Prio, Eletrobras, Alupar e mais 7 ações “queridinhas” de 3 gestoras para investir apesar da turbulência na Bolsa

Empresas do setor energia elétrica são destaque; casas também veem oportunidades em companhias de aviação e de aluguel de carros

Bruna Furlani

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A deterioração no mercado de crédito, o alto nível da taxa básica de juros e as revisões de lucros no Brasil e nos Estados Unidos podem provocar novas correções nos preços e “avermelhar” os retornos de quem está alocado em Bolsa.

Apesar do cenário desafiador tanto localmente quanto lá fora, nem tudo está perdido. O InfoMoney conversou com três gestoras – Apex Capital, Ace Capital e Absolute Investimentos – para entender quais são as melhores ações para investir nesse período de turbulência.

“Estamos com múltiplos baixos em relação ao governo da Dilma [Rousseff] em que o juro também estava alto. A Bolsa está barata, mas os catalisadores para fechar o prêmio de risco não se mostram presentes”, pondera Fábio Spinola, CIO da Apex Capital.

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Segundo o gestor, uma eventual queda na taxa de juros pelo Banco Central poderia ajudar a destravar valor, pois reduziria o custo financeiro das empresas. Porém, a apresentação de um marco fiscal “minimamente crível” ainda é considerada fundamental para que provocar efeitos mais fortes, alerta Spinola.

Na lista de apostas, há papéis de companhias que conseguem repassar a inflação e possuem uma geração de caixa constante, ou que poderão ser beneficiados em um ambiente de maior competição e endividamento das empresas.

Hypera, Localiza e Rumo, as escolhas da Apex

Entre as apostas da Apex Capital estão posições em Localiza (RENT3), Hypera (HYPE3) e Rumo (RAIL3), sendo que a última foi adicionada recentemente à carteira.

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Ao comentar sobre a Rumo, Spinola afirma que a ação foi bastante afetada nos últimos meses por dados decepcionantes de volume com quebra de safra, além de atos de vandalismo que ajudaram na marcação negativa do papel.

Para este ano, o gestor está bastante otimista com as perspectivas. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam que a produção brasileira de grãos na safra 2022/2023 pode chegar a 309,89 milhões de toneladas, o que seria um incremento de 13,8% na comparação com a temporada anterior.

“A Rumo está atrativa, mas não é uma ‘mega’ barganha”, diz. “No momento, a informação marginal do operacional da empresa é positiva”.

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Outra na lista de apostas é a Localiza. O executivo conta que a companhia apresenta dominância de mercado e que consegue manejar melhor a rentabilidade do aluguel para obter bons retornos, mesmo em um momento de aumento do custo financeiro.

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“É um mercado em expansão. Tem a assinatura de veículos. Está achando um espaço no bolo de aluguel por assinaturas. Realiza aluguel de frotas. Esses contratos de longo prazo ajudam a estabilizar o fluxo de caixa”, observa. Segundo ele, a companhia já esteve mais barata, mas ainda assim apresenta um múltiplo preço sobre lucro abaixo do registrado durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, quando os juros também estavam elevados.

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Hypera também é uma das apostas e está descontada na comparação com múltiplos históricos, segundo o gestor. Spinola chama atenção para o fato de a companhia estar conseguindo manter uma taxa de crescimento de lucro na casa de 20%, o que ele considera expressivo.

A companhia reportou lucro líquido das operações continuadas de R$ 431,7 milhões no quarto trimestre de 2022, montante 18% superior ao reportado no mesmo intervalo de 2021.

Outra vantagem da empresa, diz, está no fato de que há uma tese secular por trás do setor, que deve se beneficiar com o envelhecimento da população brasileira.

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Alupar, Petroreconcavo, Prio e JBS, as apostas da Absolute

De olho em setores resilientes, a Absolute Investimentos tem companhias de energia elétrica entre as mais “queridinhas” da casa. “É um setor que é regulado. Ele consegue repassar a alta de preços e estamos caminhando para anos de inflação mais elevada”, destaca Christian Faricelli, sócio da gestora.

Os preços também têm agradado. O executivo defende que os múltiplos estão baratos ao comparar com o histórico e também contra os títulos públicos atrelados à inflação (NTN-Bs), que costumam ser usados porque possuem um fluxo de caixa futuro previsível.

Uma das apostas está em Alupar (ALUP11). O gestor da Absolute explica que o destaque é que a companhia atua como transmissora de energia, o que tende a ser reconhecido como um dos negócios mais seguros da Bolsa.

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A razão é que a remuneração das transmissoras não depende de quanta energia passa pela rede, e sim da disponibilidade da estrutura ao sistema. Outro detalhe está nos investimentos feitos pela empresa, lembra Faricelli.

“Ela ganhou leilões num cenário ruim e investiu em um cenário bom. Agora, o ambiente voltou a piorar, mas ela já realizou os investimentos”, observa o executivo. Hoje, a companhia é a maior posição da casa.

A gestora também aumentou a exposição recentemente a ações de óleo e gás. A decisão tem como pano de fundo a taxação sobre as exportações de petróleo anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no começo do mês.

Na ocasião, o governo instituiu a cobrança de 9,2% sobre as exportações de óleo bruto entre março e junho para compensar a perda de arrecadação com a desoneração dos combustíveis.

A medida, porém, não deve ser bem aceita no Congresso. Em relatório, analistas do Bradesco BBI afirmaram que os parlamentares rejeitam a ideia de perpetuar o imposto sobre exportação. A informação teria sido obtida a partir de conversas com consultores políticos.

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“As empresas de petróleo vão parar de investir e outras companhias também podem parar por medo. Isso aconteceu na Argentina. É um ‘livro’ que sempre dá errado”, diz. “Achamos que pode acabar antes. É um tiro pé. As forças políticas estão se mexendo”, alerta o gestor da Absolute.

A visão do executivo é que a medida tem forte chance de ser encerrada daqui a dois ou três meses. A explicação é ela poderia gerar um efeito em cadeia caso virasse perpétua. Nesse sentido, ele acredita que os agentes financeiros precificaram “um risco de perpetuar a taxação”.

“Nesse preço, a gente acha que não perde. Se acabar com o imposto de exportação, a Petrobras e as gringas voltam a desinvestir, elas são fortes geradoras”, observa. De olho nas perspectivas futuras, a gestora aumentou posição em Petroreconcavo (RECV3) e iniciou uma alocação em Prio, antiga PetroRio (PRIO3) recentemente.

Ações da JBS (JBSS3) também chamam a atenção do gestor. O executivo lembra que a companhia é considerada uma empresa mais internacional do que brasileira atualmente, devido à baixa participação do País na geração de receitas para o negócio.

Logo, diz, quando acontece um problema como o da “vaca louca” aqui no Brasil, a empresa consegue mudar a produção rapidamente para outros lugares e garantir a manutenção das entregas. “Ela tem uma diversificação grande de geografia e de proteínas”, acrescenta Faricelli.

Outro fator que pesa a favor é a vantagem competitiva da empresa na parte financeira. A companhia conseguiu alongar os prazos das dívidas e a um custo mais baixo, diz o gestor. Demais empresas do setor como a Marfrig (MRFG3) e a BRF (BRFS3) poderiam ser afetadas mais negativamente por possuir dívidas mais elevadas.

Em um cenário mais difícil e com chance de quebra de alguns concorrentes caso a situação econômica piore, a JBS também poderia aproveitar o momento para comprar outras operações, lembra Faricelli.

Eletrobras, Embraer e Sigma Lithium, as preferidas da Ace

A lista das mais “queridinhas” também engloba companhias do setor de aviação, como a Embraer (EMBR3), que é uma das ações preferidas da Ace Capital, como explica Tiago Cunha, gestor de ações da casa.

Segundo ele, a empresa está um momento “ótimo”, com o aumento da demanda na aviação regional, executiva e também de defesa. “Pela primeira vez, temos um relativo alinhamento nos três segmentos”, observa Cunha.

No quesito defesa, o executivo diz que a grande vantagem é que a companhia tem uma postura mais “neutra”, ou seja, não há um alinhamento claro do Brasil com nenhuma outra nação envolvida em disputas, o que colocaria o País numa posição mais favorável.

Já na parte de aviação comercial, a melhora da pandemia está levando a um aumento da demanda por aviões do tipo e a uma série de rearranjos dentro de um setor que possui poucas empresas, o que tenderia a favorecer a Embraer, na visão de Cunha.

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Ações do setor elétrico não ficam de fora. A preferência na Ace Capital é pelos papéis da Eletrobras (ELET6). O executivo lembra que as ações estão bem descontadas – e que a companhia praticamente devolveu os ganhos obtidos com a privatização.

No processo selado em junho de 2022, as ações foram fixadas a R$ 42. Na última terça-feira (14), as ações eram cotadas a R$ 34,45.

O executivo defende que sinais negativos têm pesado sobre os papéis. “Se pegar desde a parte fiscal, como foi tratada a questão dos combustíveis e a pressão sobre o BC, o conjunto da obra não é positivo”, observa o profissional.

Apesar disso, ele avalia que a empresa cortou custos e que poderia pagar um valor muito alto ao romper o contrato de privatização. “Não sei se vale o retorno”, diz. “O mais provável é ela continuar privada e honrar os contratos”.

Ações ligadas à transformação tecnológica também estão entre as preferências da Ace Capital, com destaque para Sigma Lithium Corp ([ativo=SGML]). O gestor conta que a companhia está listada na Nasdaq e em Toronto, mas possui uma operação no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. A empresa atua na produção de um concentrado de lítio muito utilizado em carros elétricos.

“No horizonte de dois a três anos, essa é uma tendência que será mantida”, afirma. “O veículo elétrico era muito mais caro e estamos vendo uma redução dos preços”, acrescenta o gestor, o que deve trazer maior atratividade ao setor.

Para ele, a companhia também está em um momento favorável. Ele explica que o lítio não é um material escasso, mas é uma matéria-prima que demora a ser produzida – levando em conta que o processo entre a abertura de uma mina e o início da extração dura em torno de sete anos.

A questão é que há poucos projetos que maturaram do passado e também não há muitos prontos para dar o pontapé inicial, lembra o gestor da Ace. Ou seja, a oferta disponível pode ficar menor, o que também tende a favorecer empresas como a Sigma Lithium.