Tesouro Direto: negociação de títulos públicos é retomada após três suspensões na tarde desta 5ª; retornos de prefixados recuam para 11%

Mercado monitora o avanço acima do esperado para a inflação oficial em agosto e nota divulgada pelo presidente Jair Bolsonaro em tom mais pacificador

Bruna Furlani

Notas de reais (Sidney de Almeida/Getty Images)

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SÃO PAULO – As negociações de títulos públicos feitas pela plataforma do Tesouro Direto foram retomadas por volta das 17h30 desta quinta-feira (9), ou seja, perto do fechamento e após três paralisações ao longo da tarde. Na volta, o mercado de títulos públicos reverteu a forte alta nas taxas vista no começo da manhã e passou a registrar queda nos prêmios.

As suspensões durante a tarde ocorreram em meio ao aumento da volatilidade. A oscilação nos preços e nas taxas é provocada pelo avanço acima do esperado para a inflação oficial, bloqueios de caminhoneiros ao redor do país e divulgação de uma nota do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em tom mais pacificador e de defesa da democracia e das instituições agora à tarde.

Na retomada das negociações, o juro pago pelo título com vencimento em 2031 recuava de 11,29%, na atualização antes das suspensões, para 10,92%, na atualização após a última suspensão. Um dia antes, o mesmo papel oferecia retorno de 11,16%.

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No mesmo horário, o prêmio do título prefixado com vencimento em 2026 era de 10,34%, contra 10,71% antes da última suspensão. Anteriormente, o mesmo papel pagava um juro de 10,38%.

No papel com vencimento em 2024, a remuneração era de 10,02%, acima dos 9,95% na sessão anterior. Esse foi o único papel que registrou avanço em relação às taxas do dia anterior.

Entre os papéis atrelados à inflação, o juro real oferecido pelo Tesouro IPCA+ com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais recuava de 5,06% para 4,84%, contra 4,90% registrados um dia antes.

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Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (09): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

IPCA

Na cena local, o destaque da agenda econômica está na divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de agosto. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação ficou em 0,87% no mês passado. Esse foi o maior valor para o mês desde 2000. O avanço foi puxado especialmente pela subida dos combustíveis.

Com isso, o indicador acumula alta de 5,67% no ano e de 9,68% nos últimos 12 meses, acima do registrado nos 12 meses imediatamente anteriores (8,99%). Em agosto do ano passado, a variação mensal foi de 0,24%.

Apesar da desaceleração frente julho, o número ficou acima do esperado. A expectativa, de acordo com o consenso Refinitiv, era de alta de 0,71% frente julho de 2021 e de 9,50% na comparação com agosto de 2020.

Diante de dados de inflação mais elevados em agosto, o Credit Suisse já elevou suas projeções para o IPCA neste ano, de 7,7% para 8,1%. Em relatório, os analistas do banco destacaram que os números divulgados nesta quinta reforçam uma dinâmica “muito negativa” para a inflação.

“O processo de desinflação no país será difícil, pois a inércia está alta e as expectativas de inflação para 2022 continuam aumentando”, escrevem os especialistas do Credit Suisse.

Apesar de elevar as estimativas para o índice este ano, a casa manteve a projeção de inflação em 5,0% em 2022.

Na XP, o time de macroeconomia afirmou em relatório que a surpresa no indicador também deve ser incorporada à projeção para a inflação este ano, ficando acima de 7,7%, que é o cenário-base atual.

A casa chama atenção ainda para o Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) divulgado na quarta-feira (9), que trouxe uma preocupação adicional com a pressão sobre os preços dos produtos, com maior repasse aos consumidores. Segundo a XP, isso deve elevar as projeções da casa para o IPCA de setembro e outubro.

Durante evento na véspera e portanto antes da divulgação do IPCA de agosto, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, afirmou que o núcleo da inflação está muito mais alto do que a autoridade monetária gostaria e voltou a mencionar a diferença entre as expectativas de mercado e do BC para a inflação.

De acordo com o último Boletim Focus do Banco Central divulgado nesta semana, a projeção para a inflação oficial até o fim deste ano passou de 7,27% para 7,58%, 22ª semana seguida de alta.

Campos Neto também disse que o BC começou a ver as expectativas do mercado para inflação em 2022 subindo também, e está focando maior parte da sua atenção nessa frente.

Crise político-institucional e caminhoneiros

Na frente política, a atenção dos investidores está na nota divulgada agora à tarde pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). No documento, ele afirma que não teve a intenção de agredir “quaisquer dos outros Poderes”, em uma tentativa de reduzir a fervura da crise institucional.

Ele também reiterou o “respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país”. E emendou dizendo que “democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição”.

Bolsonaro ainda pregou a manutenção da harmonia e independência dos poderes ao dizer que sempre esteve “disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes”.

Outro destaque da cena política está nos protestos de caminhoneiros independentes país afora. Diante da força das mobilizações, hoje o presidente Jair Bolsonaro teve encontro com alguns motoristas.

De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, os caminhoneiros presentes na reunião disseram que só vão desmobilizar os atos e paralisações em rodovias se avançar a pauta anti-STF.

Ainda segundo o periódico, dois caminhoneiros que se identificaram como Francisco Dalmora Burgardt, “Chicão caminhoneiro” e Cleomar Araujo negaram que Bolsonaro tenha pedido o fim das manifestações.

Ontem à noite (8), o presidente Jair Bolsonaro, no entanto, enviou um áudio para desmobilizar motoristas que bloqueavam estradas em mais de 15 estados do país. O presidente citou que as mobilizações poderiam provocar desabastecimento, inflação e prejudicar a todos, inclusive os mais pobres.

“Então, dá um toque nos caras aí, se for possível, para liberar, tá ok? Para a gente seguir a normalidade. Deixa com a gente em Brasília aqui agora. Não é fácil negociar e conversar por aqui com autoridades, não é fácil. Mas a gente vai fazer a nossa parte aqui e vamos buscar uma solução para isso, tá ok? E aproveita, em meu nome, e dá um abraço em todos os caminhoneiros”, disse Bolsonaro no áudio segundo informações da agência Ansa.

Cena internacional

No cenário externo, o foco está no Banco Central Europeu (BCE). Hoje pela manhã, a autoridade monetária informou que reduzirá ligeiramente as compras de títulos de emergência ao longo do próximo trimestre. O anúncio representa um passo simbólico para desfazer a ajuda econômica de emergência que sustentou o bloco durante a pandemia.

No entanto, o BCE não deu nenhum sinal de seu próximo movimento, incluindo como desfazer o Programa de Compra de Emergência da Pandemia (PEPP) de 1,85 trilhão de euros, que manteve os custos de empréstimos baixos para governos e empresas.

Já nos Estados Unidos, investidores acompanharam a divulgação na manhã desta quinta-feira (9) dos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA que atingiram 310 mil na semana encerrada em 4 de setembro, o menor resultado desde o início da pandemia. O dado também ficou abaixo da previsão dos analistas consultados pela Refinitiv, que esperavam 335 mil pedidos.

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