Tesouro Direto: taxas dos títulos públicos operam em alta com noticiário político

Prisão de Fabricio Queiroz e dados de desemprego nos EUA acima do esperado contribuem para movimento

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central(BC) cortar a taxa Selic em 0,75 ponto percentual ontem, renovando a mínima histórica para 2,25% ao ano, os prêmios dos títulos públicos negociados via Tesouro Direto operam em alta na manhã desta quinta-feira.

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Entre os prefixados, o prêmio do título com vencimento em 2023 subia de 4,15% ao ano, na tarde de ontem, para 4,23% a.a., nesta tarde. O juro pago pelo mesmo papel com prazo em 2026, por sua vez, oferecia uma taxa de 6,36%, ante 6,26% na tarde de ontem.

Entre os títulos indexados à inflação, o prêmio do Tesouro IPCA+ 2026 recuava de 2,66% na sessão passada para 2,62%. Já a taxa do mesmo papel com vencimento em 2035, que ontem era negociada a 4%, hoje a tarde subia para 4,04%.

Para o economista-chefe do Haitong, Flavio Serrano, a abertura de taxas está mais associada ao noticiário político do que à politica monetária, já que o BC seguiu o script esperado sem grandes sustos. “A percepção sobre os próximos passos da autoridade monetária não mudou tanto”, diz o especialista.

Após a decisão do Copom, o mercado se dividiu entre os que acham que o BC interrompe o processo de cortes na Selic em 2,25%, como Itaú, Bradesco e BofA, daqueles que preveem mais um corte residual de 0,25 ponto percentual em 5 de agosto, como UBS e Goldman Sachs.

Para Serrano, do Haitong, um corte de mais 0,25 p.p. a essa altura do campeonato pode não ter grande eficácia. A porta deixada aberta pelo BC nesse sentido, diz o especialista, é mais para trabalhar as expectativas do mercado, e evitar que alguns agentes passem a precificar uma taxa muito abaixo da atual.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos ofertados nesta quinta-feira (18):

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Portas abertas para novo corte da Selic

No comunicado divulgado junto com a decisão do Copom, a autoridade monetária destacou que vê o atual nível de estímulo como compatível com o cenário de crise, mas não fechou totalmente a porta para eventuais novos cortes de juros.

“O Copom entende que, neste momento, a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que o espaço remanescente para utilização da política monetária é incerto e deve ser pequeno”, diz o comunicado do colegiado.

“Para as próximas reuniões, o Comitê vê como apropriado avaliar os impactos da pandemia e do conjunto de medidas de incentivo ao crédito e recomposição de renda, e antevê que um eventual ajuste futuro no atual grau de estímulo monetário será residual”, continua o texto.

Diante do cenário básico e do balanço de riscos, a definição dos próximos passos ocorrerá com novas informações sobre a evolução da pandemia, além de uma diminuição das incertezas no âmbito fiscal, informou o Copom.

Em live do InfoMoney logo após o anúncio, especialistas buscaram interpretar o comunicado da autoridade monetária. “O BC deixou bem claro que a utilização da política monetária daqui para frente é incerta, mas, se for utilizada, o espaço para novos cortes é pequeno”, disse Guilherme Attuy, economista-chefe da Gauss Capital.

Marcel Balassiano, pesquisador da área de economia aplicada do FGV IBRE – Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas –, avaliou que o Banco Central deve ser mais cauteloso e não deve baixar muito mais a taxa de juros.

“O Brasil é uma economia emergente, não tem como a gente comparar com a economia dos Estados Unidos, Zona do Euro ou Japão, que têm juro zero, precisamos ter um prêmio de risco”, afirmou.

O prêmio de risco é a diferença de juros entre o Brasil e os demais países, o que estimula investidores estrangeiros a trazerem dinheiro para cá para ter uma rentabilidade maior, mesmo com o risco econômico maior dos mercados emergentes.

Entre os indicadores divulgados nesta quinta-feira, o Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br), considerado prévia do Produto Interno Bruto (PIB) da autoridade monetária, sofreu uma contração de 9,73% no mês de abril ante março. O recuo foi um pouco menor que o projetado pela mediana das expectativas dos economistas compilada no consenso Bloomberg, que apontava para uma queda de 10,2%. Em março, o IBC-Br havia recuado 5,9%.

Já na base anual de comparação, o IBC-Br caiu 15,09% em abril sobre o mesmo mês do ano passado, enquanto os economistas projetavam uma retração de 15,3%. Em março, a queda foi de 1,52%.

Os números de abril refletem o primeiro mês cheio de quarentena no Brasil, visto que as medidas de isolamento social para conter o avanço de coronavírus começaram a ser implementadas no fim de março.

Tensão política

Além do campo puramente econômico, os investidores acompanham com atenção nesta quinta-feira novos desdobramentos da crise política, após a prisão pela Policia Civil de Fabricio Queiroz, policial militar aposentado e ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).

A prisão de Queiroz não é o único assunto da seara política que chama a atenção. O Supremo Tribunal Federal (STF) formou maioria nesta quarta-feira (17) a favor da legalidade do inquérito das fake news, que apura a disseminação de notícias falsas e ameaças a integrantes da corte e se tornou alvo de ataques do presidente.

Cenário externo

No fronte global, a sessão também é marcada pela maior aversão ao risco, em um dia em que os estragos causados pela pandemia entraram no foco dos agentes.

Os Estados Unidos registraram 1,508 milhão de novos pedidos de auxílio-desemprego, na semana encerrada em 6 de junho. O número ficou acima da expectativa do consenso Bloomberg de mercado, de 1,29 milhão.

Na China, também houve o ressurgimento dos casos, o que levou ao cancelamento dos voos em Pequim e o bloqueio de determinados bairros. Os casos no mundo somam 8,42 milhões, com quase 452 mil mortes.

No Reino Unido, como parte de sua estratégia para combater os efeitos da pandemia na região, o Banco da Inglaterra (BoE, pela sigla em inglês) decidiu ampliar seu programa de relaxamento quantitativo (QE) em 100 bilhões de libras, para 745 bilhões de libras (US$ 935,35 bilhões).

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