Você já ouviu falar de contratos futuros? E de opções ou swaps? Todos esses nomes são tipos de derivativos, um instrumento financeiro muito usado pelos investidores para proteger suas operações — ou para lucrar no mercado.

Como permite a movimentação de valores pequenos, o mercado de derivativos tem despertado a curiosidade e o interesse cada vez maior de pessoas físicas.

Mas como efetivamente funcionam esses instrumentos? Como podem ser usados para compor estratégias diferentes de aplicação? É isso que este guia do InfoMoney vai responder. Confira

O que são derivativos?

O nome já indica: derivativos são um instrumento financeiro que tem o preço “derivado” do preço de um ativo, de uma taxa de referência ou até de um índice de mercado.

Existem derivativos de ativos físicos, como soja, café ou outro, mas também de ativos financeiros, como ações, taxas de juros ou moedas.

Quem negocia um contrato futuro de dólar, por exemplo, não opera o dólar em si, mas um contrato baseado no seu valor no mercado à vista.

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São quatro os tipos mais comuns de derivativos:

  • Contratos a termo
  • Contratos futuro
  • Opções
  • Swaps

As negociações podem ser realizadas tanto no mercado de balcão quanto em Bolsas. No Brasil, a B3 possui um mercado de derivativos bastante desenvolvido.

Não é sempre, mas geralmente os derivativos são estabelecidos como contratos padronizados. Isso significa que as suas características e as especificações dos seus ativos de referência – como quantidades, prazos e formas de precificação – são definidas previamente.

Assim, todos que comprarem uma opção sobre uma ação para um certo vencimento na B3, por exemplo, irão adquirir o mesmo produto, com as mesmas condições.

A dinâmica tradicional de uma negociação de derivativos é simples. Quem negocia se compromete a comprar ou a vender um determinado ativo por um preço determinado em um prazo estabelecido.

Ao comprar um contrato futuro de milho na B3, por exemplo, o investidor está negociando o equivalente a 450 sacas de 60 kg do produto, ao preço do mercado, com validade até o vencimento – o contrato pode ter o vencimento estabelecido para daqui a alguns dias, meses ou até mais de um ano.

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A propósito da liquidação, no mercado de derivativos ela pode ocorrer de duas formas. Quando a liquidação é física, é preciso realizar a entrega do ativo em negociação na data do vencimento. É mais comum no mercado agropecuário — e mesmo nesse segmento, muitas vezes o investidor não tem interesse na soja, no milho ou no café em si. Se seu objetivo, de fato, é ganhar com a negociação dos papéis, a liquidação física é dispensável.

A outra forma de liquidação é a financeira, que é feita por diferença. Nesse caso, no dia do vencimento do derivativo, é registrada uma venda para o comprador original e uma compra para o vendedor original. Só é movimentada a diferença entre os valores de cada lado da operação, que é finalizada sem a necessidade de entregar os ativos negociados.

Motivos para utilizar derivativos

Para que serve um derivativo? A descrição pura e simples do que é uma opção ou um contrato futuro muitas vezes não dá aos investidores a dimensão do tipo de uso que o mercado faz deles. Na prática, em geral, os derivativos são utilizados para:

Proteção

Um derivativo pode ser usado com o objetivo de proteger o valor de um ativo — uma ação ou uma commodity, por exemplo — de variações que possam acontecer no futuro. Isso porque ele permite fixar antecipadamente o valor de uma mercadoria ou de um ativo financeiro, o que ajuda a diminuir o impacto de uma eventual mudança nos preços do mercado.

O exemplo clássico são as empresas brasileiras que possuem dívidas em dólar. Imagine que, em um determinado momento, a cotação da moeda sobe. Nessa situação, as empresas precisam despender mais reais para quitar as dívidas, porque elas encarecem.

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Para evitar esse tipo de efeito, muitas empresas optam por comprar contratos futuros de dólar — em que o preço da moeda está predeterminado para uma data futura. Assim, mesmo que a cotação suba, elas já adquiriram o direito de negociar a moeda por um certo valor, o que dá previsibilidade para o custo das suas dívidas.

Outro exemplo de uso de derivativos para proteção é o de agricultores que produzem commodities agrícolas, ou de mineradoras que trabalham com commodities metálicas. Com contratos futuros, eles podem garantir — ou “travar”, como se costuma dizer no mercado — o preço de vendas das mercadorias e evitando perdas por uma eventual queda das cotações.

Um termo usado para se referir à proteção proporcionada pelos derivativos é hedge. Quem faz um hedge está menos preocupado em lucrar com as operações, e mais interessado em evitar perdas.

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Especulação

Ao contrário do hedger, que busca proteção para operações que possui na economia real, o especulador compra e vende derivativos para lucrar. Ele ganha com os pequenos diferenciais de preços de aquisição e venda de cada contrato.

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Para um especulador, não importa muito se o derivativo negociado é de moeda, de uma commodity agrícola ou de taxa de juros, porque seu interesse não está nos ativos subjacentes.

Muitos especuladores atuam no day-trade, o que significa que realizam compras e vendas dos mesmos derivativos ao longo do mesmo dia — e apuram seus ganhos (ou perdas) no fim do pregão, contabilizando a diferença entre os preços de cada ponta das operações. Outros, mantêm posições em aberto por alguns dias, apostando que nesse período os preços vão subir ou cair (e lucrando com esses resultados).

Arbitragem

Alguns investidores utilizam os derivativos para fazer operações de arbitragem. Significa que eles procuram lucrar com as discrepâncias de preços que encontram para um mesmo produto em mercados diferentes. Por isso, além dos derivativos, as operações de arbitragem podem envolver outros ativos — como as ações no mercado à vista, por exemplo.

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Isso é possível porque o processo de formação de preços não é perfeito. Embora os ativos estejam expostos às mesmas circunstâncias econômicas e, por conta disso, a expectativa é de que oscilem na mesma medida, nem sempre é o que acontece. É nesses momentos que pode surgir uma oportunidade de ganho.

Uma opção sobre ação, por exemplo, pode indicar um preço futuro para o papel diferente do que os investidores do mercado à vista projetam. Quando percebem isso, os arbitradores agem, e rapidamente, antes que o mercado ajuste os preços. Assim que lucram.

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Em geral, o risco assumido pelos arbitradores é considerado baixo. Como a estratégia básica é comprar o ativo ou derivativo no mercado em que o preço está mais baixo e vender naquele em que está mais alto, já se sabe de antemão o valor de aquisição e o de venda — e isso torna a operação mais certeira.

Na arbitragem, o lucro de cada operação costuma ser pequeno. Por isso, os ganhos efetivamente vêm da quantidade e do volume de compras e vendas. Quanto mais volumosas e frequentes forem os negócios, maiores as chances de acumular ganhos maiores.

Tipos de derivativos

Conheça um pouco mais sobre os tipos de derivativos e as peculiaridades de cada modelo de contrato;

Contratos a termo

Quem compra um contrato a termo se compromete a comprar uma mercadoria ou um ativo financeiro, em uma quantidade determinada, por um preço que está estabelecido desde o momento da negociação, para liquidação em uma data no futuro (também definida desde o início). Já para quem vende um contrato a termo, o compromisso é o contrário: de vender esse mesmo ativo. Esses instrumentos podem ser negociados na bolsa, mas também no mercado de balcão.

Contratos futuros

A definição de um contrato futuro é bastante parecida com a de um contrato a termo: representa o compromisso de comprar ou vender um ativo por um determinado preço em uma data no futuro. A principal diferença está no formato da liquidação.

No caso dos contratos a termo, a liquidação da operação ocorre somente na data de vencimento do papel. Já no caso dos contratos futuros, existe o chamado ajuste diário. Por conta desse mecanismo, todos os contratos futuros que os investidores mantêm são avaliados diariamente a partir de um preço de referência, chamado de preço de ajuste diário. Com isso, na prática, as operações são ajustadas todos os dias de acordo com as expectativas do mercado para o preço futuro do ativo de referência do contrato.

O preço de ajuste diário leva em conta o preço médio das operações feitas com o papel no mercado futuro no período da tarde. A diferença — positiva ou negativa — entre os preços de ajuste diário de um pregão para o outro é apurada. E o investidor que tiver posições em aberto precisa pagar essa diferença (se ela for negativa), ou então receberá o valor na sua conta (se ela for positiva).

O ajuste diário, portanto, é um sistema que apura perdas e ganhos e que ajuda a aumentar a proteção das posições no mercado de contratos futuros. Outra diferença entre eles e os contratos a termo é o fato de serem negociados apenas em Bolsas.

Opções

As opções são o direito de comprar ou de vender um ativo por um preço fixo numa data futura. Para comprar uma opção, é preciso pagar um valor a quem vendeu — chamado de prêmio. Não se trata do preço do ativo em si, mas sim um valor pago para ter a possibilidade de comprar ou vender o ativo mais tarde.

No mercado brasileiro, as mais conhecidas são as opções sobre ações — mas podem existir opções de outros tipos também. O que há em comum é que esses ativos de referência são negociados de forma transparente em pregão.

Quem compra uma opção é chamado de titular. Ele sempre tem o direito de exercer a opção – ou seja, de comprar ou vender o ativo na data do vencimento pelo preço acordado desde o início. Porém, não é obrigado a fazer isso. Pode simplesmente escolher deixar a opção vencer, sem maiores consequências além da perda do valor que pagou como prêmio por ela.

Já o vendedor de uma opção, também chamado lançador, sempre tem a obrigação do exercício caso quem comprou deseje realizá-lo. Pense nas opções de compra de ações da Petrobras, por exemplo. Se, na data do vencimento, o titular delas quiser exercer seu direito de comprar ações da Petrobras pelo preço acordado, o lançador é obrigado a arrumar os papéis correspondentes para vender a ele.

Swaps

Um contrato de swap é um acordo em que dois investidores negociam a troca de rentabilidade entre dois ativos. Na prática, eles trocam de fluxo de caixa entre si, tendo como ponto de partida a rentabilidade de um dos ativos em comparação com a do outro. O objetivo é reduzir os riscos e aumentar a previsibilidade para quem está envolvido na operação.

Pense em um contrato de swap de ouro contra Ibovespa, principal índice de ações do mercado brasileiro. Se na data de vencimento do contrato o ouro tiver uma valorização abaixo da variação do Ibovespa, quem comprou Ibovespa e vendeu ouro receberá a diferença de rentabilidade. Já se o retorno do ouro for superior à variação do Ibovespa, ganha a diferença quem comprou ouro e vendeu Ibovespa.

Como investir no mercado de derivativos

Ficou interessado em operar derivativos no mercado? Siga alguns passos para fazer negociações bem-sucedidas com esses instrumentos financeiros:

Conheça seu perfil de investidor

Antes de tomar qualquer decisão de investimento, é preciso se perguntar a respeito do próprio perfil de investidor. Imagine cenários diferentes de mercado, de ganhos e de perdas, e tente identificar qual a sua reação mais provável diante de cada um. Você seria capaz de suportar alguma perda, durante um certo período? Ou essa possibilidade causa excesso de aflição e tensão?

Avalie também o quanto poderia se dedicar ao mercado de derivativos. Por envolverem um nível de complexidade acima do de outros instrumentos de renda variável, como as ações, os derivativos normalmente exigem um acompanhamento mais próximo das operações e mais tempo para estudar as estratégias e os melhores negócios. Você está disposto a isso? Se sim, siga em frente com convicção.

Escolha uma corretora para operar

Negociar derivativos exige ter uma conta em uma corretora de valores. Essas instituições realizam a intermediação das operações no pregão da B3. Para o caso específico desse mercado, vale a pena considerar alguns aspectos em especial.

Em primeiro lugar, verifique as taxas de negociação cobradas pelas corretoras que estiver avaliando. É comum que as operações com derivativos sejam de valores baixos, mas muito frequentes — e assim, uma taxa elevada pode acabar corroendo os ganhos.

Depois, avalie também os sistemas de análise e negociação disponibilizados pela corretora no seu home broker. Eles são fáceis de usar? Permitem realizar análises aprofundadas de maneira simples? É importante encontrar aqueles que sejam os mais condizentes com suas necessidades.

As corretoras também podem fazer exigências específicas para quem negocia certos tipos de derivativos, como depósitos de margem. Verifique as condições que elas estabelecem para esses serviços.

Para abrir conta em uma corretora, normalmente é preciso enviar cópias de alguns documentos e preencher determinados cadastros — mas esse costuma ser um procedimento relativamente simples. Uma vez que a conta esteja ativa, basta transferir recursos para a corretora (por meio de DOC ou TED) e começar a operar.

Analise os derivativos e defina uma estratégia

Antes de começar a operar, será preciso definir sua estratégia de investimento. Você está interessado nos derivativos como instrumentos de proteção para alguma outra posição de investimento? Ou busca ganhar como um arbitrador ou um especulador, com as pequenas variações de preços no curto prazo? Ter ciência disso é essencial para escolher de que forma você se posicionará neste mercado.

Quando isso estiver claro, busque fazer ou ler análises sobre os derivativos que interessam a você. As corretoras e casas de análise costumam disponibilizar relatórios indicando opções de operações diferentes com derivativos, orientando os investidores a respeito das suas vantagens e desvantagens. Não deixe de procurar esse tipo de documento antes de começar suas próprias negociações.