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SÃO PAULO – O debate em torno da aprovação do Orçamento do governo para 2021, que ocorre em meio ao recrudescimento da pandemia, a uma retomada econômica mais lenta e com pressão inflacionária, faz com que as principais referências no universo das gestoras de recursos do país se mostrem cada vez mais reticentes com o balanço entre risco e retorno do mercado local.
Luis Stuhlberger, da Verde Asset, e Márcio Appel, da Adam, já haviam sinalizado recentemente que têm preferido se voltar para as oportunidades em ativos globais, frente a todas as incertezas embutidas no risco do mercado brasileiro.
Na mesma linha, a SPX, gestora de Rogério Xavier que já é conhecida pelo tom usualmente mais pessimista, reforçou nesta segunda-feira o coro negativo com as perspectivas para o país e, por consequência, para os ativos locais.
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“No Brasil, enquanto a pandemia avança com um trágico aumento do número de casos e de óbitos, levando ao colapso do sistema de saúde, nossos governantes seguem batendo cabeça no que fazer para combater esse desastre sanitário”, diz a gestora em carta referente ao desempenho do fundo multimercado Nimitz no mês de março.
Diante da deterioração do quadro doméstico, a SPX reduziu a alocação comprada na bolsa brasileira, embora siga posicionada nos setores de consumo, mineração e serviços financeiros.
No mercado de juros, a gestora avalia que o cenário atual é compatível com curvas mais inclinadas, especialmente em países que exageraram na dose de estímulo fiscal e monetário.
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Os gestores seguem com posições compradas em inflação implícita, que se beneficiam da alta na expectativa de inflação do mercado embutida nos juros, e aplicada (que ganha com a queda) em juros reais na parte intermediária da curva dos títulos Tesouro IPCA+.
Já no fronte internacional, a SPX assinala que a nova estratégia fiscal e monetária dos Estados Unidos deve resultar em um equilíbrio de inflação e taxas de juros mais elevadas no futuro.
“O mundo não parece estar preparado para isso”, diz a gestora, que ressalta também ter aumentado a alocação comprada em Europa, dentro da temática de recuperação econômica.
O velho continente também foi lembrado hoje pelos gestores do fundo Verde, que, apesar dos tropeços, ainda está, na avaliação dos especialistas, alguns meses atrás no processo de recuperação da economia, e dos preços no mercado.
Nos Estados Unidos, a opção da SPX foi por reduzir a exposição direcional e aumentar a posição relativa entre empresas que se beneficiam e se prejudicam da proposta de aumento de impostos corporativos. do governo Biden para financiar o pacote de US$ 2,2 trilhões no setor de infraestrutura.
Ainda dentro do risco global do portfólio, a SPX carrega uma posição comprada em dólar contra o euro, e em commodities agrícolas (grãos), metais industriais e energia.
Em março, o fundo multimercado Nimitz rendeu 2,57%, contra 0,20% do CDI. No primeiro trimestre, os ganhos foram de 7,39%, ante 0,48% do benchmark.
Políticas limitadas
Na carta, a gestora destaca ainda a situação frágil das contas públicas do país, bem como a baixa margem de manobra por parte do Executivo neste momento.
O ajuste das contas públicas exige um aumento de impostos e um controle de gastos duro que dificilmente será feito pelo atual governo, na visão da SPX. “O orçamento foi aprovado com despesas obrigatórias grosseiramente subestimadas, uma solução medíocre para que o teto fosse respeitado.”
Frente a tantas escolhas impopulares e sem perspectiva clara de crescimento sustentável, fica evidente para a gestora que a inflação mais elevada terá papel fundamental no processo de equilíbrio da dívida brasileira.
A SPX estima uma inflação anual próxima de 8% nas próximas divulgações, o que, em tese, obrigaria o Banco Central a adotar uma política mais restritiva para controlar a dinâmica inflacionária.
O endividamento do governo brasileiro atingiu, contudo, níveis muito elevados e a política monetária se encontra limitada pela deterioração fiscal, já que o país não possui capacidade de pagar juros reais tão altos como no passado, diz a carta da SPX.
“Um ambiente de aceleração da inflação global e aperto das condições financeiras pode ser o estopim que faltava para uma crise que o Brasil precisará enfrentar com ferramentas fiscais e monetárias muito limitadas”, escrevem os gestores.