Tesouro Direto: juros caem e títulos prefixados pagam no máximo 10,80% ao ano, com dados do varejo e Copom no radar

O recuo maior é visto no Tesouro Prefixado 2026, onde os juros chegam a cair 26 pontos-base (0,26 ponto percentual)

Bruna Furlani

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As atenções na cena local estão voltadas para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que anuncia nesta quarta-feira (8) o novo patamar para a Selic no fim do dia. A expectativa, segundo o consenso de mercado, está em uma alta de 1,5 ponto percentual, o que elevaria a taxa básica de juros para 9,25% ao ano.

Por ser a última reunião deste ano, os agentes financeiros estão atentos aos próximos passos do Banco Central, que deve trazer no comunicado de hoje mais sinalizações sobre as expectativas para a inflação, avançando o horizonte até 2023.

Embora praticamente todo o mercado espere que a Selic avance hoje, os títulos públicos negociados no Tesouro Direto apresentam queda na segunda atualização da tarde desta quarta-feira. Após muito tempo, os retornos de todos os prefixados caíram para percentuais a partir de 10,80% ao ano, nesse horário.

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O fenômeno está ligado à leitura dos agentes financeiros de que o BC deve manter o plano de voo nesta reunião – no lugar de impor um ritmo de elevações ainda maior na Selic. Embora a inflação siga pressionada, o mercado passou a ponderar que uma postura mais dura sobre os juros nas próximas reuniões poderia enfraquecer ainda mais a atividade econômica no ano que vem.

Por isso, a autoridade monetária talvez opte por “afrouxar um pouco” a política monetária em 2022 para conter essa desaceleração. O que levaria o BC a um dilema – que só deve ser resolvido no ano que vem, na visão de analistas.

Pesam também sobre os juros, os dados do varejo abaixo do esperado em outubro, que indicam que o setor segue sem mostrar uma recuperação, além da resolução de parte dos desdobramentos em torno da PEC dos Precatórios.

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O recuo maior nas taxas é visto no Tesouro Prefixado 2026, onde os juros chegam a cair 26 pontos-base (0,26 ponto percentual) em relação ao valor registrado ontem. Hoje, na segunda atualização da tarde, o juro oferecido por esse título era de 10,62% ao ano. Nesse mesmo horário, o papel com vencimento em 2031 pagava juros de 10,72% ao ano, contra 10,90% ao ano no início da manhã. Um dia antes, no entanto, o retorno era de 10,94%.

A diferença de retorno entre o papel mais curto (2024) e o mais longo (2031) é de 8 pontos-base, na segunda atualização da tarde. No ápice das discussões em torno do drible ao teto de gastos pelo governo federal, essa distância chegou a ser de 51 pontos-base, refletindo o maior pessimismo com o curto prazo.

Entre os papéis atrelados à inflação, os juros reais do Tesouro IPCA+ 2026 recuavam de 4,96% ao ano, na sessão anterior, para 4,88% ao ano, durante a tarde de hoje. Anteriormente, o papel oferecia retorno de 4,92% ao ano. O Tesouro IPCA + 2040 com juros semestrais, por sua vez, pagava uma rentabilidade real de 5,09% ao ano, abaixo dos 5,13% ao ano, vistos no início do dia e dos 5,17% de ontem (7).

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Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta quarta-feira (8): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Copom, varejo e fluxo cambial

O destaque da agenda econômica está na reunião do Copom. O aumento de 1,5 ponto percentual da Selic é razoável, na visão de Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central e nomeado diretor para o Departamento do Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI).

“Um aperto de 1,5 ponto percentual é grande em qualquer lugar do mundo, menos nos mercados brasileiros, onde estão todos muito ansiosos para a inflação ser controlada”, afirmou o executivo durante evento realizado ontem (7) pela consultoria de risco político global Eurasia Group.

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Para Goldfajn, os bancos centrais devem sempre ser mais serenos do que o mercado financeiro. “O mercado financeiro quer sempre um crescimento muito rápido, mas a economia real não está mudando tão rápido, é preciso ter cuidado”, disse.

Na visão de analistas, o problema maior está na postura que o BC deve adotar no ano que vem. Isso porque se o Banco Central optar por adotar uma linha mais contracionista, o PIB de 2022 tende a se consolidar no campo negativo – ou seja, haveria forte impacto na atividade. Já se preferir manter o tom, as expectativas podem desancorar ainda mais, corroendo a autonomia da autoridade monetária.

Também na agenda econômica, as vendas do comércio varejista tiveram leve variação negativa de 0,1% em outubro ante setembro. Os dados foram informados nesta quarta-feira (8) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já na comparação anual, a queda foi de 7,1%.

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Os números vieram abaixo do esperado. Segundo consenso Refinitiv, a expectativa era de alta de 0,8% das vendas na base mensal e de baixa de 5,60% frente outubro de 2020.

Com esse resultado, o varejo encontra-se 6,4% abaixo do patamar recorde, alcançado em outubro de 2020. Tanto no ano quanto em 12 meses, o setor acumula ganho de 2,6%.

Para analistas do Bradesco BBI, a maior parte dos segmentos do varejo registrou queda em outubro, mas em menor intensidade do que na comparação com setembro. Segundo eles, a inflação juntamente com uma diminuição da renda disponível estão impedindo que a demanda consiga se recuperar.

Outro destaque da agenda local está nos dados do fluxo cambial total de novembro. De acordo com dados divulgados hoje pelo Banco Central, o indicador ficou negativo em US$ 3,398 bilhões no mês passado.

O canal financeiro apresentou entradas líquidas de US$ 3,776 bilhões no período. Isso é resultado de aportes no valor de US$ 41,847 bilhões e de retiradas no total de US$ 38,071 bilhões.

PEC dos Precatórios e MP do Auxílio Brasil

Após uma série de impasses, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, costuraram um acordo para a promulgação de parte da PEC dos Precatórios na tarde desta quarta-feira.

O movimento abre caminho para parte do espaço fiscal previsto com a proposta, de R$ 106,1 bilhões no Orçamento de 2022, segundo cálculos do Ministério da Economia. A medida é considerada peça-chave para o pagamento do Auxílio Brasil em parcelas de R$ 400 já neste mês para as mais de 17 milhões de famílias.

Pelo acordo estabelecido entre Lira e Pacheco, o Congresso Nacional promulgará os pontos em comum aprovados pelas duas casas legislativas para o texto, fazendo com que esses dispositivos já passem a valer.

Por outro lado, as modificações promovidas pelo Senado Federal, que aprovou a PEC na semana passada, deverão ser apreciados pelo plenário da Câmara dos Deputados na próxima terça-feira (14).

Para garantir pagamentos a partir deste mês para milhares de famílias, o governo federal publicou ontem à noite (7), em edição extra do Diário Oficial da União, medida provisória que institui o chamado Benefício Extraordinário, garantindo os R$ 400 às famílias contempladas pelo programa Auxílio Brasil. A medida provisória entra em vigor imediatamente. O benefício não terá caráter continuado.

Cena internacional

Os mercados mundiais operam em alta na tarde desta quarta-feira (8), com exceção da Europa que apresenta movimento misto, em meio à redução das preocupações entre os investidores sobre a gravidade da variante ômicron.

Nos EUA, atenção para as disputas geopolíticas. Ontem (7), Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, conversou com Vladimir Putin, presidente russo, em meio aos temores ocidentais de que a Rússia esteja prestes a invadir sua vizinha do sul.

Destaque também para o acordo feito entre republicanos e democratas para iniciar um processo que visa aumentar o teto da dívida americana. Ontem (7), à noite, a Câmara aprovou por 222 votos favoráveis ante 212 contrários um projeto de lei que abre caminho para que o calote do país seja evitado. Agora, o projeto segue para o Senado, onde legisladores pretendem aprová-lo ainda nesta semana.

Enquanto isso, na Alemanha, Olaf Scholz foi eleito o novo chanceler alemão pelos legisladores, marcando o fim de um período de 16 anos de Angela Merkel no poder. Scholz, membro do partido socialista SPD, vai liderar uma coalizão de três partidos.

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