Ações, FIIs e renda fixa: saiba onde investir após o corte da Selic para 13,25% ao ano

Especialistas veem oportunidades em todas as classes de ativos: "momento é muito oportuno para investir"

Leonardo Guimarães

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Agora é oficial: o ciclo de cortes na taxa básica de juros finalmente começou. Depois de muita expectativa, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, nesta quarta-feira (2), diminuir a taxa Selic para 13,25% ao ano, abrindo uma janela de oportunidade para todos os investidores, do conservador ao agressivo.

“O momento é muito oportuno para investir”, diz Arley Junior, estrategista de Investimentos do Santander Brasil, que completa: “se antes somente a renda fixa entregava retornos interessantes, agora todas as classes de ativos têm oportunidades”.

Para especialistas, o mercado de ações volta definitivamente ao radar do mercado, mas a renda fixa segue atrativa, mesmo com a perspectiva de novas quedas da Selic. “O cenário estava melhor para quem investiu há dois meses, mas ainda acho que tem oportunidade na renda fixa’, diz Marina Renosto, head de alocação da Blackbird Investimentos.

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O tom do comunicado foi visto como “moderado” por Vinicius Romano head de renda fixa da Suno Research. “O Comitê retirou alguns pontos de preocupação, como com a parte fiscal, e falou sobre a ancoragem de expectativas de inflação de forma positiva”, avalia o especialista.

O Copom diz que a confiança para iniciar o ciclo de corte veio da junção de dois fatores: melhora do quadro inflacionário, que respondeu aos juros altos, e queda das expectativas de inflação para prazos mais longos após recente decisão do Conselho Monetário Nacional sobre a meta para a inflação.

O comunicado também destaca que “os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. Rachel de Sá, chefe de economia da Rico, explica que o trecho é um recado para o mercado: “não é porque o ciclo de cortes começou com queda mais relevante que a autarquia vai acelerar o ritmo de reduções”. Ou seja, um corte de 0,75 p.p. na próxima reunião está descartado por enquanto.

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Confira a visão de especialistas consultados pelo InfoMoney para cada tipo de investimento após o primeiro corte da Selic em três anos:

Ações

A Bolsa brasileira viveu um rali entre março e junho, quando o Copom se reuniu e sinalizou — sutilmente — que poderia cortar os juros em agosto, mas o Ibovespa vem andando de lado desde então. O índice saiu de 120.420 pontos no fechamento de 21 de junho para 120.858 na sessão de hoje.

Mesmo assim, especialistas acreditam que ainda há espaço para avanço nos preços das ações. “Ainda há assimetria de preços em algumas ações, por isso o Ibovespa pode ter movimento positivo até o fim do ano”, diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos. Ele, porém, pondera dizendo que boa parte do movimento de queda de juros já foi precificado pelo mercado na Bolsa.

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Se o corte de juros fosse menos intenso, de 0,25 p.p., Arley Junior, do Santander, esperava uma reação tranquila do mercado, mas a queda da Selic para 13,25% ao ano “abre margem para um rali mais intenso na Bolsa no curto prazo”.

O Santander prevê que o Ibovespa chegue aos 140 mil pontos em agosto do ano que vem. “Estamos falando para os clientes começarem a investir em ações para aproveitar o nível de preço, vemos bom espaço para valorização com a queda dos juros”, diz Arley Junior.

Para Harada, setores defensivos são as melhores apostas para o momento. Empresas de energia, bancos, commodities e incorporadoras de alto padrão são listados como os segmentos que devem se valorizar daqui para frente.

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A carteira recomendada do Santander para agosto tem ações do Banco do Brasil (BBAS3), Cyrela (CYRE3), Equatorial Energia (EQTL3), Itaú (ITUB4), Petrobras (PETR3) e Vale (VALE3), todas dos setores citados por Harada. Há ainda uma varejista — Vivara (VIVA3) — uma empresa de tecnologia — Totvs (TOTS3) — e uma administradora de shoppings — Multiplan (MULT3).

Por outro lado, por mais promissor que o investimento na Bolsa seja agora, investir em ações ainda é arriscado e o investidor precisa de atenção especial ao cenário internacional, segundo Mario Schalch, gestor de multimercado da Neo Investimentos. “É um cenário em que o apetite por mercados emergentes (como o brasileiro) pode derreter rapidamente, especialmente se houver decepção com a atividade econômica lá fora’, diz Schalch.

O especialista explica que é importante monitorar os indicadores econômicos dos Estados Unidos e os sinais que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) dará sobre a condução da política monetária do país.

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Fundos imobiliários

Nos FIIs, reconhecem que o otimismo com o corte de juros fará preço no mercado, mas lembram que os fundos imobiliários são afetados por diversos fatores macroeconômicos e é importante que a atividade econômica responda ao corte na Selic.

Para Marcos Correa, especialista em Investimentos na Suno Research, a alta de 11,57% do IFIX — índice de referência do mercado de FIIs — no ano veio para corrigir assimetrias nas cotações e o otimismo ainda não apareceu nos preços. “A maior parte desse movimento foi de correção de ativos que estavam mais baratos do que deveriam”.

João Vítor Freitas, analista da Toro Investimentos, vê potencial para valorização dos FIIs mesmo após o rali do primeiro semestre. “Mesmo com antecipação do mercado, a tendência é que os juros mais baixos sigam estimulando os FIIs”, diz Freitas.

Os FIIs “de tijolo”, que compram galpões logísticos, shoppings e escritórios, são os mais falados do momento. Isso porque alguns segmentos sofreram muito durante a pandemia de Covid-19 e voltam de vez ao radar dos investidores com a queda de juros.

Correa, da Suno, avalia que os fundos que investem em escritórios e shopping centers têm o maior potencial de valorização. “Eles tiveram valorização maior que outros setores, mas estavam muito mais baratos e têm ativos ainda muito descontados”.

Por outro lado, ele acredita que há poucas oportunidades nos segmentos de logística e renda urbana — FIIs que investem em imóveis comerciais ocupados por supermercados, atacarejos, agências bancárias. “É possível encontrar algumas oportunidades, mas esses setores já andaram bastante e não vejo tanto desconto”.

Enquanto os FIIs de tijolo são a bola da vez, os fundos que investem em recebíveis, conhecidos como fundos de papel, devem sofrer nos próximos meses. “Eles passaram por um período de bonança com altas taxas de CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) atrelados à inflação e ao CDI, agora, com a queda da inflação e do CDI, é de se esperar pressão nas cotações dos FIIs de papel e seus rendimentos”, explica Freitas, da Toro.

Fundos de investimento

Em um cenário com o mercado acionário otimista após corte de juros, aprovação de pautas econômicas importantes no Congresso Nacional no primeiro semestre e inflação em queda, os fundos multimercados se apresentam como opção para capturar ganhos que diversos tipos de investimento oferecem agora.

“Os gestores de fundos multimercados têm um histórico de aproveitar muito bem o ciclo de queda dos juros por serem flexíveis e eficientes”, elogia Arley Junior, do Santander.

Especialista na área, Mario Schalch explica que “há diferentes estilos de fundos multimercados, mas a especialidade é buscar alternativas que não são tão discutidas no momento”. Ele ainda cita como vantagens desses fundos a diversificação, os estudos para investir em um ativo e a disponibilidade que os gestores têm para tomar decisões rápidas, quando necessário.

O Santander segue indicando fundos que investem em debêntures incentivadas. A recomendação vem desde fevereiro, quando o banco viu abertura nas taxas após o pedido de recuperação judicial da Americanas.

Renda fixa

Os ativos indexados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) seguem no topo das indicações de especialistas. A proteção contra a inflação atrelada a juros reais atrativos justificam a preferência pelo produto entre os títulos públicos.

“Para o momento atual, faz mais sentido investir em ativos indexados ao IPCA porque eles podem voltar a se valorizar ao acontecer qualquer evento que faça a inflação subir novamente”, diz Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed.

Há meses o Santander recomenda títulos do Tesouro IPCA+. O indicado para agosto é o papel com vencimento em 2035. A justificativa para a escolha é que esses papéis protegem o investidor em qualquer cenário: na alta da inflação, o título paga a variação do IPCA mais um prêmio, mas com cenário favorável na economia é possível lucrar com a venda antecipada do ativo.

Para os investidores mais arrojados, a migração para o crédito privado pode fazer sentido para buscar taxas mais atrativas. As debêntures seguem sendo recomendadas por especialistas depois que o caso Americanas fez as taxas subirem e permanecerem altas até agora.

“É uma boa hora para comprar debêntures. O spread ainda não começou a cair e se acreditarmos que as coisas vão para o lado certo na economia brasileira, as empresas passam a ter situação mais confortável para arcar com as dívidas”, diz Renato Ramos, diretor de renda fixa da gestora Empírica.