Com Iochpe-Maxion e Lojas Americanas na carteira, Mobius vê oportunidades no Brasil

Em nova visita ao Brasil, ex-diretor da Franklin Templeton diz não estar excessivamente otimista, mas coloca o país entre as preferências

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – Ele já esteve mais de 50 vezes no Brasil. Adora o carnaval e costuma vir para cá mais de uma vez ao ano desde a década de 1990 para descobrir onde estão as melhores oportunidades de investimento na bolsa. Sua casa mudou, mas Mark Mobius, o guru dos mercados emergentes, continua o mesmo, com um olhar clínico e uma busca incansável pelas boas empresas para se investir.

Depois de 30 anos de Franklin Templeton, Mobius está desde 2018 à frente de sua própria gestora, a Mobius Capital, de dimensão muito menor, porém com o mesmo foco: aplicar em ações de países emergentes. Na verdade, segundo o próprio investidor afirmou em entrevista ao InfoMoney, o novo fundo tem um perfil mais ativo e atua em conjunto com as empresas investidas para melhorar o desempenho ambiental, social e de governança corporativa (ESG, na sigla em inglês).

No Brasil, por enquanto, são duas as empresas nas quais a Mobius Capital investe: Iochpe-Maxion e Lojas Americanas. Mas a busca não deve parar por aí, conta Mobius, que visitou a Kroton nessa passagem pelo país. “Estamos procurando. Queremos voltar e fazer mais avaliações”, disse.

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Já se passava das 19 horas da última quinta-feira quando Mobius decidiu conceder esta entrevista, poucas horas antes de embarcar em um voo de mais de 15 horas para o Qatar, para seguir imediatamente para o Vietnã. Na sequência, paradas em Singapura (onde está baseado), Hong Kong, Romênia, Inglaterra e possivelmente Alemanha e Estados Unidos.

Não à toa, a primeira resposta que lhe vem à cabeça quando questionado sobre as principais diferenças entre atuar na Franklin Templeton e em sua própria empresa diz respeito à agenda atribulada: “Antes eu tinha meu próprio avião”, contou Mobius, em meio a uma risada conformada.

Para quem achou que o senhor de mais de 80 anos de idade fosse se aposentar, ele parece estar bem distante de uma parada. Com uma equipe de dez pessoas, Mobius cuida hoje de alocações no Brasil, China, Coreia, Turquia, Taiwan, Polônia e México.

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Em terras tupiniquins, Mobius acompanhou discussões sobre a reforma da Previdência, se mostrou otimista com o mercado acionário e revelou ser um admirador do ex-presidente Michel Temer. “É uma pena que o Temer não tenha ficado. A situação ideal seria com ele como vice-presidente. Para o ambiente político seria uma esperança”, comentou.

O cenário político é sua principal preocupação mundial, especialmente o Congresso Americano. O gestor afirmou que as eleições nos EUA serão um grande teste e disse enxergar uma mudança de paradigma global, com mais líderes “dispostos a desafiar o status quo“. A preocupação recai especialmente sobre alguns democratas, enxergados por Mobius como “comunistas”.

A Mobius Capital tem dois fundos, sendo apenas um deles, sediado em Luxemburgo e ofertado no Brasil, aberto para investimentos. A gestora, que começou a captar recursos apenas em setembro, tem patrimônio de US$ 170 milhões, que poderá subir para, no máximo, US$ 2 bilhões.

Além da entrevista concedida pessoalmente ao InfoMoney, Mobius também respondeu algumas perguntas por e-mail. Confira a seguir os principais trechos:

Mercado brasileiro

“Acho que ainda existem grandes oportunidades no mercado brasileiro. O Brasil está em processo de recuperação da crise de 2015/16 e, mesmo que os sinais mostrem uma parada no último trimestre, os investidores permanecem cautelosamente otimistas de que (o presidente Jair) Bolsonaro vai impulsionar as reformas essenciais e colocar o país de volta no caminho do crescimento.

[…] O Brasil precisa de reformas abrangentes e parece que Bolsonaro está em melhor posição para tocá-las do que outro governo socialista. O país está saindo de uma recessão e as políticas fiscais serão importantes para determinar seu futuro econômico. Nós não estamos excessivamente otimistas e queremos ver a mudança real acontecer antes de fazermos uma avaliação final.”

Reforma da previdência

“Acredito que a reforma do sistema previdenciário é uma parte crucial da agenda de Bolsonaro, mas não é fácil insistir nisso. É claro que qualquer notícia negativa nessa frente deixará os investidores inquietos.

Do lado positivo, o Brasil é abençoado por um setor privado muito forte. Não apenas o setor bancário provou ser resistente a crises, mas um grande número de empresas brasileiras progrediu muito na última década. Existem modelos de negócios robustos voltados para o mercado doméstico, e também um número cada vez maior voltado para a exportação.

Além disso, algumas reformas importantes já foram iniciadas no governo anterior, como o plano de privatizações. Assim, no macro e no micronível, o Brasil tem uma vantagem sobre, por exemplo, a vizinha Argentina. […] Sei que muita gente acha que não está tão bom. Ouvi que as pessoas acham que o Bolsonaro não sabe fazer política, mas você não pode esperar muito de um dia para o outro. Toma tempo. A direção está certa.”

Bolsa brasileira barata?

“No estágio atual, vários fatores positivos foram precificados no mercado de ações, que tem experimentado uma recuperação fantástica desde o início do ano – até recentemente, pelo menos. Mas ainda há oportunidades. É preciso olhar para as empresas individualmente e fazer um ‘stock picking’ adequado.”

As preferências do guru

“Acredito que o mercado acionário brasileiro oferece uma série de oportunidades interessantes relacionadas a consumo e ao setor industrial. Descobrimos que as empresas não adotaram totalmente a tecnologia mais recente, mas acho que ela virá e é aí que há oportunidades. O mais importante é o incrível impacto que a internet e a revolução digital estão tendo no Brasil em todos os setores.”

Brasil, China e Coreia

“No ambiente atual, vemos muitas oportunidades em diferentes regiões geográficas. Nossos ativos estão espalhados pelo Sudeste Asiático, pela América do Sul e pela Europa Oriental. As principais posições estão atualmente na China, na Coreia do Sul e no Brasil, o que indica que vemos oportunidades aqui.”

Otimista convicto

“Não vejo uma desaceleração da economia global, de forma alguma. Na semana passada estive com a ex-presidente do Fed Janet Yellen, e ela confirmou minha avaliação de que a economia dos EUA está indo muito bem. O crescimento não será tão alto quanto no ano passado, mas o será bom. Como a economia dos EUA é a líder mundial, isso é uma boa indicação. Mas, mais importante, a China continua a crescer a um ritmo muito alto e agora a Índia está crescendo a uma taxa mais alta do que a da China.”

Reformas e crescimento

“Se Bolsonaro seguir em seu caminho de reformas e continuar a impulsionar a reforma previdenciária, bem como o plano de privatização, acredito que isso beneficiaria tanto a economia brasileira quanto o mercado. Naturalmente, o mais importante são os resultados corporativos. À medida que os lucros das empresas brasileiras se recuperem, isso será bom para o mercado local.”

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.