Mobius descarta risco de recessão nos EUA e defende investimento no Brasil

Gestor veterano aposta nas ações da varejista Lojas Americanas e da rede de ensino Kroton, e sugeriu que compraria Petrobras se seu fundo comportasse

Beatriz Cutait

Bloomberg

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SÃO PAULO – Não há preocupação com uma recessão nos Estados Unidos, tampouco receio de que o ciclo de alta da Bolsa brasileira esteja perto o fim. Para o veterano investidor Mark Mobius, ex-Franklin Templeton, os sinais estão muito favoráveis para o Brasil, que responde por uma de suas principais apostas atualmente.

Em entrevista ao InfoMoney, o guru dos mercados emergentes – que deixou a Franklin Templeton para montar sua gestora, a Mobius Capital, em 2018 – contou que 15% da carteira de seu fundo está investida em ações de empresas brasileiras, mesmo peso que ocupam as companhias indianas. Apenas as chinesas têm participação maior, de 20%, num portfólio que conta ainda com alocações na Coreia do Sul, na Polônia, na Rússia, em Taiwan, no México, na Turquia e na Indonésia.

No Brasil, suas principais posições são as ações da varejista Lojas Americanas e da rede de ensino Kroton, que substituiu Iochpe-Maxion no portfólio. Outras empresas de educação e também de bens de consumo e de tecnologia estão no radar, e, “se pudesse”, Mobius sugeriu que compraria papéis da Petrobras. Hoje, a estratégia do fundo é investir em empresas de médio porte.

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“Não se pode esperar resultados do dia para noite, essas coisas levam tempo, mas estamos num momento muito bom olhando para o Brasil, para como a economia vai se comportar. Acho que o Ibovespa vai performar muito bem”, afirmou, em conversa por telefone de Londres.

Fã do Brasil, Mobius disse que pretende retornar ao país, onde já esteve mais de 50 vezes, no início de 2020, e comentou sobre sua visão sobre a conduta do Fed, o banco central americano, que cortou os juros na semana passada, e sobre a situação da Argentina.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

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IM: Qual é a sua expectativa para o mercado brasileiro? Acabamos de ver um corte de juros e as indicações são de novas quedas mais à frente. Isso deve gerar oportunidades, especialmente no mercado acionário?

MM: Definitivamente. Acredito que o corte da taxa de juros ainda terá um grande impacto e vai ajudar a impulsionar os preços para cima. Como se sabe, globalmente as taxas de juros estão sendo cortadas muito agressivamente, o que será positivo para as bolsas, especialmente a brasileira. E o mercado brasileiro tem se comportado muito bem, acredito que pela expectativa de que as reformas sejam aprovadas.

Não se pode esperar resultados do dia para noite, essas coisas levam tempo, mas estamos num momento muito bom olhando para o Brasil, para como a economia vai se comportar. Acho que o Ibovespa vai performar muito bem.

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IM: A Bolsa brasileira não está começando a parecer cara para investidores estrangeiros?

MM: Não, ainda há ótimas oportunidades no mercado. Em uma relação preço/lucro [múltiplo utilizado como base para avaliar se uma ação está cara ou barata], o mundo inteiro parece caro comparado à média anterior. E é também necessário considerar a relação entre os níveis de preços e os juros. Uma taxa de juros de 5% pode justificar múltiplos [preço/lucro] de 20 vezes. Com juros de 1%, a relação pode ir para 100 vezes.

IM: Vocês estão de olho em algum setor específico no Brasil atualmente?

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MM: Estamos olhando para todos os setores do brasil, como de educação, bens de consumo e software e tecnologia. Lojas Americanas seguem em nosso portfólio e temos outra ação brasileira, do setor de educação: Kroton, que compramos nas últimas cinco semanas. E vendemos as ações da Iochpe.

IM: O senhor tem medo de uma nova recessão nos Estados Unidos?

MM: Não, de forma alguma.

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IM: Muitos bancos e gestoras estão recomendando aos investidores reduzir a exposição ao risco. O senhor vê razões para isso?

MM: O que temos recomendado aos clientes é que, como as taxas de juros cada vez menores estão afetando suas economias, eles devem colocar mais dinheiro em dividendos de ações. É onde podem conseguir retorno. E também recomendo que as pessoas invistam em ouro.

IM: Mesmo com os preços mais altos do ouro [o metal já subiu 24% neste ano]?

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MM: Tenho recomendado ouro desde o início do ano, e é verdade que ele subiu muito em um curto período de tempo e que pode haver correções a caminho, levando-o a cair para US$ 1.400 ou US$ 1.500, mas, de forma geral, a tendência ainda é para cima.

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IM: O que achou da última decisão do Fed? Há espaço para novos cortes da taxa de juros?

MM: Definitivamente há espaço para mais cortes. Um dos problemas que o Fed enfrenta é ter que ficar de olho na desvalorização competitiva de outras moedas. O dólar está ficando muito forte, então é importante para o Fed continuar atento às taxas de juros para que a moeda não fique tão forte.

IM: O mercado tem criticado a comunicação do Fed ao longo do processo de flexibilização monetária. Qual sua avaliação sobre o tema?

MM: Acho que o Fed está numa situação complicada, porque se dá conta de que está sendo observado por todos e não quer provocar tanta influência nos mercados, mas, por outro lado, o mercado está demandando que lhe sejam dadas informações, então é uma situação muito difícil. E vale lembrar que o Fed não é uma pessoa, mas um comitê.

IM: O senhor está acompanhando as notícias sobre o ataque à Arábia Saudita e o impacto nos preços do petróleo. Que efeitos devemos esperar no Brasil?

MM: O Brasil pode se beneficiar deste problema no Oriente Médio. Acredito que [o presidente Donald] Trump será muito cauteloso e que, com o aumento das sanções em relação ao Irã, os iranianos vão ficar cada vez mais beligerantes, então acho que isso só pode beneficiar o Brasil.

IM: Nesse cenário, as ações da Petrobras são uma boa opção?

MM: Não é uma má ideia [risos]. No nosso caso, estamos em busca de companhias menores, mas, para quem está comprando empresas maiores, não há razões para que a Petrobras não seja interessante nesse momento.

IM: E o que esperar da Argentina? O senhor investe no país?

MM: Não, evitamos a Argentina, porque não conseguimos entender bem a situação do país. Mas pode haver oportunidades mais à frente, dependendo da administração que assumir o país.

IM: Se Macri [atual presidente da Argentina] vencer as eleições, o senhor investiria no país?

MM: Sim, se ele ganhar, vamos olhar de perto.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.