Tesouro Direto: aumento das taxas abre oportunidades em papéis prefixados e atrelados à inflação

Taxas pagas por títulos públicos prefixados chegaram à casa dos 9% ao ano, enquanto papéis indexados à inflação alcançaram taxas de 5% a.a.

Mariana Zonta d'Ávila Beatriz Cutait

(Pixabay)

SÃO PAULO – Em um cenário de crise, quem tem sangue frio e consegue analisar com racionalidade os preços dos ativos e manter o foco no longo prazo, pode sair mais forte do que entrou. Ainda que a realização de perdas em momentos como o atual seja tentadora para parte dos investidores, receosos de que a extensão dos problemas seja ainda maior, tem sempre um grupo com mais apetite a risco, atento ao que comprar em baixa.

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Nesta seara, para quem tem recurso em caixa, não é só a Bolsa que pode estar atrativa. Na renda fixa, que há algum tempo vinha deixando a desejar por conta da queda da taxa Selic, o estresse dos mercados levou a uma forte reprecificação de riscos.

As taxas pagas por títulos públicos com retornos nominais (sem descontar a inflação) chegaram à casa dos 9% ao ano, enquanto papéis com rendimentos indexados à inflação alcançaram juros reais de 5% ao ano.

Destaque para o papel Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2031, com um prêmio que chegou a 9,57% neste mês, o mais alto desde dezembro de 2018, quando o título com vencimento em 2029 pagou 9,61%.

No grupo dos pós-fixados, o papel Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 atingiu uma taxa máxima de 5,17% ao ano em março, de volta ao patamar de novembro de 2018 (5,20%), registrado pelo título de mais longo vencimento na época.

Luiz Nazareth, diretor de investimentos da Azimut Brasil Wealth Management, conta que a gestora de patrimônio tem orientado clientes com recursos disponíveis em caixa ou com possibilidade de fazer novos aportes a buscarem papéis com juros reais e prefixados com visão de médio e longo prazo. Ainda que a estabilização da curva de juros futuros demore, o carrego das posições até o vencimento se coloca como atrativo.

A preferência de Nazareth recai sobre papéis com retornos atrelados à inflação com vencimentos entre 2026 e 2030, mas papéis prefixados com taxas próximas de 9% ao ano também podem fazer sentido ao portfólio, especialmente em meio ao cenário de uma inflação benigna.

Desde o início, a diretriz da Azimut tem sido enfatizar a necessidade de caixa dos investidores. A orientação ainda segue de manutenção das posições principalmente na parcela de risco direcional, em fundos multimercados e ações.

“Dada a irracionalidade dos mercados e a perda de parâmetros de preços, se fizermos qualquer movimento, ele poderá cristalizar um prejuízo que dificilmente conseguimos recuperar”, diz o diretor, enfatizando a falta de visibilidade.

Rogério Xavier, fundador da gestora SPX, chamou atenção em live realizada nesta quinta-feira (26) para as taxas de dois dígitos de títulos prefixados de cinco ou dez anos, assim como para o juro real de 4,5% visto recentemente nos papéis indexados à inflação. Para aqueles com caixa, Xavier assinalou que estaria olhando mais para a parte de renda fixa do que de renda variável neste momento.

“Embora a alavancagem da renda variável seja maior, hoje o mundo oferece retornos muito atrativos na renda fixa”, observou o gestor, ressaltando que enxerga muita coisa boa no mercado de crédito privado.

Otávio Vieira, sócio gestor da Taler, conta que a gestora de patrimônio também não tem recomendado aos clientes assumirem novos riscos na carteira neste momento. A casa tem sugerido a alocação em papéis de renda fixa, como Tesouro IPCA+ com vencimentos entre 2025 e 2028, com juros reais a partir de 4% ao ano.

“A aplicação e o momento de entrada são excelentes”, afirma Flavio Byron, sócio do escritório Guelt Investimentos. Ele lembra que há menos de um mês, no dia 6 de março, os papéis atrelados à inflação de vencimentos mais curtos pagavam juros anuais em torno de 2,5% e hoje os retornos estão na faixa dos 4% ao ano.

Independentemente do objetivo e do prazo de investimento, Byron destaca que há oportunidade para todos. “Tem um cardápio para todos os gostos. Quem tem menos sensibilidade À volatilidade, vai na parte curta da curva de juros; quem gosta de longo prazo e não se importa com a oscilação das taxas, vai nas mais longas”, diz.

A opinião é compartilhada por Carlo Moratelli, diretor da gestora de patrimônio More Invest, que vê os títulos públicos como uma ótima alternativa no cenário atual. “Se tem juro de sete anos pagando em torno de 9%, por que se arriscar na Bolsa?”, questiona.

Inflação benigna incentiva

Um cenário de inflação baixa e possibilidade de novos cortes da taxa básica de juros estimula a preferência de algumas gestoras por títulos prefixado, com espaço para valorização mais no curto prazo.

“Estamos aumentando o risco em juro nominal na parte curta e média da curva de juros”, afirmou Eduardo Carvalho, sócio fundador e gestor da Pacífico Gestão de Recursos, durante teleconferência realizada na terça-feira (24) pelo escritório de agentes autônomos InvestSmart.

Moratelli, da More Invest, passou a incluir nesta semana títulos prefixados na carteira da gestora de patrimônio, com preferência por papéis com vencimentos curtos e médios, até 2027.

Além dos retornos atrativos, em torno de 9% ao ano, o gestor destaca o risco de crédito praticamente nulo do Tesouro Nacional, bem como a alta liquidez dos títulos.

Caso o investidor decida vender o papel antes do vencimento, contudo, ele deve estar ciente de que os títulos estarão sujeitos às taxas do mercado no dia – o que pode garantir ganhos, no caso de queda das taxas, ou perdas, caso os juros subam. Há ainda muita volatilidade, com uma série de interrupções no Tesouro Direto desde o início da crise.

Um investidor mais conservador que não quiser ficar exposto a um papel mais longo por conta das oscilações até o vencimento, diz Moratelli, pode optar pelo Tesouro Prefixado 2023, que também paga um juro interessante, em torno de 7% ao ano.

Títulos atrelados à inflação são igualmente atraentes nesse momento, defende Damont Carvalho, gestor de fundos macro da Claritas Investimentos, por serem mais defensivos. São interessantes para os investidores que queiram manter o investimento na carteira até o vencimento.

No portfólio da Claritas, no entanto, as principais apostas de renda fixa atualmente são em papéis prefixados com vencimento no curto prazo. A intenção, de acordo com o gestor, é se beneficiar dos prováveis novos cortes de juros que o Banco Central deve ter de fazer – o que tende a valorizar títulos comprados quando as taxas ainda estavam mais altas. “Eles têm um retorno mais imediato”, sugere.

Na Verde Asset, Luis Parreiras, gestor das estratégias multimercado e previdência, contou em live realizada nesta sexta-feira (27) que tem visto bons prêmios nos títulos públicos.

Em seu fundo Verde AM Icatu Previdência FIM, a gestora possui posição comprada em NTN-Bs (Tesouro IPCA+) no meio da curva de juros, com prazos de seis a dez anos, caso dos papéis com vencimentos entre 2026 e 2028.

Há ainda posições aplicadas em juro nominal mais curto, como 2022 e 2023, exposição que o fundo carrega já há algum tempo e que, segundo Parreiras, tem se mostrado ganhadora. “O mercado de renda fixa tem muito prêmio de risco em qualquer ponto da curva [de juro] para além de seis meses”, afirma.

Alocação gradual

Por mais que haja oportunidades tanto em indexados à inflação quanto prefixados, a alocação não deve ser feita toda de uma vez, mas de forma gradual, dado o cenário ainda incerto, destaca Ana Paola Guetta, sócia-fundadora do escritório Guelt Investments.

“Se a crise se aprofundar, essas taxas podem abrir mais. Então, para entrar nesse nível que está, eu montaria a posição aos poucos, mas não deixaria de surfar essa oportunidade”, diz. Segundo ela, o investidor pode montar metade da posição para aproveitar as taxas atuais e esperar um pouco mais para comprar o restante. “É uma oportunidade ímpar.”

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