Small caps, FIIs, títulos de inflação ou debêntures: o que deve ficar mais atrativo com a queda da Selic?

Na renda fixa, alocação em títulos com retorno atrelado ao IPCA e prazo entre 2035 e 2045 é mais recomendada diante de possíveis mudanças na diretoria no BC

Bruna Furlani

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O primeiro corte da Selic em três anos levou a taxa básica de juros para 13,25% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da última quarta-feira (2) – e encheu a cabeça de investidores com dúvidas sobre o que está mais atrativo para investir agora.

O topo da lista de preferências de alocadores ouvidos pelo InfoMoney contém títulos públicos e debêntures com retorno atrelado à inflação, além de ações e fundos imobiliários (FIIs).

Dentro da renda fixa, a alocação em títulos públicos com retorno atrelado ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e vencimento entre 2035 e 2045 é defendida como oportunidade em meio a um cenário de juros reais (descontada a inflação) acima de 5% ao ano.

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A posição é reforçada diante de perspectivas de mudança na gestão do Banco Central, como explicou a head de alocação da Braúna Investimentos, Catherine Cruz, em live realizada pelo InfoMoney.

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Na visão de Catherine, a troca na presidência do Banco Central deve fazer com que a autoridade monetária adquira um perfil um pouco mais heterodoxo, que tende a manter os juros mais baixos acompanhados de uma inflação ligeiramente mais elevada.

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É preciso lembrar que o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto, finaliza o seu mandato no fim de 2024. No mercado, analistas acreditam que há forte chance de que o recém-empossado diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, assuma o cargo em seu lugar.

Já títulos públicos atrelados à inflação de prazo mais curto não são recomendados. Catherine defende que o País está passando um período de deflação (inflação negativa) – ainda que passageiro – e com juros em queda.

Já quando o assunto são prefixados, a especialista da Braúna Investimentos prefere os papéis de prazo curto em oposição a títulos longos. A alocadora justifica que o risco de algum percalço na economia não pode ser descartado e, por isso, não vale a pena se posicionar em papéis longos, como 2029 e 2030, neste momento.

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Ela também aponta que tem visto boas oportunidades em títulos de crédito privado, especialmente em papéis com isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas, em que é possível “travar” taxas de 12% ao ano, com vencimento entre três e quatro anos.

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“Muito provavelmente, nesse período, a Selic vai ficar abaixo disso”, destaca Catherine. Segundo o último Relatório Focus do Banco Central, de segunda-feira (31), o mercado espera que a taxa básica de juros termine os anos de 2023, 2024, 2025 e 2026 em 12%, 9,25%, 8,75% e 8,50%, respectivamente.

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Atualmente, títulos como Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliário (LCIs), além de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliário (CRIs) e debêntures de infraestrutura possuem isenção tributária para pessoas físicas.

No quesito debêntures, Catherine também vê boas oportunidades, especialmente entre os papéis isentos. A especialista chama atenção para o fato de que os spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) já caíram um pouco em relação ao início do ano, quando eventos como a recuperação judicial de Americanas e Light empurraram as taxas para cima. Mesmo assim, elas ainda estão atrativas.

Outro detalhe está no aumento de ofertas públicas, que voltaram a aparecer depois de um período de janela fechada em parte do primeiro semestre. Mas faz um alerta: “Tem que tomar cuidado com a taxa que o investidor ai entrar. Se tem muita demanda, a taxa pode ir lá pra baixo”.

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A especialista também observa que, como são títulos de maior risco de crédito, o ideal é que o investidor pulverize a carteira e aproveite a isenção de IR para aumentar os ganhos. “A chave do crédito privado é a pulverização. Não colocar mais de 2% ou 3% em um mesmo emissor. A inflação longa em um título isento é muito interessante. Não há isso no título público”, acrescenta.

Renda variável

O corte de juros também deve impulsionar a Bolsa de Valores. Sócio-fundador da Oriz, Carlos Kawall destacou que o mercado já vem precificando uma melhora dos ativos domésticos, ao antecipar que o Banco Central iria iniciar logo o ciclo de corte de juros, mas ainda há oportunidades.

Para ele, ações de small caps, que costumam ser mais cíclicas, tendem a se beneficiar. Desde o começo do mês até o fechamento de ontem (2), o índice de small caps ([ativo=SML11]) avança 3,12%.

Ações ligadas ao varejo e à construção civil, mais sensíveis ao juro nominal mais baixo, também tendem a obter bons resultados, lembra Kawall.

Para além de ações, fundos imobiliários podem ser beneficiados com o recuo da Selic. Nesse caso, Catherine, da Braúna, sugere que o investidor tenha entre 2% e 5% da carteira alocada nessa classe de ativos.

Na hora de selecionar, a sugestão da especialista é optar por um portfólio diversificado, tanto com FIIs de “tijolo”, como são chamados os fundos que alocam diretamente em imóveis, quanto FIIs de “papel”, que permitem investir em recebíveis imobiliários.

“Monte uma carteira que seja bem diversificada, com diferentes posições e indexadores. Não só ficar no IPCA, ou só no CDI. Você consegue fazer um mix de carteira bem inteligente e que vai te dar dividendos mensais consistentes”, resume a alocadora.