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Com juro no piso histórico e maior oferta de produtos, fundos internacionais crescem e aparecem no mercado brasileiro

Dos cerca de R$ 150 bilhões que a indústria de fundos captou em 2020, aproximadamente um terço foi direcionado para produtos globais, segundo Anbima

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – A redução da taxa Selic para 2% ao ano foi provavelmente a principal responsável pela migração em massa observada durante 2020 da renda fixa para a Bolsa, mesmo com todas as incertezas despertadas pela pandemia.

E por conta das oportunidades relativamente limitadas do mercado acionário brasileiro, em comparação às opções disponíveis em mercados mais desenvolvidos, como o americano, as estratégias globais de investimento aos poucos começaram a ocupar cada vez mais espaço nas carteiras do investidor brasileiro.

Ainda mais em um ano no qual o desempenho destacado das bolsas dos Estados Unidos, impulsionadas pelas gigantes do setor de tecnologia, deixou claro o poder da diversificação geográfica, em ativos com baixa correlação entre si e que não encontram paralelo localmente.

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Devido aos juros baixos e às perspectivas favoráveis para o mercado global de maneira ampla, seja para companhias de tecnologia ou da “velha economia”, os fundos internacionais entraram, de uma vez por todas, no radar do investidor brasileiro, diz Fabiano Cintra, especialista da XP.

Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), dos cerca de R$ 150 bilhões que a indústria de fundos captou em 2020, até 14 de dezembro, aproximadamente um terço foi direcionado para produtos globais.

Entre as classes que mais receberam dinheiro dos investidores, os multimercados de investimento no exterior captaram R$ 37 bilhões no período, tendo alcançado patrimônio aproximado de R$ 531 bilhões. O dinheiro destinado à categoria está em um crescente nos últimos anos – foram R$ 25,7 bilhões em 2019 completo, e R$ 11,6 bilhões, em 2018.

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Não por acaso, os multimercados internacionais acumulam em 2020, até 14 de dezembro, a maior rentabilidade entre as subcategorias da classe, com ganhos da ordem de 9,9%, contra valorização de 6,85% dos multimercados livres, em que os gestores costumam navegar entre Bolsa, câmbio e juros.

A indústria local de fundos como um todo soma um patrimônio de quase R$ 6 trilhões, com a maior concentração ainda na renda fixa.

Ásia emergente

Segundo Cintra, uma boa amostra do aumento da demanda do investidor pelas estratégias internacionais pode ser extraída do próprio crescimento da XP no segmento.

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Em dezembro de 2019, os ativos sob custódia da área de fundos internacionais da corretora somavam aproximadamente R$ 2 bilhões, valor que saltou para mais de R$ 12 bilhões em cerca de um ano.

A XP lançou cerca de 60 fundos internacionais em 2020, encerrando o período com um número próximo de 90 produtos.

Após o investidor iniciar a internacionalização com um foco voltado aos fundos de caráter mais global ou, em muitos casos, às bolsas dos Estados Unidos, o especialista começa a notar uma procura crescente por novas estratégias e regiões, com destaque para o gigante chinês.

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“A China é a segunda maior economia global, não tem mais como ignorar esse mercado”, afirma Cintra, acrescentando que a XP tem trabalhado para aumentar a oferta de produtos dedicados à região, em linha com a maior demanda dos clientes.

Entre os fundos incluídos recentemente na plataforma, estão o “Asia Technology Equity” e o “All China Focus Equity”, da Wellington, e o “JP Morgan China A”, como os nomes deixam claro, voltados para oportunidades específicas da região.

Esses fundos, no entanto, estão acessíveis hoje somente ao investidor qualificado, por força da regulação, o que não impede o investidor do varejo de também se expor ao crescimento do gigante chinês.

Há na grade, lembra o especialista da XP, produtos de gestão indexada que podem ser comprados por qualquer interessado, como o “Trend Bolsa Chinesa”, que acompanha o índice MSCI China, com aplicação inicial de R$ 100,00. “A internacionalização é um caminho sem volta, que está apenas no começo”, prevê o especialista.

Fora do óbvio

Fernando Cortez, diretor comercial da Schroders, se mostra esperançoso com mudanças regulatórias em 2021 para facilitar o acesso dos investidores a todos os produtos internacionais, o que deve dar ainda mais tração para o movimento de internacionalização.

No início de dezembro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciou a abertura de uma audiência pública para tratar da modernização da legislação, com a possibilidade de fundos que alocam 100% da carteira no exterior serem acessíveis para o público geral.

“Não faz sentido o investidor poder escolher BDRs individualmente de empresas estrangeiras, mas não delegar o serviço para um gestor profissional especializado, baseado no país de origem da empresa”, diz Cortez.

Um dos fundos da gestora hoje restrito ao investidor qualificado, o “Schroder Tech Equity Long & Short”, busca justamente teses de investimento que não estão tanto em evidência, e tampouco disponíveis na Bolsa brasileira, mas vistas com alto potencial de valorização.

Entre as principais apostas da carteira, estão empresas como a Zillow, market place voltado ao mercado imobiliário, ou a HelloFresh, de delivery de comida.

“São estratégias que não dependem das FAAMG para ir bem, com a atribuição da performance vinda principalmente de nomes menos óbvios, de papéis menores.”

Separação dos retornos

Mesmo com as restrições, o investidor brasileiro que apostou na internacionalização em 2020 se deu bem. Entre as maiores rentabilidades da indústria local de fundos nos 12 meses encerrados em novembro, há um claro predomínio daqueles dedicados aos ativos globais.

Na categoria de renda variável, o grande destaque fica por conta dos fundos de BDRs, recibos lastreados em ações de empresas estrangeiras, mas negociados na B3.

Já entre os multimercados, os produtos que acompanham os principais benchmarks das bolsa americanas, como o S&P 500, dominam a lista das maiores rentabilidades nos últimos 12 meses.

Leia também:
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São veículos, em sua maioria, de menor complexidade, que seguem apenas o comportamento dos índices de referência, o que o gestor do multi family-office Portofino, Mario Kepler, entende ser o mais indicado para o investidor que ainda não tem tanta familiaridade com o tema. “Às vezes, o mais simples para começar é melhor.”

A valorização do dólar frente ao real também jogou a favor das aplicações globais no intervalo, mas o especialista alerta que nem sempre será assim.

Por isso, apesar da recente contribuição positiva gerada pela divisa americana, Kepler recomenda ao investidor que está dando os primeiros passos no mercado internacional fazer a alocação com a proteção (hedge) contra a variação cambial.

Dessa forma, explica, será possível uma clareza maior sobre qual o retorno e a descorrelação gerada pela alocação nas bolsas internacionais efetivamente, e não pelo dólar, que esteve e pode continuar sob intensa volatilidade.

Aposta perigosa

Embora a valorização da Nasdaq, a bolsa de valores dos Estados Unidos na qual são negociadas as ações das principais empresas de tecnologia do planeta, supere a casa dos 40% em 2020, é difícil de imaginar que a trajetória de crescimento dos hábitos digitais tenha qualquer tipo de reversão no futuro, diz Artur Wichmann, CIO da XP Private.

A cesta de consumo tem hoje muito mais bens digitais do que há 13 anos, pondera Wichmann, em referência ao lançamento da primeira edição do iPhone. Em 2033, a tendência é que essa cesta de consumo tenha, além de mais gastos com saúde, um número maior de bens digitais, prevê.

“Do ponto de vista do investidor, apostar contra essa tendência pode ser perigoso, porque ele estará perdendo uma avenida de crescimento que não vai durar 10, mas 20, 30 anos.”

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