Fundo estrelado da Dynamo tem perda de 29% em dois anos, após duas décadas de bonança; o que mudou?

Dynamo Cougar ficou no negativo em apenas três dos últimos 20 anos; posições em Natura, Alpargatas e Hapvida foram detratoras

Bruna Furlani

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Depois de duas décadas de bonança, o Dynamo Cougar, fundo que é o carro-chefe da lendária gestora Dynamo, teve pouco a comemorar nos últimos dois anos. Com algumas apostas que não materializaram os resultados esperados, a carteira acumulava perdas de 28,56% nos últimos 24 meses, até sexta-feira (3), abaixo dos -6,58% do Ibovespa no mesmo período.

Em carta referente ao último trimestre de 2022 divulgada na semana passada aos cotistas, à qual o InfoMoney teve acesso, a gestora se mostrou “frustrada” com o desempenho recente. A casa encerrou 2022 com uma rentabilidade negativa de 13,8%, enquanto o Ibovespa teve alta de 4,7%.

“Um resultado negativo no ano é sempre decepcionante para o gestor. Dois exercícios seguidos de cota negativa são ainda mais frustrantes. Estamos profundamente insatisfeitos com a nossa performance recente”, afirmou a gestora no documento.

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A Dynamo possui hoje cerca de R$ 15 bilhões sob gestão em ações brasileiras e está prestes a completar 30 anos em setembro deste ano. Nos últimos 20, teve retorno negativo apenas em três: 2008, 2021 e 2022, com perdas que variaram entre 30,25% e 13,80%.

Na carta, a Dynamo destacou que posições em Natura (NTCO3), Alpargatas (ALPA4) e Hapvida (HAPV3) responderam por cerca de metade da performance negativa do Cougar.

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A Natura foi uma das posições que mais causaram perdas no ano passado. A Dynamo disse que acompanha as ações de perto há muito tempo e que a companhia acumula um “portfólio raro de virtudes”. Alegou ainda que o tamanho do investimento refletia a potência de um modelo que poderia se fortalecer caso a integração com a Avon fosse bem-sucedida.

“Hoje, vemos que as dificuldades se apresentaram maiores do que imaginávamos, e a Natura vem entregando resultados aquém do esperado. Quando os problemas alcançam as demonstrações financeiras em um ambiente de maior aversão a risco, a resposta do mercado pode ser aguda. E infelizmente é o que temos visto”, disse a gestora no documento.

Apesar da queda acentuada de mais de 32% dos papéis da empresa nos últimos 12 meses até segunda-feira (6), a casa defende que a força do canal e da marca permanecem “vibrantes” e que possui uma “boa dose de convicção” de que a companhia possui todas as condições necessárias para resolver os “desvios de gestão e recuperar valor”.

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Outra grupo de ações que respondeu por quase 30% da performance negativa em 2022 é formado por Eneva (ENEV3), Vibra (VBBR3), Rede D’Or (RDOR3), Mercado Livre (MELI34) e Cosan (CSAN3).

Para a gestora, tais companhias tiveram um bom ano com “resultados satisfatórios” e “melhorias nas estratégias de negócios”. Embora os números não tenham sido muito favoráveis em 2022, a Dynamo interpretou o ajuste de mercado como oportunidade de compra e chegou a aumentar a exposição aos papéis.

Retornos ao longo dos anos e resgates

Mesmo presente numa lista seleta de gestoras brasileiras estreladas, a piora nos resultados dos últimos meses provocou resgates no Cougar. O patrimônio líquido do fundo passou de R$ 6,8 bilhões em março de 2022 para R$ 5,4 bilhões atualmente

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O recuo, porém, não é visto como significativo para o especialista em fundos Samuel Ponsoni. Ele lembra que um dos grandes diferenciais da gestora são seus investidores, que incluem fundos patrimoniais do exterior, além de family offices.

“O cliente da Dynamo é resiliente. São fundos e grupos familiares que investem há dez, 20, 30 anos. Esse tipo de cotista não costuma resgatar”, afirma Ponsoni. “Isso dá uma vantagem para a gestora de não se preocupar tanto em perder patrimônio”.

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Ainda que tenha sido lançado em 1993, Ponsoni acredita que os últimos 20 anos são os mais significativos para avaliar a performance do fundo. Isso porque ele começou pequeno e focado em small caps (empresas de menor valor de mercado), que tendem a ser menos acompanhadas por analistas e podem oferecer “achados ou pérolas” para gestores que estão iniciando o negócio.

“Os resultados que esses fundos geram quando pequenos são mais difíceis de replicar quando o tamanho aumenta”, observa.

Ponsoni também analisa janelas móveis de retorno para entender melhor o desempenho da gestora em ciclos diferentes ao longo do tempo. Considerando períodos de três anos, o profissional observa que em 85% das vezes o fundo ficou acima do Ibovespa nas duas últimas décadas, um percentual considerado elevado. “Não é a primeira vez que o produto fica atrás do benchmark [índice de referência] por três anos”, resume.

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Quando a janela móvel é estendida para prazos de sete anos, os números são ainda melhores. Em cerca de 98% das vezes, os resultados ficaram acima do Ibovespa. O especialista destaca que os percentuais já foram próximos de 100%, mas os números ficaram “poluídos” desde meados de 2022 – quando o desempenho foi abalado por uma tempestade perfeita durante a pandemia.

Para Ponsoni, um dos grandes diferencias da Dynamo está na parte qualitativa. O especialista lembra que a casa possui baixa rotatividade do time de investimento, o que evita que os responsáveis pela gestão sofram com contratempos na equipe ou desfoquem da sua atividade principal.

“A Dynamo tem um processo de investimento que está testando há quase 30 anos. Estão sempre querendo inovar e ver qual empresa estará na vanguarda. Mercado Livre, por exemplo, eles entraram lá atrás”, lembra o especialista.

Sem novas reaberturas no radar

Apesar do desconto elevado de algumas ações no mercado brasileiro, fontes próximas a gestora ouvidas pelo InfoMoney afirmam que a casa não pretende realizar novas aberturas do Cougar para aplicações, como em 2020 e em 2022. A visão é de que não adiantaria deixar o fundo “muito grande”, porque isso poderia criar problema à frente para a gestão de ativos.

Além disso, a casa tem expressado a pessoas próximas que a liquidez não está tão “clara” e o melhor agora é “esperar”. De acordo com os profissionais ouvidos pela reportagem, a gestora não tem feito grandes trocas de posições, mas tem avaliado que algumas companhias poderiam ser beneficiadas com saída de alguns competidores mais fortes do mercado.

Procurada pelo InfoMoney, a Dynamo disse que o momento é difícil e reforçou a visão de que o importante é ter um “horizonte de longo prazo”. A gestora afirmou ainda que não é a primeira vez que apresenta um desempenho negativo e que tem confiança de que o processo “gera resultado em prazos mais alongados”.