Dividendos da Sabesp (SBSP3) vão aumentar após privatização? Analistas veem melhora, mas não para já

Especialistas apontam chance de dividendos mais polpudos com ganho de eficiência, mas investidor poderá ter que esperar para ver resultado

Equipe InfoMoney

(Divulgação/Sabesp)

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Com o projeto de privatização da Sabesp (SBSP3) aprovado na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) na semana passada, investidores voltam alimentar expectativa por maiores distribuições de dividendos. Afinal, com o governo deixando o controle da empresa, pagamentos a acionistas tendem a aumentar?

Segundo analistas, a resposta é um misto de esperança de maiores retornos ao investidor com a incerteza sobre exatamente quando isso poderia ocorrer.

Pelo modelo apresentado pelo governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e aprovado na Alesp, a privatização da Sabesp será por follow-on (emissão de ações), com o governo reduzindo sua participação para entre 15% e 30%, mas mantendo direito a veto em decisões estratégicas (golden share). Atualmente, o estado detém 50,26% das ações ordinárias da companhia, como controlador, mas não possui papéis preferenciais.

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A estratégia é a mesma adotada nas privatizações de Eletrobras (ELET3) e Copel (CPLE6), com a diferença de que, nesses casos, o capital das companhias ficou pulverizado, como uma corporation. Já a Sabesp pode ganhar um acionista de referência relevante.

“A Sabesp pode ficar mais parecida com a Copel, onde o estado ficou com uma participação menor na empresa”, avalia Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Benefícios

Analistas esperam que a privatização alavanque a eficiência da Sabesp, reduzindo despesas operacionais para abrir espaço para mais investimentos – características que são muito importantes para os acionistas minoritários.

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A avaliação é de que há muito espaço para cortes de custos. A Sabesp registrou margem Ebitda de 41% e gasto operacional de cerca de R$ 12 milhões em 2022, enquanto nas empresas privadas do segmento, como Iguá Saneamento, BRK Ambiental e Aegea, os números foram bem melhores: entre 40% e 60% de margem Ebitda e custo operacional de menos de R$ 2 milhões.

O caminho pode passar por programas de demissão voluntária (PDV) e otimização de despesas com contratos de serviço. “Na Sabesp, o custo médio de cada funcionário é R$ 250 mil, enquanto nas empresas privadas não passa de R$ 100 mil. A companhia tem espaço para reduzir seus gastos pelo menos pela metade”, pontua Luan Alves, head de equity da VG Research.

A companhia também é vista com potencial de expandir para fora de São Paulo, com a previsão do incremento em R$ 10 bilhões do compromisso atual de R$ 56 bilhões em investimentos para a universalização de serviços de água e esgoto até 2029, antecipando o calendário previsto pelo Marco de Saneamento, que estipula levar água potável a 99% da população e tratamento de esgoto a 90% das pessoas até dezembro de 2033.

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De quanto podem ser os dividendos?

Embora o setor de saneamento seja conhecido por ser defensivo, muito focado na remuneração dos acionistas, analistas consultados pelo InfoMoney destacam que, por conta dos investimentos necessários, a Sabesp não deve se tornar uma grande pagadora de dividendos após a privatização — ao menos não no curto prazo.

Em um primeiro momento, o consenso é de que o payout (parcela do lucro destinada a proventos) da Sabesp deva se manter próximo do mínimo regulatório de 25%.

“Mesmo privatizada, eu não esperaria dividendos bons em 2024 e nem em 2025. A partir de 2026, a Sabesp já terá um ganho de eficiência e reestruturação da empresa, podendo aumentar um pouco a distribuição de proventos”, cita Alves, da VG Research, que aposta em remuneração entre 2% e 3% de dividend yield ao ano.

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Já Arbetman, da Ativa, projeta um dividend yield de 2% para 2023, crescendo para 2,5% em 2024 e 3,5% no ano seguinte — valores, no entanto, ainda baixos se considerados os retornos das melhores pagadoras da Bolsa, de no mínimo 6%.

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Flávio Conde, head de renda variável da Levante, é mais pessimista com dividendos no curto prazo pela alta necessidade de investimentos da Sabesp e consolidação do setor de saneamento, com eventuais aquisições, antes de entrar em nova fase de distribuição de proventos.

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“Pensar em Sabesp com foco em dividendos nesse momento é um erro. Dividendos não estão entre os objetivos por pelo menos os próximos cinco anos”, avalia o profissional. “Enquanto isso, Sabesp deve estar naquela parte da carteira de crescimento”.

Sinal disso é a intenção de utilizar, junto com os recursos captados no follow-on, os dividendos futuros em um esforço para reduzir a tarifa de água e esgoto. O governo nega que a redução será um subsídio direto.

No entanto, quanto maior é o horizonte de análise, mais consensual é a avaliação de que, no futuro, a companhia deverá virar uma boa pagadora de proventos.

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Arbetman, por exemplo, ressalta que, ao longo do tempo, a tendência é que o investidor colha os frutos dos ganhos de eficiência. “No longo prazo, a companhia tende a pagar mais dividendos. A Sabesp será uma empresa mais enxuta, operando em ótimo patamar e vai conseguir fazer uma distribuição maior”, avalia.

Já Conde ressalta que, findado o período mais intenso de trabalhos para alcançar a universalização da água tratada, “os investimentos vão despencar e ela vai pagar como uma Telefônica, distribuindo de 90% a 100% dos lucros”.

E a valorização?

Além dos dividendos, há a expectativa de que o papel avance na esteira da privatização. Atualmente, Sabesp é negociada em múltiplo de 0,65 vezes ev/rab (EV = enterprise value, ou valor de mercado, + dívida líquida; RAB = base de ativos regulatórios). “Caso privatizada, não tem por que ela negociar abaixo de 1 vez ev/rab. Quanto antes investir, mais pega esse processo”, analisa Arbetman.

Na XP, a recomendação é de compra para o papel, após a aprovação da privatização tirar incertezas do caminho. Visão que é similar à do Morgan Stanley, que também ressaltou no papel um perfil de risco-recompensa atrativo com 42% de potencial de valorização no cenário de privatização, com projeção de R$ 98/ação, correspondendo a 1,1 vezes o valor da empresa (EV), sobre a base de ativos regulatórios (RAB).

Por sua vez, o Bradesco BBI considera o nome como uma das principais escolhas dentro das empresas de serviços públicos da América Latina e afirma que a privatização tem probabilidade de acontecer até meados de 2024.

A Sabesp também figurou mais uma vez na lista de ações recomendadas pelas principais corretoras do país.

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Opções além de Sabesp

Para investidores que buscam dividendos no curto prazo, os analistas enxergam que a Sanepar (SAPR4) é a melhor opção, se levado em conta o desconto da ação e o potencial de valorização além dos dividendos. Na VG Research, por exemplo, a expectativa é que a companhia entregue um dividend yield de entre 5% e 6%.

Outra alternativa é Copasa (CSMG3), para a qual Alves projeta dividend yield de 7% para 2023, e de 8% para 2024. “A Copasa paga dividendos mais elevados neste momento, mas nossa recomendação principal é a Sanepar. Mesmo recebendo um pouco menos de dividendos, a ação é a mais descontada e tem potencial de valorização maior do que a Copasa”, destaca o analista.

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