Os melhores (e os piores) fundos de ações e multimercados em dezembro e em 2020

Bolsas internacionais e dólar compõem carteiras vencedoras do ano passado, com presença maior de ativos locais em dezembro

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Com expressivos retornos de dois dígitos, que chegaram à casa dos 90%, os fundos de investimento no exterior foram sem dúvida o grande destaque em termos de rentabilidade da indústria doméstica de investimentos no ano passado.

Isso por conta da combinação da resiliência das empresas americanas de tecnologia frente ao isolamento social provocado pela pandemia e da proteção oferecida pelo dólar nos dias de maior estresse ao longo dos últimos e atípicos meses.

Nesse sentido, no ranking dos melhores fundos de ações e multimercados do ano que acaba de terminar, o predomínio é claramente das estratégias que mais conseguiram se apropriar nos últimos 12 meses da corrida dos investidores pelas “big techs” dos Estados Unidos, mas sem esquecer de manter algum tipo de seguro na carteira.

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Entre os fundos de ações ou entre os multimercados, das dez maiores rentabilidades de 2020, nada menos do que oito são de fundos dedicados ao mercado externo, em ambas as categorias.

A maior valorização entre os fundos de ações, de 91,3%, ficou por conta do fundo global do Morgan Stanley, seguido pelo de BDRs da Western Asset, que rendeu 66%.

Entre os poucos veículos dedicados às ações brasileiras que conseguiram se destacar em 2020, galgaram seu espaço no “top 10” o Absoluto Partners e o Fator Sinergia, com ganhos de 56,7% e 46,7%, respectivamente.

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Já entre os multimercados, embora a alocação global também tenha dado o tom, a maior alta, de quase 84%, ficou com o Versa Long Biased, seguido pelo Santander Global Equities, com retorno de 61,3%.

Confira a seguir os fundos de ações que mais se destacaram nos 12 meses de 2020, assim como seu desempenho em 36 meses, e apenas em dezembro.

Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos, com gestão ativa e patrimônio líquido médio superior a R$ 100 milhões em 12 meses e mais de 99 cotistas, em dezembro. No caso dos fundos de ações, foram excluídos os setoriais e os monoações. Entre os multimercados, não foram considerados os fundos de crédito privado.

Importante lembrar que retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, embora seja interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

Já entre os fundos que mais deixaram a desejar no ano passado, a maior perda na categoria da renda variável ficou a cargo do Alaska Black BDR Nível I, que perdeu 45,3% no período, muito por conta do tombo de 60% em março, puxado, entre outros fatores, pela aposta na valorização do real.

Também tiveram quedas significativas o Hayp FIA, com desvalorização de 37% em 2020, e os fundos Itaú Institucional Ações Phoenix e Mauá Capital Ações, com baixas ao redor de 20%.

Vale ainda menção às estratégias de dividendos entre as maiores perdas do período, caso dos fundos da Icatu e da XP.

Os melhores e os piores multimercados

No universo dos multimercados, os fundos com exposição global também foram o grande destaque de 2020. Cabe destacar que o resultado atraente se deve tanto ao momento positivo do setor digital como à valorização do dólar, que subiu quase 30% contra o real.

Além dos produtos internacionais, conseguiram seu lugar ao sol entre as maiores rentabilidades do ano passado os multimercados da categoria long bias da Versa e da Truxt.

Esses fundos têm exposição majoritária à Bolsa brasileira, mas com maior flexibilidade do que os long only para reduzir a exposição comprada em ações, quando a volatilidade aumenta.

Já a maior perda do levantamento em 2020 foi do Exploritas Alpha América Latina, com baixa de 27,1%, principalmente pela queda de 37,5% em março, influenciada pela desvalorização dos títulos argentinos na ocasião, bem como pela aposta na valorização do real.

Ainda marcaram presença na ponta de baixo do ranking os multimercados dedicados à Bolsa local, que conseguiram se recuperar de parte das perdas de 2020 no fim do ano, mas não em tamanho suficiente para fechar o período no azul.

Era digital

Entre os maiores destaques positivos de 2020, o grupo das gigantes americanas de tecnologia reunido na sigla FAAMG (Facebook, Amazon, Apple, Microsoft e Google) invariavelmente tem alguma ou algumas de suas representantes entre as principais responsáveis pelos números impressionantes alcançados no ano passado.

E embora a pandemia tenha representado um momento extraordinário para o setor, as perspectivas aguardadas pelos especialistas ainda seguem as melhores possíveis para Microsoft, Google, Amazon e companhia.

“A pandemia antecipou essa tese de investimento [do aumento da digitalização], mas não mudou o cenário”, afirmou Mauricio Lima, especialista de investimentos da Western Asset.

A visão é compartilhada por Artur Wichmann, CIO da XP Private. “Do ponto de vista do investidor, apostar contra essa tendência pode ser perigoso, porque ele estará perdendo uma avenida de crescimento que não vai durar dez, mas 20, 30 anos”, assinalou o especialista.

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Retomada da Bolsa

Entre os multimercados, o Versa Long Biased conseguiu despontar à frente dos fundos globais, ao se aproveitar da forte recuperação nos preços das ações brasileiras e da alavancagem, para cravar uma alta de quase 84% em 2020.

Segundo o gestor Luiz Fernando Alves, o multimercado tem como filosofia carregar uma carteira comprada (que aposta na alta) em ações de valor, mais cíclicas, como de bancos, construção civil e commodities.

Justamente por conta desse movimento de rotação dos investidores para as ações que ficaram descontadas na crise, em detrimento às de tecnologia, os últimos meses do ano passado foram marcados pela forte alta das carteiras voltadas para as ações brasileiras, como do Logos Total Return.

O fundo rendeu 20,5% e liderou os ganhos entre os multimercados em dezembro. Isso após uma alta ainda mais expressiva em novembro, de 46%. Ainda assim, não foi o suficiente para impedir uma queda de 26% em 2020.

Na renda variável, o quadro foi parecido, com as maiores valorizações a cargo daqueles veículos que esmiúçam as oportunidades locais, como o SulAmerica Selection, que rendeu 15,1% em dezembro, e 9,4%, no ano passado.

Confira a seguir os cinco melhores e piores desempenhos de fundos de ações e multimercados em dezembro.

O CIO da Logos, Luiz Henrique Guerra, reconhece que a gestora demorou para perceber o potencial dos estragos causados pela pandemia. “Desprezamos a covid-19, fomos lentos para reduzir a posição, e mais lentos para aumentar depois da queda”, diz em relação ao resultado do ano passado, que teve ainda a influência de posições no setor aéreo no início da crise.

Após uma recomposição do nível de risco em meados do segundo semestre, a posição comprada passou de aproximadamente 90% para algo mais perto de 140%, o que explica a rentabilidade destacada no último bimestre de 2020.

Entre as principais apostas, que já vinham mesmo antes da pandemia e seguem até hoje na carteira, estão nomes como Eletrobras e Sabesp.

Os investimentos se justificam pelas perspectivas do valor que ainda pode ser destravado, seja por causa da capitalização da empresa de energia ou da privatização da companhia de saneamento, explica Guerra.

O setor de commodities é outra tese de investimentos que não é nova no multimercado e continua com presença importante para 2021, por meio de ações como Vale, Suzano e Klabin.

A tese que aposta no bom desempenho das ações das produtoras de matéria-prima também tem tido seu espaço na carteira do fundo de ações da SulAmerica, diz o vice-presidente de investimentos, Marcelo Mello.

Com as perspectivas de retomada da atividade em 2021, o fundo recentemente reduziu as posições em ações que já subiram bastante nos últimos meses, como Weg, Intermédica e Via Varejo, para aumentar em outras como Usiminas, Suzano, 3R Petroleum e Petro Rio, afirma Mello.

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