Biden anuncia primeira parte de megapacote de mais de US$ 2 trilhões em infraestrutura; veja impactos na Bolsa

Plano deve ser financiado via aumento de impostos; analistas dizem que ações brasileiras ligadas à mineração podem se beneficiar

Rodrigo Tolotti Priscila Yazbek

(Drew Angerer/Getty Images)

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SÃO PAULO – O presidente dos Estados Unidos Joe Biden anunciou, na tarde desta quarta-feira (31), um pacote de infraestrutura de US$ 2,2 trilhões focado em ajudar o país a enfrentar os impactos da pandemia do coronavírus na economia. A expectativa é de que essa seja apenas a primeira parte de um plano maior, que ainda terá investimentos voltados para a área de saúde.

Os gastos de mais de US$ 2 trilhões devem ser despendidos ao longo de oito anos. Para financiar o projeto, a intenção do democrata é elevar o imposto sobre empresas dos atuais 21% para 28%.

Além da elevação de impostos, que será a principal fonte de recursos, Biden também pretende adotar medidas destinadas a impedir o offshoring de lucros – o deslocamento dos lucros para outros países -, incentivando as empresas a manter suas operações nos Estados Unidos e, consequentemente, elevando a arrecadação em território nacional.

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Essas medidas ajudarão o governo a pagar o pacote em 15 anos.

“[Esse pacote] vai investir cerca de 1% do PIB por ano ao longo de oito anos para atualizar a infraestrutura de nosso país, revitalizar a manufatura, investir em pesquisa básica e ciência, fortalecer cadeias de abastecimento e solidificar nossa infraestrutura de atendimento”, disse a Casa Branca em comunicado pouco antes do anúncio.

Biden, que fez o anúncio na base de um sindicato em Pittsburgh, disse que o pacote é uma forma de criar “a economia mais forte, mais resistente e inovadora do mundo”, além de “milhões de empregos bem remunerados”.

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O presidente americano disse que trata-se de um “investimento único em uma geração”, que irá modernizar 20 mil milhas de rodovias e ruas, reparar 10 mil pontes que estão precisando de melhorias urgentes e também substituir 100% das tubulações e linhas de serviço do país.

Entre os pontos principais do projeto de Biden estão:

A proposta prevê ainda a construção de uma rede nacional de 500 mil carregadores de veículos elétricos até 2030 e a substituição de 50 mil veículos de transporte público a diesel. O governo também espera construir ou revitalizar 500 mil casas para americanos de baixa e média renda.

A Casa Branca quer garantir que a revitalização do transporte público chegue às comunidades que sofrem preconceito racial e foram prejudicadas por projetos anteriores, como rodovias construídas em bairros de alta renda. Biden também tem como objetivo concentrar esforços para tornar casas, escolas, transporte e redes de serviços públicos mais resilientes em comunidades marginalizadas com maior probabilidade de suportar o impacto de eventos climáticos severos.

Outro pacote, de cerca de US$ 1 trilhão, focado em medidas sociais, deve ser anunciado por Biden em abril.

Ainda que os republicanos mostrem resistência ao novo pacote, os democratas esperam aprová-lo na Câmara até 4 de julho e no Senado até agosto. Conforme lembram analistas, com a “onda azul democrata” a expectativa é que o projeto passe, já que o partido de Biden tem maioria no Congresso.

Efeitos no mercado

Thomas Giuberti, sócio e economista da Golden Investimentos, afirma que como boa parte do pacote será financiada via aumento de impostos e num prazo longo, de oito anos, a pressão sobre a inflação pode não ser tão alta como o mercado temia.

“O receio com aumento da inflação tende a continuar, mas como o pacote vem com aumento de imposto e não via aumento de gastos, isso evita uma volatilidade adicional e dá uma amenizada no temor sobre inflação. Os pacotes de estímulo aumentam a emissão de moeda e pressionam a inflação, mas quando há aumento de imposto como contrapartida o governo retira parte desse dinheiro em circulação e equilibra a base monetária”, avalia Giuberti.

Rodolfo Carneiro, sócio da Valor Investimentos, faz uma leitura um pouco diferente. Para ele, mesmo que o pacote seja pago sobretudo por impostos, com um plano dessa magnitude o aumento de liquidez na economia americana é inevitável. “Essa liquidez exacerbada, invariavelmente, vai pressionar a inflação, porque haverá mais recursos circulando no mercado. Esse dinheiro vai ser realocado em investimentos, na economia real e no mercado financeiro como um todo. O impacto pode ser menor por causa dos impostos, mas ainda assim gerará inflação.”

De toda forma, ambos concordam que parte do efeito do novo pacote já foi precificada nos títulos do tesouro americano de longo prazo, os Treasuries de dez anos, que já vinham apresentando elevação em suas taxas nas últimas semanas. Nesta quarta-feira, inclusive, as taxas chegaram a bater 1,77%, o maior nível em 14 meses. “Já existe muita coisa que está na curva”, afirma o economista da Golden.

Seja o pacote um fator de pressão relevante sobre a inflação ou não, o aumento dos preços deve seguir no radar dos investidores de qualquer maneira por outra razão: a retomada da economia americana, que tem superado as expectativas.

“Tem quem fale que o S&P 500 [um dos principais índices do mercado de ações dos EUA] está caro, mas economia forte é moeda forte. Os investidores têm migrado seus recursos para os Estados Unidos simplesmente porque a economia americana é a maior do mundo, tem se mostrado muito eficiente na vacinação e está caminhando para um crescimento do PIB de 6% neste ano, quase no mesmo nível da China”, diz Giuberti.

Impactos para o Brasil

O pacote de infraestrutura já era comentado desde o ano passado, já que fazia parte das propostas apresentadas por Biden durante a sua campanha eleitoral. Ao analisar os impactos da gestão Biden para a Bolsa brasileira, logo que o democrata venceu o pleito, bancos de investimentos citaram justamente os benefícios que poderiam ser sentidos pelas ações de empresas de materiais básicos, já que o megapacote tende a elevar a demanda por minério de ferro e aço, por exemplo.

Para o economista da Golden, siderúrgicas e mineradoras como CSN (CSNA3), CSN Mineração (CMIN3), Gerdau (GGBR4), Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3) podem ser positivamente impactadas com o avanço do pacote. Mas dentre elas, a ação mais bem posicionada para ganhar com o aumento da demanda por esses materiais básicos é a Gerdau, na visão de Giuberti. “É uma empresa que tem uma exposição bem importante à infraestrutura e a parcela da sua receita proveniente dos Estados Unidos vem aumentando”.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha, lembra que as empresas do setor de siderurgia e mineração já vinham apresentando uma tendência de alta com a retomada global, puxada principalmente pela China. Portanto essas empresas agora “encontram mais um motivo para se beneficiar” do cenário macroeconômico global favorável às commodities.

Ela cita ainda um outro efeito possível para o mercado brasileiro. “Além dessa impulso específico das commodities, esse estímulo indica que o crescimento econômico liderado pelos Estados Unidos deve permanecer. E esse cenário de aquecimento global é um pano de fundo extremamente positivo para a nossa Bolsa”, afirma Camila.

O efeito positivo para a Bolsa, porém, vai depender do impacto que o pacote terá sobre a inflação nos Estados Unidos. Se, de fato, a inflação americana ficar mais pressionada, os juros das Treasuries podem aumentar por lá. “Grande parte dos alocadores globais compraria as Treasuries e poderia haver uma fuga de dólares que depreciaria o real, que já tem se desvalorizado dado o nosso risco fiscal”, analisa o sócio da Valor.

Os economistas afirmam que, se o cenário apontar mais para uma direção de inflação pressionada e juros altos nos EUA, o efeito pode ser também de aumento de juros no Brasil. As dúvidas em torno do tema da inflação global são grandes, tanto que analistas têm afirmado que esse é o grande dilema do mercado financeiro na atualidade.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.