Tesouro Direto: com juros em nível recorde, títulos públicos desvalorizam mais de 12% no ano; entenda

Disparada das taxas diante de tramitação da PEC dos Auxílios afeta preços devido à marcação a mercado dos papéis

Bruna Furlani

(Shutterstock)

Publicidade

Com as atenções voltadas para a corrida eleitoral, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios, apelidada de “PEC das bondades”, balançou o mercado de renda fixa, ao fazer as taxas dos títulos públicos dispararem e alcançarem níveis históricos.

A piora fiscal prevista com o texto que propõe gastos além do teto estimados em mais de R$ 41 bilhões pesou nas curvas de juros e papéis atrelados à inflação viram a remuneração subir para além dos 6%. O projeto cria programas sociais e amplia benefícios já existentes, e institui um estado de emergência até o fim do ano.

No caso do Tesouro IPCA + 2045, por exemplo, o retorno real oferecido no começo da manhã desta quinta-feira (7) chegou a 6,03% ao ano, valor recorde para o papel, que passou a ser negociado em fevereiro de 2017.

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

CDB 230% do CDI

Destrave o seu acesso ao investimento que rende mais que o dobro da poupança e ganhe um presente exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Leia mais:
PEC dos Auxílios é aprovada em comissão especial da Câmara; texto vai a plenário

Apesar de o juro oferecido ter recuado um pouco durante a tarde, os retornos seguem próximos do recorde entregue pelo título.

Com a subida das taxas, o preço dos papéis naturalmente passou por uma desvalorização e agora acumula uma queda de mais de 12% no ano, caso do Tesouro IPCA+2045. Os dados são do Tesouro Direto e vão até esta quinta-feira (7).

Continua depois da publicidade

Títulos Vencimento Últimos 30 dias Mês anterior No ano 12 meses Compra Venda
Tesouro Prefixado 01/01/2023 0,88 0,85 4,93 4,29 13,84
Tesouro Prefixado 01/07/2024 0,08 -0,01 0,93 -0,96 13,35
Tesouro Prefixado 01/01/2025 -0,14 -0,15 0,03 -2,06 12,93 13,05
Tesouro Prefixado 01/01/2026 -0,72 -0,67 -2,37 -4,98 13
Tesouro Prefixado 01/01/2029 -2,87 -2,49 13,09 13,21
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2023 0,88 0,85 5,04 4,61 13,85
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2025 0,16 0,13 0,8 -0,94 13,1
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2027 -0,71 -0,73 -2,3 -4,74 13,13
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2029 -1,66 -1,47 -4,92 -8,16 13,29
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2031 -2,28 -1,58 -6,6 -9,79 13,31
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2033 -2,45 -1,89 13,2 13,32
Tesouro Selic 01/03/2023 1,02 1,01 5,73 9,03 0,04
Tesouro Selic 01/09/2024 1,05 1,04 5,79 9,42 0,09
Tesouro Selic 01/03/2025 1,05 1,04 5,86 9,51 0,1 0,11
Tesouro Selic 01/03/2027 1,05 1,06 6,21 9,81 0,16 0,17
Tesouro IGPM+ com Juros Semestrais 01/01/2031 -1,83 -0,17 5,43 2,78 6,07
Tesouro IPCA+ 15/08/2024 -0,85 0,32 5,52 8,12 6,65
Tesouro IPCA+ 15/08/2026 -0,89 0,13 4,57 6,4 5,86 5,98
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 -3,97 -2,25 -3,58 -9,06 6,03 6,15
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 -7,69 -4,7 -12,1 -24,99 6,03 6,15
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2024 -0,81 0,33 5,75 8,72 6,71
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2026 -0,83 0,17 4,96 7,34 6,05
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2030 -2,17 -0,34 2,43 3,28 6,05
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2032 -2,03 -0,51 5,95 6,07
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2035 -2,8 -1,23 -0,1 -2,2 6,14
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2040 -3,72 -2,03 -0,86 -4,14 6,04 6,16
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2045 -4,25 -2,45 -1,63 -6,88 6,24
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2050 -4,4 -2,58 -2,68 -8,77 6,26
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2055 -4,78 -2,85 -3,78 -10,04 6,14 6,26

Fonte: Tesouro Direto. Considera a posição em 07/07/2022. Alguns papéis começaram a ser negociados ao longo do semestre e, portanto, não possuem histórico de 6 ou 12 meses.

Hoje pela manhã, o preço de compra desse título, por exemplo, estava em R$ 1.052,43, contra R$ 1.150,16 registrados na primeira sessão deste ano.

O fenômeno em que a elevação das taxas tem como consequência a queda nos preços – e, portanto, a desvalorização dos papéis – está relacionado à chamada marcação a mercado.

Os juros oferecidos por um título de renda fixa têm uma relação inversa com o seu valor de negociação pelos investidores. Quando as taxas sobem, como foi o caso agora, seu preço tende a cair. O contrário também é verdadeiro.

Leia mais:
Retorno de CDBs avança e prefixados pagam até 15,50%, enquanto pós-fixados oferecem 117% do CDI

Outros papéis atrelados à inflação também sofreram com a marcação a mercado. Como exemplo, há o Tesouro IPCA + 2055, que acumula uma queda no preço do papel de quase 4% no ano. Apenas nos últimos 30 dias, o recuo chegou a quase 5%.

Na abertura dos negócios desta quinta-feira (7), o juro real oferecido pelo Tesouro IPCA + 2055 chegou a 6,14%, percentual histórico para esse título que ficou disponível a partir de fevereiro de 2020.

Foi registrado recorde também entre alguns prefixados que viram o juro subir para até 13,20% ao ano, na primeira atualização desta quinta-feira (7), como o Tesouro Prefixado 2033. Nos últimos 30 dias, o preço desse título recuou pouco mais de 2%.

Embora o investidor tenha a impressão de que está perdendo dinheiro porque o preço do papel diminuiu, só haverá perda de fato caso ele opte por realizar a venda antecipada do título. Ou seja: vendê-lo antes do vencimento estipulado no dia em que o papel foi adquirido.

Alocação baixa em prefixados

Ainda que os juros tenham recuado um pouco ao longo da tarde desta quinta-feira, a expectativa é que o cenário siga volátil e que as taxas se mantenham elevadas no curto e médio prazos. Isto é: a tendência é de que o preço dos títulos públicos continue a recuar.

Em relatório, Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, e Pietro Consolaro, analista de renda fixa da casa, destacaram que o ambiente inflacionário deve continuar desafiador, embora a alta de preços possa ter um choque negativo no curto prazo com as medidas da PEC dos Combustíveis.

Leia mais:
• Tesouro Direto: juros de prefixados de prazo mais longo chegam a 13,20% e alcançam nova marca histórica

O texto aprovado semanas atrás pelo Congresso definiu que combustíveis — assim como energia, transportes coletivos, gás natural e comunicações — são bens essenciais e indispensáveis. Com isso, os governos estaduais não podem cobrar o ICMS sobre estes itens acima do teto estabelecido pelo texto, de 17%, ou 18%, além de outros impostos.

Mesmo com a aprovação desse projeto, a especialista da XP acredita que a inflação deve se manter acima da meta do Banco Central nos próximos dois anos, diante de incertezas domésticas e externas. A expectativa da casa é que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche o ano em 7%. Já para 2023, as projeções apontam que a inflação oficial deve terminar em 5%.

Segundo projeções da XP, a Selic deve encerrar este ano em 13,75% ao ano e terminar 2023 em 8,75% ao ano. Nesse sentido, diz, a alocação em prefixados deve seguir baixa, por enquanto, ainda que as taxas de alguns ativos estejam em suas máximas.

O motivo é que com a expectativa de subida da Selic, a tendência é de que o juro oferecido pelos papéis prefixados fique defasado, porque o investidor “trava” a taxa na hora que adquire o papel.

Por outro lado, títulos atrelados à inflação (Tesouro IPCA+) e pós-fixados atrelados à Selic (Tesouro Selic) devem seguir como os preferidos. Em documento enviado a clientes, a analista da Rico Investimentos Paula Zogbi afirma que os papéis indexados ao IPCA podem ser bons trunfos para proteger o patrimônio e o poder de compra, já que uma parte do retorno acompanha a inflação.

Já papéis atrelados à Selic podem se beneficiar da alta dos juros e elevar a rentabilidade da sua reserva de emergência, ou caixa, que é aquele dinheiro que o investidor deve investir em aplicações que permitem resgates rápidos, se houver algum imprevisto.