“Value investing” com os dias contados? Howard Marks questiona filosofia consagrada por Warren Buffett

Gestor da Oaktree Capital se diz preocupado com investidores sempre atrás das pechinchas do mercado tendo como foco as métricas clássicas de avaliação

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Após a rotação setorial que ganhou força nas bolsas americanas nos últimos meses de 2020, das ações de tecnologia para aquelas que ficaram para trás na crise, como de commodities ou de bancos, o investidor passou a se questionar se o movimento seria consistente ou efêmero.

Afinal, com a esperada retomada acelerada da atividade econômica em 2021 embalada pela enxurrada de liquidez e pelos juros baixos, melhor se manter nos papéis das gigantes do Vale do Silício, que ainda têm uma larga avenida de crescimento pela frente, embora com os múltiplos nas alturas, ou garimpar aquelas ações que ainda estão longe de refletir no preço seu real valor intrínseco?

Para um dos nomes mais incensados do mercado financeiro internacional, esse tipo de discussão deveria ser revisto no cenário atual.

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Referência até mesmo para quem costuma ser enxergado como um bússola para o mercado, caso de Warren Buffett, o gestor e um dos fundadores da Oaktree Capital, Howard Marks, não vê tanto sentido em fazer uma distinção muito radical entre a estratégia de crescimento, que tem nas big techs as maiores expoentes, em relação à de valor, usualmente vista como aquela que aposta em empresas com alto desconto, geralmente de setores mais sensíveis ao crescimento econômico.

Em sua mais recente carta ao mercado, publicada nesta semana, Marks questiona os modelos de análise de investimento que se atêm à risca à filosofia clássica do “value investing“, que tem em Warren Buffett um dos maiores expoentes. Ao menos como ainda é mais conhecida até hoje.

Em um cenário com tantas mudanças em tamanha intensidade e velocidade, a preocupação explicitada pelo gestor da Oaktree no documento é que o investidor muito apegado a buscar sempre apenas as pechinchas, marca da estratégia de valor, acabe perdendo boas oportunidades.

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Mesmo porque, com o nível de informação disponível atualmente e a quantidade de especialistas de investimento debruçados em encontrar qualquer distorção de preço, achar as ações de valor que estão fora do radar é um trabalho muito mais árduo do que era algumas décadas atrás, escreve Marks.

O próprio Buffett, maior nome do “value investing” do mercado, aponta o gestor da Oaktree, reconhece ter na Apple um dos mais bem-sucedidos investimentos da carteira nos últimos anos.

“O investimento de valor não precisa ser baseado em métricas baixas. O valor pode ser encontrado de várias formas”, escreve Marks. “Em vez de ser definido como um lado dessa dicotomia artificial, o investimento de valor deveria consistir em comprar o que quer que represente uma proposta de melhor valor.”

Cuidado com o ceticismo

Segundo o especialista, o fato de uma empresa crescer de maneira acelerada tendo como base fatores intangíveis como a tecnologia e, por isso, negociar a múltiplos altos na bolsa, não deve significar por si só uma automática exclusão do universo de uma análise de investimento que se guia pelo valor intrínseco do negócio.

Em tempos de grandes mudanças, diz Marks, a aplicação de métodos de avaliação baseados em experiências e modelos do passado pode levar a grandes erros de julgamento.

Ao citar o investidor John Templeton, conhecido por ser um seguidor da estratégia de valor, Marks destaca o fato de que existe sempre o risco de se apostar em novas tendências que surgem e passam a disputar a atenção do mercado, e que mais à frente venham a se provar grandes furadas.

No entanto, em 20% das vezes, dizia Templeton, as inovações provavam seu valor. “Dado o crescente impacto da tecnologia no século 21, aposto que essa porcentagem é muito maior hoje em dia”, escreve Marks na carta, na qual diz que ainda não tem uma opinião formada a respeito dos criptoativos.

Em uma análise histórica, o gestor da Oaktree assinala que a estratégia de valor teve seus melhores momentos quando o pânico predominava, geralmente após o estouro de alguma bolha.

Isso provavelmente é o que faz com que os seus seguidores sejam céticos com as fases de exuberância dos preços nos mercados, ainda mais quando as empresas que lideram o movimento têm ativos intangíveis, escreve o gestor. “O ceticismo é importante para qualquer investidor […], o mantém seguro, e ajuda a evitar situações do tipo boas demais para ser verdade”, diz Marks.

“Mas também entendo que o ceticismo pode levar a uma rejeição automática. Embora seja importante não perder o ceticismo, também é muito importante nesse novo mundo ser curioso, olhar profundamente e buscar entender verdadeiramente um negócio de baixo a cima, ao invés de descarta-lo imediatamente.”

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