Na luta com a Bolsa, renda fixa sobrevive para mais um “round” em 2024, avaliam especialistas

Estrategistas da XP, J.P. Morgan, Oaktree e Ark Invest mostraram aos investidores o que esperar da classe – aqui e lá fora – nos próximos meses

Leonardo Guimarães

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A Selic está em queda e, lá fora, o S&P 500 bate novo recorde. Mas, para especialistas, 2024 ainda terá muito espaço para investimento em renda fixa. Tudo depende dos juros dos Estados Unidos, debate que, segundo Caio Megale, economista chefe da XP, deve ser destaque no mercado neste ano.

Os Bancos Centrais precisam de “confiança de que a inflação voltou para níveis normais” para começar a cortar juros, disse ele no Onde Investir 2024, evento realizado pelo InfoMoney entre os dias 15 e 19 de janeiro, que contou com dois nomes de peso do mercado internacional – e que divergiram sobre os caminhos do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).

Enquanto Howard Marks, cofundador da Oaktree Capital Management, acha que as taxas não estão tão altas atualmente e que há risco de repique da inflação, a CEO e CIO da gestora americana Ark Invest, Cathie Wood, diz esperar cortes mais profundos nos juros, levando as taxas a níveis entre 3% e 2% ainda em 2024. 

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Em painel voltado aos investimentos no exterior, Gabriela Santos, estrategista-chefe do J.P. Morgan Asset Management, destacou que os títulos de renda fixa emitidos pelo Tesouro dos Estados Unidos, os Treasuries, seguem com rentabilidade atrativa em 2024, o que gera oportunidades no país norte-americano e na Europa. “Finalmente há renda fixa fora da América Latina”, disse. 

A especialista recomenda o investimento em papéis com vencimento entre cinco e sete anos, que carregam menos risco que títulos mais longos, mas ainda oferecem boa rentabilidade anual. 

Howard Marks acredita que o Federal Reserve (banco central dos EUA, Fed), cortará os juros para algo entre 3% e 3,5% ao ano. Com isso, os títulos de renda fixa de lá seguirão atrativos para os brasileiros, que podem se beneficiar da estabilidade americana, já que a economia brasileira tem a volatilidade como traço característico, segundo ele. 

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Hora de tomar risco

Considerando o consenso atual do mercado sobre os juros americanos e no Brasil, especialistas consideram este um bom momento para adicionar risco na carteira, inclusive na renda fixa.

Mesmo que a classe seja considerada mais defensiva, há ativos que pagam mais por carregarem riscos relacionados a empresas, como as debêntures, CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de Recebíveis do Agronegócio). 

Em painel dedicado a apresentar as principais oportunidades da renda fixa em 2024, gestores da Ibiuna Investimentos e JGP concordaram que o mercado de crédito privado está atrativo para os investimentos nos próximos meses. 

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Alexandre Muller, sócio-gestor da JGP destacou que o cenário macroeconômico está mais favorável para as empresas, o que “melhora os fundamentos no crédito privado”, já que as empresas devem ter menor custo para investir e mais bolsos para financiar investimentos com investidores dispostos a correr mais riscos. 

Companhias dos setores de saúde e saneamento foram elogiadas pelos especialistas, com alívio nos balanços após a pandemia no primeiro e necessidade de investimentos grandes no segundo. Lee pondera que é preciso “analisar cada nome individualmente”, já que há empresas de saneamento com endividamento muito alto. 

Para Fabiano Zimmermann, gestor da ASA Investments, faz sentido aumentar o nível de risco da carteira de renda fixa saindo de pós-fixados e investindo em títulos de inflação e prefixados oferecidos pelo Tesouro Direto. “Se a proposta é aumentar o risco, é melhor fazer isso com os (títulos) sobrados, como o Tesouro IPCA+ ou Tesouro Prefixado”, disse.