Por que a renda fixa ainda é uma boa opção para 2024, segundo gestores

Vivian Lee, da Ibiuna, e Alexandre Muller, da JGP, destacam oportunidades no crédito privado no Brasil e no exterior

Leonardo Guimarães

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A Bolsa de Valores brasileira fechou 2023 com uma valorização de 22,28% que fez investidores se questionarem sobre a renda fixa. Afinal, 2024 ainda reserva oportunidades na segurança da classe com retornos mais previsíveis? Para gestores ouvidos no Onde Investir 2024, evento gratuito e online organizado pelo InfoMoney, sim – apesar da Selic em queda.

Painel sobre o tema realizado na terça-feira (16) contou com a participação de Vivian Lee, sócia e gestora de crédito na Ibiuna Investimentos, e Alexandre Muller, sócio-gestor da JGP, que diz que a renda fixa “segue como classe importante na construção de portfólios”. Para Lee, os ativos de renda fixa “devem seguir forte na carteira do investidor” em 2024. 

De olho no crédito privado

A defesa da renda fixa como alternativa rentável para este ano é sustentada pela perspectiva de um cenário macroeconômico mais favorável na comparação com o enfrentado no último ano. Essa expectativa beneficia o investimento em crédito privado, já que o ambiente deve ser melhor para as empresas. 

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Com juros em queda – a Selic deve cair para 9% ainda em 2024, segundo o Boletim Focus –, o custo da dívida das empresas é menor e investir em títulos como debêntures fica menos arriscado, explicaram os gestores. 

Mesmo com o cenário mais favorável, Muller diz que é “sempre bom” ter ativos indexados à inflação na carteira, porque, no Brasil, “somos campeões em produzir surpresas inflacionárias, que geralmente vêm de descontrole fiscal”. 

Mas Lee recomenda avaliar caso a caso para decidir sobre o indexador ideal. A Ibiuna tem posição em papéis atrelados ao IPCA da Copasa, que também emitiu debêntures pós-fixadas, sem tanta atratividade na avaliação da casa. Em Sabesp, o julgamento foi inverso, com preferência pelos papéis indexados ao CDI emitidos pela empresa de saneamento. 

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Em 2023, o IDA-DI, índice que reflete o desempenho das debêntures indexadas ao CDI, teve retorno de 12,7%, enquanto o IDA-IPCA Infraestrutura, avançou 15,2%. Para 2024, a perspectiva de retorno dos gestores também é otimista, já que “devemos ter uma Selic média 10%, somada ao spread de crédito, que está elevado em relação à média histórica”, como explica o sócio-gestor da JGP.

Destaques setoriais

Os gestores defenderam a análise individual das companhias como método mais eficaz que o olhar setorial para escolher os papéis, mas apontaram argumentos a favor de empresas de saúde e saneamento. No primeiro caso, destaque para o alívio nos balanços após o baque na pandemia. No segundo, para a grande necessidade de investimento, com cuidado especial para evitar negócios com alavancagem elevada, ponderou Lee.

Por outro lado, o varejo vem sendo evitado pelos gestores. “É um setor difícil por ter margens apertadas e alta necessidade de giro, além de não ter tantos ativos”, argumenta Lee. A competição do comércio eletrônico também preocupa Muller, que não tem perspectivas animadoras para o setor. 

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Oportunidades no exterior

A renda fixa estrangeira também deve se destacar em 2024. Com títulos do Tesouro dos Estados Unidos (Treasuries) pagando na casa dos 4% ao ano, investidores podem ir atrás de retornos de até 8% no crédito privado americano, segundo Muller. Além da rentabilidade alta para os padrões da maior economia do mundo, a remuneração em dólar ainda traz proteção para a carteira, desde que venha de emissores confiáveis.

“Vimos que há muito fluxo para empresas mais seguras, principalmente para se proteger de eventuais ajustes de crédito de companhias com menor nota de crédito, que enfrentarão despesas financeiras nos próximos trimestres”, afirma Vivian Lee. 

Eventos de inadimplência e eleições são fatores que causam preocupação, mas a força da atividade econômica dos EUA vem surpreendendo positivamente. “Percebemos a economia americana muito resiliente, não vem dando sinais de fraqueza”, atesta Muller.