Ouro em barra, contratos futuros, fundos ou ações: como investir no metal precioso?

Confira as diferenças e as semelhanças entre quatro produtos que viabilizam a exposição ao ouro

Mariana Zonta d'Ávila

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Uma das estrelas dos investimentos em 2020, com ganhos da ordem de 25% em dólares no mercado americano, o ouro ganhou mais atenção de investidores no último ano em meio ao cenário de incertezas provocadas pela pandemia.

Por ser um recurso escasso e tido como reserva de valor, o ouro é considerado um porto seguro em momentos de maior turbulência. À medida que a aversão ao risco aumenta, a demanda por ouro tende a crescer e a da Bolsa, diminuir. E vice-versa.

O ativo é defendido por grandes investidores como Mark Mobius, sócio fundador da Mobius Capital Partners, que defende ter uma fatia permanente alocada no metal precioso, para fins de proteção.

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“Mas é preciso lembrar que ouro não paga dividendos e não tem crescimento, como o lucro das companhias; é uma forma de moeda – e as moedas ao redor do mundo sempre se desvalorizam”, reforçou durante evento do InfoMoney, em janeiro.

José Raymundo de Faria Júnior, planejador financeiro certificado CFP, também considera o ouro um bom ativo para portfólios diversificados que tenham alguma exposição a risco, como ações. “O ouro tem correlação negativa com o Ibovespa, então uma forma de se proteger contra quedas da Bolsa é ter o metal na carteira”, afirma.

A posição, contudo, pode não ser a mais adequada para um investidor conservador, avalia o planejador, dada a volatilidade do metal.

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Em 2019, o preço à vista do ouro (spot) negociado no mercado americano subiu 18,3% em dólar. No ano anterior, o metal havia tido queda de 1,5%.

Patricia Palomo, sócia da gestora de patrimônio Sonata, defende que o ouro deve ser entendido apenas com um propósito específico de hedge da carteira. “O ouro não oferece fluxo [de caixa], não tem todas as características desejadas de um investimento, mas cabe em um portfólio como proteção, dado que é descorrelacionado de ativos de risco”, diz.

O ouro pode ser utilizado como investimento no Brasil por quatro meios: compra de ouro físico, negociação de contratos futuros de ouro na Bolsa, aplicação em fundos de investimento e ações de mineradoras focadas em ouro.

Segundo Patricia, para o investidor pessoa física que quiser ter uma fatia da carteira exposta ao metal para fins de proteção, e não tiver tempo ou conhecimento para acompanhar o mercado, fundos de investimento são a melhor alternativa, por serem mais simples.

“O investidor vai pagar uma taxa de administração, mas cabe à ele se ela justifica ou não o trabalho de se investir diretamente no ativo, como armazenar barras ou operar contratos futuros”, afirma.

Confira a seguir como funciona a aplicação em cada um dos produtos disponíveis no Brasil, como investir, os preços e as taxas envolvidas.

Ouro físico

Um dos meios mais antigos utilizados para investir em ouro é a compra do metal físico no mercado de balcão (fora do sistema da Bolsa), em empresas autorizadas pelo Banco Central chamadas de Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários (DTVM). Entre as mais conhecidas no ramo estão Ourominas, Parmetal e Carol DTVM.

Mauriciano Cavalcante, diretor de câmbio da Ourominas, conta que a venda de ouro pode ser feita tanto para pessoas físicas quanto jurídicas, com o mínimo de um grama de ouro no valor da ordem de R$ 330, em 10 de fevereiro.

A cotação segue o preço do dia do metal (ouro “spot”, à vista), que pode ser acompanhado pelo site da B3, e há um spread de compra e venda que varia entre 2% e 5%, dependendo da relação entre oferta e procura no dia, explica.

Escolhida a quantidade de ouro, o investidor pode pagar em dinheiro na Ourominas, nas compras até R$ 10 mil, ou por transferência bancária acima desse valor. O metal é acompanhado de um certificado de autenticidade.

Para compras de até R$ 50 mil no semestre, são exigidos documentos como CPF, RG e comprovante de residência. Para investimentos acima desse valor, a empresa passa a solicitar também a declaração do Imposto de Renda e outros documentos que comprovem a capacidade financeira do comprador. Caso o investidor queira vender o metal, ele conta com a recompra garantida pela DTVM.

Segundo o executivo, diante da maior procura na pandemia, o volume de compra de ouro físico por pessoas físicas na companhia cresceu 77% em 2020 na comparação anual – a maior alta em dez anos. Nos anos anteriores, o crescimento anual beirava entre 10% e 20%, diz.

O perfil do investidor também tem passado por mudanças nos últimos três anos. Antes desse período, a maior parte do público da Ourominas tinha idade entre 40 e 50 anos. Hoje, o metal tem atraído investidores mais novos, com a maior parte dos clientes com idades de 25 a 40 anos.

A compra média é de 100 gramas, o que equivalia investir R$ 33 mil no último dia 10.

Patricia, da Sonata, destaca que, além do risco de comprar ouro falsificado ou de qualidade inferior em empresas não certificadas, o investidor precisa ter em mente a necessidade de encontrar um local seguro para guardar o metal na compra das barras. “A não ser que o indivíduo queira ter ouro para fazer joias, por exemplo, não vejo muitas vantagens nesse formato”, diz, ressaltando ainda a baixa liquidez do mercado.

Com relação à tributação, o ouro é tratado como uma aplicação de renda variável, com isenção de Imposto de Renda sobre os ganhos obtidos com vendas de até R$ 20 mil por mês. Caso supere esse montante, é aplicada uma alíquota de 15% sobre os rendimentos. O recolhimento do IR deve ser feito pelo próprio investidor, até o último dia útil do mês subsequente ao da operação.

Fundos de ouro

Para o investidor que deseja montar posição em ouro sem comprar o metal nem operar contratos futuros na Bolsa, há a opção dos fundos de investimento.

Neste caso, o investidor pode buscar tanto fundos de índice (ETFs) que repliquem contratos de ouro como fundos que apliquem no metal precioso. É o caso do “Trend Ouro Dólar” (com exposição cambial) e do “Trend Ouro” (sem exposição ao dólar), da XP.

Danilo Gabriel, gestor na XP Asset Management, conta que a montagem da carteira é feita a partir de derivativos, de forma a acessar o contrato futuro de ouro negociado na bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, o COMEX Gold futures (GCJ1).

Segundo ele, a escolha pela exposição ao produto via mercado americano se deve à maior liquidez do ativo. Ambos os fundos possuem taxa de administração de 0,50% e investimento mínimo de R$ 100.

A XP também possui um ETF (GOLD11) que busca replicar o iShares Gold Trust, da BlackRock, com lastro em ouro, lançado em dezembro. Neste caso, o fundo é negociado em Bolsa, tem taxa de administração de 0,30% e lote mínimo de uma cota no valor da ordem de R$ 10.

Leia também:
BDR ou ETF: qual a melhor maneira de investir no S&P 500?

Assim como na Ourominas, Gabriel conta que houve uma maior procura no último ano pelos produtos de ouro, levando ao crescimento dos fundos. Ao fim de 2019, os dois produtos somavam um patrimônio de R$ 260 milhões, montante que cresceu para R$ 1,3 bilhão em dezembro de 2020.

Nos fundos de investimento, o Imposto de Renda incide sobre a rentabilidade, seguindo uma tabela regressiva de alíquotas. Nos fundos de curto prazo (papéis com vencimento abaixo de 365 dias, em média) a alíquota varia de 22,5% a 20%. Já nos fundos de longo prazo (com papéis de vencimento acima de 365 dias, em média), as alíquotas regressivas vão de 22,5% para 15%, quando acima de 720 dias de aplicação.

Além da cobrança semestral de come-cotas, há ainda o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), sobre o rendimento nos resgates feitos em um período inferior a 30 dias.

Já nos ETFs, incide, na venda das cotas, uma alíquota de 15% sobre o ganho de capital auferido pelo investidor. E é novamente responsabilidade do próprio o recolhimento do Imposto de Renda devido.

Contratos futuros de ouro

O investidor também pode investir em ouro por meio de contratos futuros do metal negociados na Bolsa brasileira. Neste caso, a aplicação será em derivativos com expectativa de refletir a oscilação do preço do ouro no futuro.

Atualmente, estão disponíveis três contratos na B3. Por ordem de maior volume negociado nos últimos meses são eles: contratos fracionários de 10 gramas de ouro (OZ2D) e 0,225 gramas (OZ3D) e, o padrão de 250 gramas (OZ1D). Quanto maior o tamanho, maior tende a ser a liquidez.

O valor mínimo para negociação desses contratos depende dos lotes mínimos para negociação exigidos em cada contrato. No dia 10 de fevereiro, um contrato de 250 gramas de ouro custava R$ 309 a grama, ou cerca de R$ 77 mil o contrato cheio.  Não há minicontrato de ouro na B3.

De acordo com a B3, houve um aumento de negociação nos contratos de mercado à vista, com alta de 244% no volume de contratos de ouro negociados em 2020 em comparação a 2019.

“Assim como em outros produtos listados em bolsa e no mercado de derivativos, a participação da pessoa física tem se mostrado cada dia mais relevante. Nos contratos de ouro isso não se distancia, uma vez que quase 80% do volume de negociação vem de desse tipo de investidor”, diz a Bolsa, em nota.

Patricia, da Sonata, avalia que, apesar de ser mais simples que o ouro em barra, por não exigir o armazenamento, nos contratos futuros, o investidor precisa fazer um depósito de garantia e estar atento aos valores de ajustes demandados de acordo com o desempenho do derivativo. Saiba mais sobre o mercado futuro aqui.

“A pessoa física precisa avaliar se quer ter toda essa exposição e considerar que precisará de caixa para fazer frente a ajustes no futuro. Operacionalmente, a pessoa precisa ser organizada, ter conhecimento, saber o que vai consumir de caixa e ter liquidez para isso”, assinala.

A tributação é igual à do ouro físico.

Ações de mineradoras

A quarta maneira de ter exposição em ouro, ainda que indireta, recai sobre a compra de ações de mineradoras, com exposição à variação de preço das ações na Bolsa e com direito a dividendos.

É o caso da mineradora canadense Aura Minerals, listada na bolsa de Toronto e que pode ser acessada pelo investidor brasileiro via Brazilian Depositary Receipt (BDR) negociado na B3 sob o código “AURA33”, com valor da ordem de R$ 57 o papel, na quarta-feira (17).

Neste caso, o processo funciona como em uma ação, em que o investidor pode operar via sistemas de negociação (home broker) de uma corretora de valores. Conheça mais sobre os BDRs aqui.

Os custos envolvidos são semelhantes aos de uma operação com ações brasileiras. O investidor geralmente precisa pagar uma taxa de corretagem para a corretora que utiliza para operar na B3 – mas já existem corretoras com taxa zero de corretagem para BDRs, como a Rico.

Além disso, há os emolumentos devidos à B3 e, possivelmente, taxa de custódia (muitas corretoras já isentam os investidores desse custo).

Patricia avalia que, por mais que tais papéis estejam ligados à extração e à comercialização de ouro, são empresas que estão sujeitas também a questões de gerenciamento, administração e eficiência, que podem impactar as cotas na Bolsa. “É uma alternativa indireta e outros fatores podem afetar o preço do papel que não o ouro”, reforça.

No quesito tributação, o Imposto de Renda dos BDRs é de 15% sobre o ganho obtido nas negociações. Caso haja distribuição de proventos pela empresa no seu país de origem, eles são repassados aos investidores aqui no Brasil, seguindo as regras de tributação de lucros específicas de cada local.

Entre as maiores mineradoras de ouro do mundo estão Newmont Goldcorp, Barrick Gold, Polyus e Zijin Mining.

O InfoMoney vai premiar, nos dias 23 e 24 de fevereiro, os gestores de fundos de ações, multimercados, renda fixa e de fundos imobiliários que conseguiram entregar aos investidores retornos com consistência nos últimos três anos.

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