Taxas dos títulos públicos negociados no Tesouro Direto passam a operar sem direção única na tarde desta 2ª feira, com aumento da Selic e preocupações fiscais no radar

Investidores monitoram ainda elevação das expectativas para o avanço do IPCA neste ano, além de desdobramentos sobre precatórios e quebra do teto dos gastos

Bruna Furlani

(Getty Images)

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SÃO PAULO – Em semana de decisão de política monetária, em meio a novos aumentos das previsões para a inflação e com preocupações latentes sobre as contas públicas brasileiras, os prêmios pagos pelos títulos públicos atualmente disponíveis para compra negociados via Tesouro Direto passaram a operar sem direção única na tarde desta segunda-feira (2), após a alta vista no começo das negociações.

Entre os títulos com retornos prefixados, o juro do papel com vencimento em 2024 caía de 8,78% no começo da sessão para 8,74% após o almoço — mesmo assim, o prêmio pago pelo papel seguia acima dos 8,71% registrados na tarde de sexta-feira (30). Da mesma forma, o título prefixado com vencimento em 2026 recuava de 9,08%, no início desta segunda-feira, para 9,06%, durante a tarde. Anteriormente, o mesmo título pagava um prêmio de 9,04%.

O título prefixado com vencimento em 2031 e pagamento de juros semestrais, por sua vez, pagava um prêmio de 9,53% na terceira atualização do dia, contra 9,51% na abertura dos negócios. Na sessão anterior, o mesmo papel pagava uma taxa de 9,50%.

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No grupo de papéis com retornos atrelados à inflação, o juro real pago pelo título Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026 recuava de 4,05% no começo da manhã para 4,00% durante a tarde, mesmo valor visto na sessão de sexta-feira. No mesmo horário, os prêmios dos títulos Tesouro IPCA+ com vencimentos em 2035 e 2045 pagavam retorno real de 4,27%, abaixo dos 4,30% pagos na abertura da sessão. Anteriormente, o mesmo título oferecia uma rentabilidade real de 4,29%.

Entre os títulos que acompanham a inflação com pagamento de juros semestrais, o Tesouro IPCA+ 2055 oferecia retorno real de 4,47% durante a tarde, contra 4,48% no início dos negócios, e abaixo dos 4,50% da sessão de sexta-feira.

Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto nesta segunda-feira (2):

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Taxas Tesouro
Fonte: Tesouro Direto

Radar local

Destaque do início do mês, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne terça e quarta-feira para definir o novo rumo da taxa básica de juros. Segundo o relatório Focus desta semana, o mercado financeiro estima alta de um ponto percentual da Selic, de 4,25% para 5,25% ao ano. Para o encontro de setembro, a previsão para a Selic subiu de 6,00% para 6,25%, apontando para nova alta de um ponto.

A expectativa é que a taxa básica de juros encerre 2021 em 7%, se mantendo neste patamar até dezembro de 2022 – sem alterações em relação ao relatório da semana passada.

E as projeções para a inflação seguem em alta. Pela 17ª semana consecutiva, a estimativa para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu, desta vez de 6,56% para 6,79%. A projeção mostra um distanciamento ainda maior da meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 3,75% para 2021.

A previsão para a inflação de 2022 ficou praticamente igual, ao passar de 3,80% para 3,81%.

De olho nas pressões inflacionárias neste ano e no próximo e com estimativas de que a economia deve crescer além do que espera o Banco Central neste ano, alguns analistas já estão revisando para cima as expectativas de alta para a taxa básica de juros ao fim de 2021.

Em relatório enviado a clientes, Alexandre de Azara e Fabio Ramos, analistas do banco UBS aumentaram a projeção para a taxa básica de juros ao fim deste ano, de 6,5% para 8%, acima, portanto, do que consideram um nível neutro, em que a taxa de juros nem estimula nem contrai a economia.

Leia mais:
Em semana de decisão de Copom, mercado financeiro eleva projeção para o IPCA em 2021 pela 17ª semana seguida, para 6,79%

Para que o juro chegue a esse patamar até o fim do ano, ambos projetam que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve elevar a Selic em um ponto percentual no encontro que ocorre entre amanhã (03) e quarta-feira (04), para 5,25%. Na sequência, seriam feitos mais dois aumentos de um ponto percentual e um último de 0,75 ponto percentual.

Outra casa que também acredita que o Banco Central deve manter aberta a possibilidade de ir além do juro neutro, que está por volta de 6,5% ao ano, é a XP. Às vésperas do primeiro dia de reunião do Copom, a equipe de análise afirmou, em relatório, que o comitê deve reforçar a mensagem de que fará o que for necessário para trazer a inflação de volta à trajetória das metas.

A sinalização do ajuste, porém, agora deve ter o tom de que vai ser feita “ao redor do juro neutro”, em vez de colocar apenas patamar considerado neutro. O objetivo, segundo os analistas da XP, é que o BC ganhe certa flexibilidade diante do nível elevado de incerteza.

Ainda na agenda local, o mercado acompanha a fala de Bruno Bianco, secretário executivo do Ministério do Trabalho e Previdência. Em evento organizado pelo jornal O Globo, Bianco voltou a citar abertura líquida de mais de 1,5 milhão de vagas com carteira assinada no primeiro semestre de 2021 para argumentar que o mercado de trabalho está de fato se recuperando.

“O emprego tem voltado e voltado em números expressivos. Todos os setores e região estão com saldo positivo. Não entendo por que as pessoas dizem ainda que o emprego não voltou”, afirmou o secretário.

As atenções também estão voltadas para as ameaças de um possível descumprimento do teto dos gastos. Na sexta-feira (31), o presidente Jair Bolsonaro defendeu o endividamento do governo para conseguir financiar o reajuste do Bolsa Família.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, contudo, reforçou no mesmo dia que o governo não descumprirá a regra do teto de gastos por causa do Bolsa Família, cujo valor será reajustado segundo anúncio já feito pelo presidente Jair Bolsonaro. Na semana passada, o presidente anunciou que o valor médio do Bolsa Família será revisto para acima de R$ 300, dos atuais R$ 192.

Outra preocupação do mercado está nos precatórios. O governo discute uma PEC para alterar o fluxo de pagamento de precatórios devidos pela União, após identificar que esses gastos chegarão a quase R$ 90 bilhões em 2022, bem acima dos já expressivos R$ 54,75 bilhões programados para este ano.

Em evento no Rio, na última sexta-feira, Guedes referiu-se à despesa como um “meteoro” que vem de “outros poderes”.

A pressão desse gasto ameaça o espaço reservado no Orçamento para a reformulação do Bolsa Família e tem encorajado integrantes da ala política a defenderem mudanças no próprio teto de gastos.

No fim de semana, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou nota com uma crítica à possibilidade de mudança na regra de pagamento de precatórios devidos pela União. A medida está em estudo no governo, como antecipou o Estadão/Broadcast. A OAB diz que a medida é uma tentativa de institucionalização do “calote” para fins eleitoreiros.

Cenário internacional

O foco dos investidores estrangeiros nesta abertura de mês esteve na divulgação do índice do gerente de compras (PMI na sigla em inglês) Caixin/Markit relativo a julho na China, que marcou 50,3 pontos, abaixo da expectativa de analistas ouvidos pela agência internacional de notícias Reuters, de 51,1 pontos. Em junho o indicador havia marcado 51,3 pontos. Qualquer valor acima de 50 indica expansão e abaixo indica retração.

Já nos Estados Unidos, segundo a agência Reuters, o Senado tentará finalizar nesta semana o acordo que prevê investimentos em infraestrutura de US$ 1 trilhão, que levará melhorias em estradas, pontes e sistemas de trânsito de grande porte. De acordo com o veículo, o acordo poderá dar uma vitória bipartidária rara ao presidente Joe Biden.

Também nos Estados Unidos, a IHS Markit divulgou que o índice gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria dos Estados Unidos avançou de 62,1, em junho, a 63,4, na leitura final de julho.

Analistas ouvidos pelo Wall Street Journal previam crescimento menor, a 63,1 pontos. De acordo com a consultoria, a capacidade do setor tem sido afetada por problemas na cadeia de produção, como atrasos em entregas.

Outro dado apresentado foi referente à atividade industrial nos Estados Unidos. Segundo o Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), o índice de atividade industrial recuou de 60,6, em junho, a 59,5, em julho. Analistas ouvidos pelo Wall Street Journal previam alta a 60,8.

Na zona do euro, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria da zona do euro contraiu de 63,4 pontos, em junho, a 62,8 pontos, na leitura final de julho, de acordo com a IHS Markit. Analistas ouvidos pelo Wall Street Journal previam um resultado de 62,6 pontos.

Segundo o relatório, com exceção da Alemanha, houve recuo no PMI da indústria da região em julho. De acordo com a IHS Markit, o resultado mostra que o setor industrial e fornecedores enfrentam dificuldades para atender à demanda, o que tem elevado os preços.

Balanço do Tesouro em julho

Após quedas de preços que chegaram aos 6,50% em junho, os títulos públicos negociados via Tesouro Direto atualmente disponíveis para compra fecharam julho com variações pouco expressivas e sem uma direção única.

A maior baixa dos preços foi de 1,04%, do Tesouro IPCA+ com vencimento em 2026, e a maior alta, de 0,39%, partiu do Tesouro Prefixado com juros semestrais 2031.

Todos os papéis que estão disponíveis para novos investimentos no Tesouro Direto mostram queda dos preços no ano e perdem, portanto, do Ibovespa, com alta de 2,34%, e do CDI, com variação de 1,64%.

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