BDRs: Rotação setorial leva a mudanças nas carteiras, mas tecnologia segue como principal aposta para 2021

Techs devem continuar a se beneficiar tanto do avanço da digitalização quanto de uma retomada econômica

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Em um ano de grandes mudanças nos hábitos sociais em meio às medidas de isolamento para conter o avanço da Covid-19, a tecnologia foi o setor que mais se destacou nas bolsas mundiais, seja por conta do comércio eletrônico, das plataformas de videoconferência, da busca por serviços de streaming, bem como pelos avanços na biotecnologia, entre tantos outros segmentos.

E embora a Nasdaq acumule ganhos de quase 40% em 2020 e um movimento de rotação setorial tenha começado, diante de uma esperada volta à normalidade com a vacina, a avaliação de gestores de fundos de BDR (sigla para Brazilian Depositary Receipt) é de que a empresas de tecnologia seguirão como o principal destaque de 2021, se beneficiando tanto do avanço da digitalização quanto de uma retomada econômica.

“A pandemia antecipou essa tese de investimento, mas não mudou o cenário”, afirma Mauricio Lima, especialista de investimentos da Western Asset.

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A avaliação é compartilhada por Roberto Arai, gestor da Bradesco Asset Management (Bram). “As empresas de tecnologia ou ligadas a esse setor foram as vencedoras na pandemia, seja por conta do trabalho remoto como pelo e-commerce, e são as companhias nas quais queremos estar posicionados em 2021”, diz.

No fundo de BDRs da Western, que, com a ajuda da alta do dólar, acumula valorização da ordem de 60% no ano, até 16 de dezembro, e em 12 meses, cerca de 30% da carteira está alocada no setor de tecnologia, 20% em bens não essenciais e 12% no segmento de saúde, como farmacêuticas.

Atualmente, as maiores posições no portfólio são Amazon, Facebook, Visa e Home Depot, empresa de materiais de construção que tem se beneficiado das medidas de isolamento social e que deverá se favorecer diante de uma normalização da economia, diz Lima.

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Companhias farmacêuticas, como a BioMarin Pharmaceutical, também fazem parte da carteira, de forma a capturar o desenvolvimento de tratamentos e medicamentos, bem como a criação de patentes, assinala o gestor da Western. “É um setor interessante, que ainda não permite uma exposição forte no Brasil.”

Já no lado do consumo, nomes como a atacadista Costco e o grupo Walt Disney são os preferidos da asset.

No caso da Bram, Arai destaca a grande exposição nos setores de consumo e tecnologia do fundo “Bradesco FIC FIA BDR Nível I”, um dos pioneiros no mercado, criado em 2011, e que possui hoje patrimônio líquido da ordem de R$ 400 milhões.

Também com o efeito da exposição cambial, o produto tem ganhos da ordem de 46% no ano e em 12 meses, até 16 de dezembro.

Segundo dados disponíveis na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as maiores posições do fundo em novembro eram nas “big techs” Apple, Microsoft, Amazon, Facebook e Google. Outros nomes incluíam The Home Depot, Walt Disney, Netflix, Visa e Berkshire Hathaway.

Turismo e consumo

De olho na rotação setorial em curso, que tem favorecido companhias com negócios mais prejudicados pela pandemia, Guilherme Giserman, estrategista internacional da XP, realizou em dezembro duas mudanças na carteira recomendada de BDRs da casa.

A primeira delas foi a substituição de Microsoft, que dispara cerca de 35% no ano, por Booking.com. “É uma empresa excelente, com bastante crescimento e que possui uma base fiel de usuários. Além disso, ela tem uma posição relativamente confortável para aguentar a crise e é um bom player para se beneficiar de uma reabertura e recuperação econômica, com a chegada de uma vacina”, diz.

Embora veja uma retomada gradual do turismo, o estrategista diz que nem tudo deve voltar ao normal. É o caso das companhias aéreas que, segundo ele, vão continuar a ser impactadas negativamente, dada a substituição de viagens por conexões remotas.

Outra troca realizada na carteira foi de Amazon por Walmart. Além da entrada no comércio eletrônico, Giserman ressalta a estrutura física da varejista, o que a coloca em uma melhor posição para uma recuperação.

Segundo o estrategista, a rotação setorial deve continuar no curto e no médio prazo, mas, em um horizonte mais longo, as companhias de tecnologia continuarão a apresentar desempenho superior à média.

“No longo prazo, não muda o que vemos nas nossas preferências estruturais e o que vimos na última década: as empresas de crescimento, como tecnologia, carregando nas costas a expansão de lucro do S&P 500 e puxando a performance das bolsas mundiais”, afirma.

Na carteira da XP, nomes como Facebook e Google compõem a fatia voltada às empresas do Vale do Silício. O portfólio conta ainda com Alibaba, Walt Disney e Nike.

“A Disney é um modelo híbrido entre a economia antiga, de mídia e parques, e a nova economia, de streaming. Nike também possui esse modelo misto, do varejo tradicional e do eletrônico”, afirma.

Demais papéis incluem a empresa de games Activision Blizzard, a de saúde Johnson&Johnson e a companhia do megainvestidor Warren Buffett, Berkshire Hathaway.

Raio-X do mercado em 2020

Em um ano marcado pela menor taxa básica de juros no Brasil, os investidores mais conservadores se viram na obrigação de ampliar a fatia de risco do portfólio na busca por melhores retornos.

E os BDRs entraram como uma alternativa, principalmente a partir de outubro, quando foi liberado o investimento para pessoas físicas. Até então, a negociação era restrita a investidores qualificados, com ao menos R$ 1 milhão em aplicações financeiras.

Marcelo Nantes, CIO na Bradesco Asset Management, defende que os BDRS são uma “excelente” maneira de ampliar as posições para diferentes classes de ativos, ao mesmo tempo em que o investidor consegue diminuir o acréscimo de risco, dada a diversificação geográfica, setorial e da moeda.

Entre os BDRs mais negociados neste ano, o Mercado Livre aparece em destaque, com um volume médio diário de R$ 7,4 milhões, segundo dados da B3. Na sequência aparecem Tesla, com volume de R$ 6,8 milhões, e Apple, com R$ 6,7 milhões.

Existem hoje 671 alternativas de BDRs na Bolsa brasileira, a maior parte (11%) do setor de tecnologia. Na sequência, estão os segmentos de serviços financeiros (6,3%), comunicação (5,5%) e energia (5,4%).

Com relação aos países de origem, cerca de 83% dos BDRs negociados na Bolsa brasileira são dos Estados Unidos.

No ano até novembro, o volume total negociado correspondeu a R$ 23,1 bilhões e já supera de longe os dados registrados nos anos anteriores. O número de investidores, por sua vez, saltou de 2,9 mil, em dezembro de 2019, para 98,3 mil em novembro deste ano.

2021 permanece desafiador

Ainda que a chegada de uma vacina anime os mercados, Lima, da Western, argumenta que o cenário permanece incerto para o próximo ano, com dúvidas acerca da velocidade de uma segunda onda de contaminações pelo vírus e da chegada de um medicamento para toda população.

No âmbito doméstico, o não endereçamento da questão fiscal segue no radar e, até que seja resolvido, exigirá que o investidor diversifique ainda mais o portfólio para minimizar os riscos, alerta.

Arai, da Bram, destaca que setores ainda muito machucados por conta da pandemia não necessariamente representam uma boa oportunidade apenas por conta dos preços descontados.

“Não é porque acabou a eleição americana ou que chegou uma vacina que tudo melhorou. O cenário continua muito desafiador para os próximos trimestres e anos. Vamos fechar 2020 com PIBs negativos em quase todos os países desenvolvidos”, diz.

O gestor argumenta que a desaceleração global e o desafio fiscal vão comprometer o crescimento e a atividade econômica, tanto no Brasil quanto no mundo, e que, neste ambiente, bancos, por exemplo, devem ter um desafio grande nos próximos trimestres. “E se isso bate em atividade, emprego, consumo, vai bater também em petróleo e demais commodities”, completa.

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