Tesouro Direto: papel prefixado 2033 perde patamar de 12% ao ano; juros de títulos recuam

Investidores monitoram PIB dos Estados Unidos e decisão do BCE; internamente, mercado está de olho nas eleições

Bruna Furlani Neide Martingo

(Shutterstock)

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A poucos dias da eleição, o mercado segue acompanhando pesquisas de opinião, o que deixa o ambiente mais volátil. A Bolsa registra alta e o dólar opera em baixa em relação ao real nesta quinta-feira (27).

No mercado interno, a manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, que já era esperada, não gerou forte repercussão. A grande novidade do comunicado ficou por conta da citação de riscos fiscais e do horizonte relevante.

“Como quase um consenso de mercado, o Banco Central manteve a taxa Selic em 13,75% ao ano pela segunda reunião consecutiva. De acordo com as análises da XP, que é onde nos baseamos para olhar o cenário, a curva de juros mostra uma redução para o fim de 2023, com ressalvas, pois depende do risco fiscal com que iremos nos deparar”, afirma Gabriel Romanini, assessor da SVN.

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Segundo ele, algo importante para destacar é a desaceleração da inflação, que reforça a premissa de que os juros podem ser reduzidos para níveis menos elevados num futuro próximo.

“Mesmo com tudo isso, não temos um fechamento de curva tão forte por conta do cenário externo, em que os Estados Unidos caminham para um ano de recessão com o FED [Federal Reserve, banco central norte-americano] subindo juros para controlar a inflação. Somado a isso, ainda não conseguimos ver uma projeção bem definida para a Europa por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia”, ressalta o especialista da SVN.

Na seara política, há ainda a queda de braço do presidente Jair Bolsonaro (PL) com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O mercado tem operado com certa apreensão, diante da possibilidade de que haja contestação do resultado, ou tentativa de “bagunçar” o pleito.

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Ontem à noite (26), Alexandre de Moraes negou pedido apresentado pela campanha de Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, para investigar suposto desequilíbrio na inserção de propaganda eleitoral em rádios em favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Moraes alegou que os dados apresentados são inconsistentes, já que não apresentam nenhum detalhamento sobre datas e horários. As emissoras de rádio suspeitas de favorecimento também contestaram os números apresentados pela campanha bolsonarista.

Investidores também aguardam carta aberta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com promessa de combinar responsabilidade fiscal e social. O documento deve ser apresentado ainda hoje, segundo jornal O Globo.

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Lá fora, os mercados estão de olho na alta de juros de 0,75 ponto percentual promovida pelo Banco Central Europeu. Outro destaque está nos dados do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos, que vieram acima do esperado pelo mercado.

No Tesouro Direto, os juros oferecidos tanto pelos títulos prefixados quanto pelos atrelados à inflação registram recuo nas taxas nesta tarde, em sua maioria. Na parte da manhã, as taxas operavam de forma mista.

Às 15h25 (horário de Brasília), o juro oferecido pelo Tesouro Prefixado 2025 recuava de 11,94% ao ano, na sessão anterior, para 11,83% ao ano. Da mesma forma, o papel com vencimento em 2033 e que possui cupom semestral via o retorno cair de 12,14% ao ano para 11,99% ao ano.

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Todos os papéis prefixados ofereciam retorno abaixo de 12% ao ano, na última atualização da tarde. Com isso, o título prefixado com vencimento em 2033 e cupom semestral perdeu o patamar de 12% ao ano, que o produto mantinha desde a última segunda-feira (24).

Papéis atrelados à inflação, por sua vez, registravam queda nos juros. O maior retorno real era oferecido pelo Tesouro IPCA+2055, no valor de 5,81% ao ano, também às 15h25. O valor está em linha com os 5,82% da véspera (26).

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (27): 

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Fonte: Tesouro Direto

Fonte: Tesouro Direto

PIB dos EUA e BCE

Na cena externa, investidores monitoram novos dados de atividade dos Estados Unidos. Segundo estimativa divulgada nesta quinta-feira (27) pelo Departamento do Comércio, o Produto Interno Bruto (PIB) do País aumentou a uma taxa anual de 2,6% no terceiro trimestre de 2022, em contraste com uma queda de 0,6% no segundo trimestre.

O dado veio acima do esperado pelo mercado, uma vez que o consenso Refinitiv apontava para alta de 2,4% no período. Segundo o departamento, o aumento no terceiro trimestre refletiu principalmente altas nas exportações e gastos do consumidor que foram parcialmente compensados ​​por uma diminuição no investimento em habitação.

Apesar do resultado acima do esperado, os rendimentos de títulos americanos (Treasuries) operavam mais um dia em queda. Por volta das 10h40 (horário de Brasília), a taxa do papel de dez anos recuava de 4,015%, na sessão anterior, para 3,987%.

Também no cenário internacional, o Banco Central Europeu (BCE) elevou novamente suas taxas de juros em 75 pontos-base (0,75 ponto percentual) e disse esperar aumentar ainda mais as taxas para assegurar o regresso da inflação à meta de médio prazo de 2%. “A inflação permanece muito alta e permanecerá acima da meta por um longo período”, alertou o comitê.

A taxa de refinanciamento subiu de 1,25% para 2%; a taxa sobre depósitos de 0,75% para 1,5%; e a taxa sobre empréstimos marginais de 1,50% para 2,25%.

O comunicado destacou que, em setembro, a inflação na zona do euro atingiu 9,9%. Nos últimos meses, a alta dos preços de energia e alimentos e os gargalos na oferta e a recuperação da demanda pós-pandemia levaram a um aumento das pressões sobre os preços e ao aumento da inflação.

Copom

Na cena doméstica, o maior peso dado a 2024 no horizonte relevante para a política monetária e o alerta sobre a maior sensibilidade dos mercados aos fundamentos fiscais, inclusive em países avançados, foram as duas maiores mudanças no comunicado do Copom que chamaram a atenção dos analistas.

Em entrevista ao canal do InfoMoney, a economista chefe da Armor, Andrea Bastos Danico, disse acreditar que o Banco Central aproveitou a crise nos mercados de câmbio e dívida no Reino Unido – após um polêmico plano de corte de gastos – para passar um recado para o Brasil, que vive um período eleitoral que mostra riscos de expansão fiscal. Para ela, foi uma espécie de aviso: “não faz igual, olha as consequências”.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, concorda com essa visão. “Mostra um BC também vigilante com a política fiscal de um novo governo. Em virtude desse comentário dá para considerar o comunicado ligeiramente hawkish [inclinado ao aperto monetário]”, afirmou.

Inserções e assédio eleitoral

Já na cena política, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, convocou a imprensa, na noite desta quarta-feira (26), para criticar a decisão do ministro Alexandre de Moraes de barrar um pedido da campanha do mandatário para investigar um suposto desequilíbrio na transmissão de peças publicitárias dos candidatos em inserções de rádio.

Em pronunciamento no Palácio da Alvorada, Bolsonaro garantiu que foram apresentadas provas, chamou de “incompreensível” a decisão de Moraes e acusou o magistrado de “matar o processo no peito”. O mandatário disse que apresentará recurso.

Nas eleições deste ano explodiu o número de denúncias de assédio eleitoral, computadas pelo MPT (Ministério Público do Trabalho), órgão responsável por investigar esse tipo de ocorrência.

Entre os dias três e 26 de outubro, já sob o período do segundo turno das eleições, o MPT registra 1.572 denúncias de assédio eleitoral em 1.200 empresas no país. O número é 740% maior do que foi contabilizado nos dois turnos das eleições de 2018.