unido chegou a pedir a extradição dos dois homens suspeitos no caso, mas ambos negaram participação. Um deles, Andrey Lugovoy, havia sido eleito para o Parlamento russo, a Duma, e gozava de imunidade parlamentar.

Putin criou na Rússia uma “democracia administrada”, bem ao gosto dos autocratas do século 21. Nesse sistema, as instituições básicas de uma democracia são mantidas, como Legislativo, Judiciário e imprensa. Mas elas são aparelhadas, sendo controladas pelo Estado ou seus aliados. Além disso, os resultados das eleições são geralmente predeterminados.

Popularidade

Ainda em seu primeiro mandato, Putin gozou de alta popularidade nacional – que mantém até hoje – e internacional, que arrefeceu bastante desde então.

Após os ataques terroristas contra o World Trade Center, em Nova York, e ao Pentágono, em Washington, em 11 de setembro de 2001, o presidente russo prometeu assistência na “guerra ao terror” empreendida pelo então mandatário norte-americano, George W. Bush.

Posteriormente, porém, se alinhou aos líderes da Alemanha e França da época, Gerhard Shröder e Jacques Chirac, na oposição à invasão do Iraque.

A retomada econômica da Rússia, com suas exportações de petróleo e gás, e o renovado destaque geopolítico, fizeram com que Putin caísse nas graças de lideranças internacionais. Com Brasil, China, Índia e África do Sul, por exemplo, a Rússia formou o Brics, grupo de grandes nações em desenvolvimento.

Putin foi reeleito em 2004 com mais de 71% dos votos no primeiro turno. Ele manteve prestígio internacional, mesmo com as perseguições a opositores e intervenções em nações vizinhas.

Em 2007, ele foi escolhido como a personalidade do ano pela revista norte-americana Time. Internamente, sua popularidade só crescia, assim como a consolidação de seu poder.

Intervenções

Putin ainda padecia, no entanto, de contratempos em ex-repúblicas soviéticas. Em 2004, apoiou publicamente o candidato pró-Rússia à Presidência da Ucrânia, Viktor Yanukovich, e prometeu vender gás com desconto ao país vizinho até 2009. Só que Yanukovich foi derrotado pelo opositor Viktor Yushchenko, no que ficou conhecido como Revolução Laranja.

Yushchenko havia sobrevivido a envenenamento por dioxina durante a campanha e ficou com o rosto parcialmente desfigurado.

O presidente russo retaliou, cancelando o acordo de venda de gás. A Ucrânia ficou sob risco de desabastecimento. Até hoje, a dependência europeia do gás russo é sempre um ás na manga de Putin.

A Rússia fez a Ucrânia aceitar seus termos para fornecer gás. Em 2006, Yushchenko nomeou seu antigo adversário, Yanukovich, como primeiro ministro. Em 2010, Yanukovich foi eleito presidente da Ucrânia.

Antes do término de seu segundo mandato, Putin ainda promoveu a invasão da Geórgia e ocupou a região da Ossétia do Sul, sob justificativas semelhantes às usadas agora contra a Ucrânia.

O conflito durou apenas cinco dias. A independência da Geórgia foi garantida, mas com cerca de 20% de seu território controlado por separatistas alinhados a Moscou.

Reeleição de Vladimir Putin

Além das demonstrações de força, Vladimir Putin nadava em popularidade em função do desempenho econômico de seu país. De 2001 a 2008, o PIB russo cresceu 6,6% ao ano, em média.

No entanto, a Constituição russa só permitia uma reeleição para presidente. Então, em 2008, Putin apontou seu afilhado político Dmitry Medvedev como candidato à sucessão. Medvedev venceu a eleição e logo indicou seu padrinho para o cargo de primeiro-ministro. A nomeação foi aprovada por um Parlamento majoritariamente governista.

Mas Putin não estava disposto a permanecer numa posição secundária. Embora Medvedev pudesse se candidatar à reeleição em 2012, ele abriu mão da candidatura em favor do padrinho. Medvedev ainda conseguiu aprovar a ampliação do mandato de presidente de quatro para seis anos.

Em 2012, Vladimir Putin foi eleito novamente presidente, com 64% dos votos. Ele retribuiu o gesto e nomeou Medvedev como primeiro-ministro, cargo que ocupou até 2020.

Houve, porém, mais oposição do que nos pleitos anteriores, depois de uma onda de protestos populares alguns meses antes. Ganhou destaque nessas manifestações o ativista Aleksey Navalny, que desde então sofre com processos, condenações e prisões.

Em 2020, Navalny ficou doente. A causa: envenenamento por “novichok”, uma toxina desenvolvida na União Soviética que ataca o sistema nervoso. O político foi levado para tratamento na Alemanha. Ao voltar para a Rússia, foi preso.

Em 2018, Sergei Skripal, um ex-agente da inteligência russa acusado de espionar para o Reino Unido, foi encontrado inconsciente em Salisbury, na Inglaterra, ao lado de sua filha, também por exposição à “novichok”. O governo russo negou envolvimento, mas o caso azedou as relações entre Moscou e Londres.

Na volta de Putin à presidência, a Rússia iria se tonar anfitriã de grandes eventos internacionais, como as Olimpíadas de Inverno de Sochi, em 2014, uma das etapas anuais do Campeonato Mundial de Fórmula 1 e a Copa do Mundo de 2018.

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Invasão à Crimeia

No final de 2013, Yanukovich, então presidente da Ucrânia, suspendeu a assinatura de um acordo de associação do país com a União Europeia. Houve uma onda de protestos e, em fevereiro de 2014, Yanukovich foi deposto.

Putin não aceitou. A Rússia invadiu e anexou a região da Crimeia. A península no Mar Negro já fizera parte de Rússia, mas desde 1954 estava sob controle ucraniano. Ele ainda incentivou movimentos separatistas em Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia. Já na época, a Rússia foi alvo de condenações e sanções internacionais.

No início de 2015, o oposicionista russo Boris Nemtsov foi assassinado a tiros nas proximidades do Kremlin, poucos dias após protestar conta a intervenção na Ucrânia.

Também em 2015, a Rússia interviu militarmente na Síria, numa demonstração de força fora de seus domínios tradicionais de influência. Os bombardeios russos deram sobrevida ao regime do ditador Bashar Al-Assad, então em desvantagem na guerra civil iniciada em 2011.

Grupos oposicionistas e jihadistas sunitas, como o Estado Islâmico, foram expulsos de áreas que haviam conquistado, para se concentrar no norte do país, nas proximidades de Idlib. Assad recuperou o controle de quase todo o território sírio.

Mais do que uma exibição de poder e da sustentação de um regime odiado por países ocidentais, principalmente os Estados Unidos, a ação na Síria teve como objetivo também proteger a única base naval que a Rússia tem no Mediterrâneo, entre Tartus e Latákia, no litoral do país árabe, uma região pontilhada pelas ruínas de castelos dos cruzados da Idade Média. A base foi construída pela União Soviética durante o governo de Hafez Al-Assad, pai de Bashar.

Além das ações militares, a atuação russa na área cibernética também preocupa nações ocidentais. Há suspeitas de envolvimento russo em ataques cibernéticos e disseminação de notícias falsas nas eleições norte-americanas de 2016, vencidas pelo republicano Donald Trump. Outros ataques ocorridos em diferentes países nos últimos anos são atribuídos também a hackers russos.

Nova investida

Em 2018, Putin foi eleito para mais um mandato de seis anos, com quase 77% dos votos. Em 2020, a Constituição russa foi alterada para permitir mais reeleições. Com isso, o mandatário tem a possibilidade de permanecer no poder até 2036.

Em 2019, a Ucrânia elegeu o ator e comediante Volodymyr Zelensky para presidente. Depois da invasão iniciada em 24 de fevereiro, ele conclamou o povo a defender seu país nas ruas contra os tanques russos.

Mas a escala de tensões entre Rússia e Ucrânia começou há meses. Putin repetiu diversas vezes que não pretendia invadir a nação vizinha. Fez o contrário.

O relacionamento conturbado de Rússia e Ucrânia

Guardas ucranianos
Foto: Chris McGrath/Getty Images

Putin já disse que considera o colapso da URSS “a maior catástrofe” geopolítica do século 20 e que a dissolução da superpotência “deixou dezenas de milhões de russos fora da Federação Russa”. A defesa de comunidades russas volta meia serve como justificativa para a beligerância do presidente.

Ele gosta também de evocar um passado de glória, às vezes mítico. Declarou recentemente que “russos e ucranianos são um só povo, um único todo”. As relações entre os dois países eslavos são históricas e a Ucrânia só se tornou de fato independente após a queda da URSS, mas não são contínuas.

Rússia e Ucrânia têm uma história comum de origem, que remonta ao primeiro estado eslavo formado na Alta Idade Média, conhecido como “Rússia de Kiev” ou “Rus de Kiev”. Era uma federação de tribos eslavas reunidas pelo viking Oleg, governante de Novgorod, na atual Rússia. No final do século 9 d.C., ele conquistou Smolensk, também na Rússia, e Kiev, na atual Ucrânia.

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O príncipe transferiu a capital de seus domínios para Kiev por causa de sua localização estratégica no Rio Dnieper, dando acesso ao Mar Negro e a Constantinopla, capital do Império Bizantino.

A Rússia de Kiev floresceu por meio de acordos comerciais com Constantinopla e atingiu seu apogeu no século 11. O reino, no entanto, entrou em decadência e deixou de existir com as invasões mongóis do século 13.

A Ucrânia seguiu então uma história separada da Rússia, tendo sido dominada por mongóis, lituanos e poloneses. O território só passou a fazer parte integralmente do Império Russo no século 18.

Putin nunca aceitou a expansão da Otan, instituição liderada pelos Estados Unidos, para o Leste Europeu. Desde a queda da URSS, a organização incorporou 14 países do antigo bloco comunista, incluindo as ex-repúblicas soviéticas da Estônia, Letônia e Lituânia, no litoral do mar Báltico.

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Mão forte do estado

Não que Putin seja saudoso do comunismo. Pelo contrário, ele é cristão ortodoxo, conservador – regularmente se pronuncia contra direitos da comunidade LGBTQIA+ – e nacionalista, fortalecendo na Rússia uma espécie de capitalismo de Estado baseado nas exportações de petróleo, gás, metais e armas.

Os grandes negócios são realizados por companhias estatais, como a Gazprom, gigante do ramo de gás, e empresas dirigidas por oligarcas ligados a Putin.

São chamados de “oligarcas” os empresários que assumiram o comando de estatais após o colapso da União Soviética. Eles têm amplo controle de determinados segmentos e são próximos ao poder. O grupo prosperou durante o governo de Boris Yeltsin nos anos 1990. Parte seguiu alinhada a Putin, mas alguns caíram em desgraça. Novos surgiram.

Mas mais do que criar bilionários, o país de Putin tem uma classe média emergente e uma sociedade de consumo pujante. Desde o início de seus governos, o político goza de popularidade pela estabilização e crescimento da economia russa, depois de quase uma década de caos econômico sob Yeltsin

As ambições de Putin vão além dos territórios sob tradicional influência russa. Embora o país não tenha mais o peso econômico e político do passado, os russos procuram reafirmar sua importância geopolítica por meio de ações como a intervenção militar na Síria, em 2015, que, na prática, salvou o regime de Bashar Al-Assad da derrocada na guerra civil do país árabe. Afinal, a Rússia ainda é a segunda maior potencia militar do mundo e empata com os EUA em capacidade nuclear.

A dependência da Europa nas exportações de gás da Rússia e a ameaça representada pelo enorme arsenal nuclear do país são grandes instrumentos de pressão dos russos na seara internacional.

Vale lembrar que Putin ordenou a realização de exercícios com mísseis balísticos e de cruzeiro poucos dias antes da invasão da Ucrânia, e disse ter colocado a capacidade nuclear do país em alerta máximo depois do início da ofensiva na nação vizinha, dada a reação de países ocidentais, que condenaram a ação e impuseram sanções econômicas à Rússia.

Desde que a invasão começou, Putin vem ampliando sua retórica beligerante. O governo russo chegou a ameaçar Suécia e Finlândia com “sérias repercussões militares e políticas” caso decidam aderir à Otan.

Condenação internacional

A provocação teve efeito contrário. Os dois países, tradicionalmente não alinhados, reiteraram o direito de aderir à organização se assim quiserem. Até a Suíça, que sempre se mantém neutra em conflitos internacionais, condenou a ação russa.

No dia 2 de março, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou uma resolução condenando a invasão da Ucrânia pela Rússia, com 141 votos a favor, cinco contra e 35 abstenções.

O Brasil votou a favor do texto, embora o presidente Jair Bolsonaro (PL) defenda neutralidade na questão. Em reunião com Putin em Moscou, poucos dias antes da invasão, Bolsonaro disse que o Brasil era “solidário à Rússia”.

Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Japão e outras nações anunciaram uma série de sanções econômicas contra a Rússia, autoridades e empresários do país, incluindo Putin e o ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov.

As medidas incluem, por exemplo, a proibição de transações com o Banco Central da Rússia; congelamento de ativos russos, inclusive reservas cambiais; exclusão da Rússia do sistema financeiro Swift, o mais utilizado pelos bancos em transferências internacionais; fechamento do espaço aéreo para companhias russas, e outras.

Companhias internacionais de diversos setores suspenderam seus negócios na Rússia. O objetivo das sanções é enfraquecer a economia russa e forçar o país a negociar. O Banco Central local acusou o golpe: mais do que dobrou a taxa de juros e baixou medidas de controle de capitais. O rublo, a moeda local, despencou.

A Rússia foi suspensa também de competições esportivas internacionais, como a Copa do Mundo de 2022, e o Grande Prêmio de Fórmula 1 deste ano foi cancelado. Vale lembrar que o país foi a sede da última Copa, em 2018.

O isolamento, porém, não é total. Países importantes como a China e a Índia, por exemplo, se abstiveram na votação da resolução aprovada na Assembleia Geral da ONU.

Putin mantém as tropas no solo e a escalada retórica. No dia 3, ele disse ao presidente da França, Emmanuel Macron, que “o pior ainda está por vir”, e prometeu intensificar a ação militar se a Ucrânia não aceitar suas condições.

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