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Juros longos nos EUA vão às máximas desde 2011 — e para megainvestidor Bill Ackman, não param por aí

Taxas dos títulos com vencimento em 30 anos alcançaram 4,59% na manhã desta sexta (22), mas, para Ackman, rendimento "apropriado" seria de 5,5%

Mariana Segala

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O megainvestidor Bill Ackman, fundador e CEO da gestora Pershing Square Capital Management, afirmou nesta sexta-feira (22) que acredita que as taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos continuarão subindo. Nesta manhã, as taxas dos títulos com vencimento em 30 anos alcançaram 4,59% ao ano, o patamar mais alto desde 2011.

Na quarta-feira (20), o Comitê de Mercado Aberto (Fomc) do Fed decidiu manter os juros básicos do país no patamar entre 5,25% e 5,50% ao ano. Mesmo assim, as projeções que acompanham a decisão apontam que os diretores da autoridade monetária veem os juros entre 5,5% e 5,75% até o final do ano, além da manutenção de uma política de aperto em 2024.

“A taxa de inflação a longo prazo não regressará aos 2%, não importa quantas vezes o Presidente Powell [Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, banco central americano] a reitere como seu objetivo. Foi arbitrariamente fixado em 2% após a crise financeira [de 2008], num mundo muito diferente daquele em que vivemos agora”, afirmou em seu perfil no X (antigo Twitter).

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Uma série de fatores levam Ackman a essa certeza sobre a inflação e os juros – alguns de natureza global, outros relacionados especificamente à economia americana.

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Segundo o investidor, os efeitos deflacionários da produção na China já não existem, o poder de negociação dos sindicatos aumenta, e as greves se tornaram mais prováveis à medida que algumas classes estão obtendo ganhos salariais. Além disso, os preços dos combustíveis e da energia estão subindo e a transição para uma economia verde “é e continuará a ser incalculavelmente dispendiosa”.

Por outro lado, o crescimento da economia americana está superando as expectativas, o gasto com infraestrutura contribui para o endividamento adicional do país e as previsões uma recessão nos EUA – um efeito esperado da elevação dos juros pelo Fed – já foram adiadas para 2024 e além.

Nossa dívida nacional é de US$ 33 bilhões está aumentando rapidamente. Não há sinal de disciplina fiscal por parte de nenhum dos partidos ou dos presumíveis candidatos presidenciais. E cada teto da dívida é uma oportunidade para o nosso governo dividido e os seus intervenientes mais extremistas chamarem a atenção dos meios de comunicação e para a nação ameaçar um calote

Bill Ackman, fundador e CEO da Pershing Square Capital Management

A menos que o Congresso americano aprove uma resolução contínua de curto prazo, conhecida como CR, ou um projeto de lei de financiamento para o ano inteiro, as agências federais começarão a fechar em 1º de outubro, no que seria a quarta paralisação do governo dos EUA em uma década.

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Uma situação semelhante foi vista em maio deste ano, com desdobramentos nos mercados. Na época, às vésperas de o país atingir o teto da dívida, um acordo foi selado entre Democratas e Republicanos, levando o Tesouro americano a dar início a uma série de emissões de títulos públicos para captar recursos e restabelecer seu caixa.

O problema, então, passou a ser quem compraria a enxurrada de papéis chegando ao mercado. “O governo está vendendo centenas de bilhões de notas e títulos semanalmente. A China e outras nações estrangeiras, historicamente grandes compradores da nossa dívida, estão agora vendendo”, disse Ackman.

Na prática, o excesso de oferta de títulos obriga o emissor a baixar os preços – e elevar a remuneração – dos papéis, para que eles se tornem suficientemente atrativos para os potenciais compradores.

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“Imagine tentar fazer um IPO gigantesco onde o subscritor, os insiders e os investidores vendidos estão todos vendendo ao mesmo tempo, competindo para acertar todas as ofertas no caminho da queda, enquanto os analistas rebaixam suas recomendações para ‘venda'”, comparou o megainvestidor.

Por isso, Ackman afirma que se mantém vendido na renda fixa americana, esperando que os papéis desvalorizem como efeito da marcação a mercado enquanto as taxas de juros sobem.

Fico surpreso com o quão baixas estão as taxas de longo prazo. Penso que a melhor explicação é que os investidores consideravam 4% uma taxa de juros elevada porque a remuneração não ultrapassava 4% há quase 15 anos. Quando viram a chance de garantir 4% durante 30 anos, agarraram-na como uma oportunidade única na sua carreira, mas o mundo de hoje é muito diferente daquele que viveram até agora

Pelas suas contas, considerando a inflação e as taxas reais de juros, 5,5% ao ano seria um rendimento apropriado para os títulos do Tesouro americano com prazo de 30 anos. “E os aspectos técnicos poderão fazer com que os rendimentos subam ainda mais, especialmente no curto prazo. Vimos o início disso hoje”.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney