Efeito reverso? Mercado tem “chuva” de LCAs e taxas sobem após restrições do governo

Enquanto LCIs "secaram" após decisão do CMN sobre isentos, emissões de LCAs sofreram efeito contrário entre janeiro e fevereiro

Leonardo Guimarães

Publicidade

Mais de 40 dias após a decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de restringir os lastros e prazos de ativos isentos de Imposto de Renda, o mercado ainda calcula o impacto das mudanças nesses instrumentos. No caso das Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) e Imobiliário (LCIs), o efeito inicial chama atenção: enquanto as emissões de de LCIs “secaram”, as LCAs caminharam em sentido oposto e o volume mais que dobrou. Já a rentabilidade subiu em ambos os ativos.

A informação está em levantamento da Quantum Finance, realizado a pedido do InfoMoney, com os dados de emissões dos papéis em janeiro, antes da resolução do CMN, e fevereiro, exatamente um mês após o aperto nas emissões.

Em janeiro, as LCIs foram mais representativas, com 1302 papéis contra 208 novas LCAs. Em fevereiro, porém, houve queda brusca de LCIs: apenas 17 foram emitidas, enquanto 688 LCAs foram lançadas ao mercado – aumento de 230% na comparação com janeiro. 

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

CDB 230% do CDI

Destrave o seu acesso ao investimento que rende mais que o dobro da poupança e ganhe um presente exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

LCAs emitidas em janeiro, ANTES das restrições do governo:

Indexadas ao CDI
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
386,00%86,63%88,00%4ABC Brasil
679,50%85,20%93,00%102Banco da Amazônia
1280,00%83,29%97,00%70Santander
2480,00%83,12%95,00%13Bradesco
3680,00%81,92%95,00%19ABC Brasil
Fonte: Quantum Finance

LCAs emitidas em fevereiro, APÓS as restrições do governo:

Indexadas ao CDI
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
386,00%87,00%88,00%3ABC Brasil
681,50%87,60%90,50%5Banco da Amazônia
1280,00%88,36%93,00%160ABC Brasil
2480,50%92,67%96,00%124ABC Brasil
3680,00%93,94%99,00%140ABC Brasil
Indexadas ao IPCA
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
123,25%3,48%3,70%47ABC Brasil
Prefixadas
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
38,85%8,96%9,10%7ABC Brasil
128,05%8,37%9,14%78Banco Original
248,30%8,53%8,71%53ABC Brasil
368,65%8,94%9,25%71ABC Brasil
Quantidade de LCAs aumentou e taxas subiram após mudanças promovidas pelo governo
Fonte: Quantum Finance

Os movimentos contrários entre si têm explicação: “nas LCIs, a normativa trouxe restrição imediata de diversos lastros, o que limitou as emissões; já as LCAs têm um período de transição para a restrição, o que gerou sentimento de urgência nos emissores”, diz Fabrício Silvestre, analista de renda fixa da Levante Corp. 

Continua depois da publicidade

Vinicius Romano, especialista em renda fixa da Suno Research, ainda lembra que o prazo mínimo foi mais restritivo para as LCIs – 12 meses contra 9 para LCAs –, o que também contribuiu para o número menor de emissões. 

Taxas valem a pena? 

Depois das mudanças, as taxas médias dos papéis subiram, contrariando, ao menos no primeiro momento, a expectativa de analistas logo após o anúncio do CMN

A taxa média das LCAs pós-fixadas emitidas em janeiro foi de 83,29% do CDI para os papéis com vencimento em 12 meses. Os títulos com a mesmas características pagaram 88,36% do CDI em fevereiro. Ao analisar esses papéis, é importante lembrar que os títulos são isentos de IR. 

Continua depois da publicidade

Os dados da Quantum ainda mostram como o aumento dos prazos de LCAs teve impacto positivo no mercado: em janeiro, foram emitidos 102 papéis pós-fixados com vencimento em seis meses. No mês seguinte, apenas cinco vieram ao mercado. 

As comparações de taxas das LCIs ficaram prejudicadas pela seca de ativos em fevereiro. O número de pós-fixados de 36 meses saiu de 122 em janeiro para apenas dois no mês passado. 

Para Silvestre, uma remuneração acima de 87% do CDI “começa a fazer sentido”, especialmente quando instituições financeiras com nota de crédito elevada são as emissoras. Prazos inferiores a dois anos são os preferidos do especialista. 

Publicidade

Já Sophia Annicchino, gerente institucional da Bloxs Investimentos, exige mais prêmio: “vemos títulos remunerando entre 93% e 98% do CDI que, considerando a isenção fiscal, parecem ser atrativos”.

LCIs emitidas em janeiro, ANTES das restrições do governo:

Indexadas ao CDI
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
384,25%87,86%100,00%161Banco BRB
688,00%89,81%93,00%212ABC Brasil
1290,00%91,78%95,00%147ABC Brasil
2491,25%94,68%98,00%167ABC Brasil
3693,25%96,56%100,00%122ABC Brasil
Indexadas ao IPCA
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
123,15%3,52%4,50%80ABC Brasil
Prefixadas
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
38,77%9,21%9,78%171ABC Brasil
68,65%9,02%9,41%157ABC Brasil
128,21%8,63%9,45%58ABC Brasil
248,48%8,68%8,98%11ABC Brasil
368,65%8,93%9,15%16ABC Brasil
Fonte: Quantum Finance

LCIs emitidas em janeiro, APÓS as restrições do governo:

Continua depois da publicidade

Indexadas ao CDI
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
388,00%88,30%88,60%2ABC Brasil
689,00%90,25%92,00%4ABC Brasil
1291,00%92,00%93,00%3ABC Brasil
2495,00%96,00%97,00%2ABC Brasil
3697,00%97,00%97,00%2ABC Brasil
Prefixadas
PrazoTaxa mínimaTaxa médiaTaxa máximaNúmero de títulosEmissor da maior taxa
39,06%9,11%9,17%3ABC Brasil
69,14%9,14%9,14%1ABC Brasil
Emissões de LCIs despencaram e taxas recuaram após restrições impostas pelo governo
Fonte: Quantum Finance

Relembre o cerco contra isentos

As LCIs e LCAs, junto com outros investimentos isentos de IR, tiveram suas emissões restringidas por meio de resolução do Conselho Monetário Nacional (CMN). O governo já monitorava a forte adesão a esses ativos, conforme o InfoMoney havia antecipado, e via distorções na natureza de alguns emissores, considerados não ligados aos mercados imobiliário e do agronegócio, que são os focos do estímulo via benefício fiscal. Mais tarde, o CMN ajustou a regra e voltou a flexibilizar emissões de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliários (CRIs).