Howard Marks vê situação inédita na economia, mas alerta: momento não é propício para grandes mudanças na carteira

Megainvestidor vê situação atípica com bolsas americanas alcançando máximas históricas e economia ainda distante do término de ciclo de crescimento

Luciana Del Caro

(divulgação)

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SÃO PAULO – Ao mesmo tempo em que as bolsas americanas vêm alcançando máximas históricas, a economia ainda não está próxima do término de um ciclo de crescimento, o que é uma situação atípica.

“Geralmente, os ciclos econômicos e o mercado acionário se movem simultaneamente. Agora as ações estão em níveis de preços elevados, mas a economia ainda deve crescer pelo prazo de um a cinco anos. Os sinais não estão claros. É a primeira vez que vivo essa situação”, afirmou o megainvestidor Howard Marks, vice-presidente e sócio fundador da Oaktree Capital, durante live nesta quarta-feira (04) do evento TAG Summit 2021, realizado pela TAG Investimentos.

As leituras de mercado do megainvestidor têm peso: seus comunicados, conhecidos como memos, ajudam a formar opinião e seus insights também são considerados pelos maiores investidores do mundo, como Warren Buffett.

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Nesse cenário caracterizado como inédito, o que o investidor deveria fazer: comprar ações para aproveitar a tendência de aquecimento econômico ou se preocupar com a iminência de uma crise e trocar sua alocação em bolsa logo que possível? Para o gestor, nem uma coisa nem outra. Ele conta que está adotando uma posição neutra: “Não estou mais conservador nem mais agressivo que a minha média”.

Essa postura tem a ver com sua filosofia de investimentos – que pode ser conhecida pela leitura de seu último memo, divulgado no dia 29 de julho. Na carta ao mercado, ele ressaltou a fragilidade das previsões macroeconômicas e se mostrou cético em relação aos processos de investimento que se baseiam nesses cenários – a capacidade de prever o futuro dos ciclos econômicos é, para ele, uma ilusão.

Marks contou que, há cerca de cinco anos, num jantar com Buffett, o megainvestidor lhe disse que as informações precisam atender a dois critérios para serem desejáveis: o de importância e a possibilidade de serem conhecidas. Tomando por base esses critérios, ele considera que as análises e previsões macroeconômicas são inegavelmente importantes e, como tal, impossíveis de serem ignoradas. No entanto, elas não podem ser conhecidas de antemão – e, por isso, o processo de investimento não deve se basear nessas previsões.

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O investidor disse que costuma ter opiniões sobre cenários, mas que não acredita que está certo. Parece contraditório? Sim, mas ele ressalta que ter uma opinião é diferente de apostar pesadamente nessa opinião (coisa que ele não faz).

Inflação x mudanças na carteira

No momento, uma das grandes discussões nos Estados Unidos é sobre a permanência ou a transitoriedade da inflação. Esta (medida pelo índice CPI) superou 5% nos últimos 12 meses – o que leva os juros reais para cerca de 4% negativos.

Muitos consideram que a situação é temporária. Já outros economistas acreditam que o déficit do governo deve ativar a economia por mais tempo, o que pode fazer com que a inflação permaneça ainda por um prazo mais longo. “Mas não existe algo como ‘a resposta’. Ainda não é possível dizer se a inflação é temporária ou permanente”, disse Marks, nesta quarta-feira.

Está aí um exemplo de uma informação relevante, mas impossível de ser conhecida antecipadamente: “Há bons argumentos dos dois lados. Se não houvesse, a vida seria fácil”, afirmou. O ponto é que, caso a inflação tenha vindo para ficar, os juros devem ser elevados para controlá-la. Nesse cenário, os investidores vão exigir retornos mais elevados – e a forma pela qual o mercado providencia isso se dá por meio da queda dos preços dos ativos, comentou o megainvestidor.

A resposta do governo à crise do coronavírus fez com que a renda disponível para consumo aumentasse. Cerca de 80% dos americanos – tanto os desempregados quanto os que se mantiveram trabalhando – receberam ajuda financeira do governo, o que significou uma injeção de US$ 2 trilhões na economia. Ao mesmo tempo, num primeiro momento, não podiam gastar por conta do isolamento social. O resultado foi uma pressão inflacionária, que foi ainda intensificada por choques de oferta (causados pelo rompimento de cadeias produtivas).

Como a questão da permanência ou da transitoriedade da inflação não pode ser ainda respondida, Marks considera que o mais adequado é fazer mudanças marginais na carteira, protegendo-se por instrumentos como títulos atrelados à inflação ou a taxas de juros flutuantes, ativos imobiliários (que repassam a inflação para os aluguéis), companhias com capacidade para repassar os preços ou que crescem rapidamente. “Faz sentido fazer um pouco [de mudanças]. Ninguém deveria mudar muito [a carteira]”, afirmou.

Marks não se incomoda em obter rentabilidades na média do mercado durante os anos bons, nos quais “todo mundo ganha dinheiro”. Para ele, o que faz diferença é superar o mercado nos anos ruins, enfatizando principalmente o controle de risco. Dessa forma (desempenho na média nos anos bons e superior nos anos ruins), ele diz que é possível superar o mercado no longo prazo.

Para os investidores comuns, ele aconselha que tenham expectativas de retorno razoáveis e sejam céticos quando as opções de investimento parecerem muito boas para ser verdade. “Uma regra de ouro nos investimentos é investir agora e manter os ativos no longo prazo. Ao fim de 30 ou 40 anos, o investidor terá ganho dinheiro.”

Ele considera que essa forma de investir é mais efetiva do que tentar acertar os momentos de entrada ou saída do mercado.

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Luciana Del Caro

Jornalista colaboradora do InfoMoney