Fundos de ações têm tombo de até 16% em fevereiro e registram saques líquidos de R$ 6,2 bi

Efeitos foram mais significativos em fundos de ações setoriais e em produtos do tipo FMP- FGTS, segundo Anbima

Bruna Furlani

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Na esteira de perdas de quase 8% do Ibovespa em fevereiro, pior mês para a Bolsa desde junho de 2022, o resultado dos fundos de ações acabou sendo comprometido no mês passado. A rentabilidade média oferecida pelos produtos chegou a recuar mais de 16% no segundo mês do ano.

Os efeitos foram mais significativos em fundos de ações do tipo “setoriais” – que investem em empresas pertencentes a um mesmo setor ou conjunto de setores afins da economia – com perdas de 16,37%. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Fundos do tipo FMP-FGTS – que alocam em ações de empresas estatais em processo de desestatização ou capitalização, cujos aportes são realizados com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) – vieram na sequência, com uma queda média de 9,94%.

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Nenhuma subclasse de fundo de ação conseguiu terminar o mês com o retorno médio no azul.

A performance abaixo do índice de referência e o apelo da renda fixa, já que os juros se mantêm em 13,75% ao ano, contribuíram para mais saques líquidos. Em fevereiro, os resgates líquidos (depósitos menos retiradas) chegaram a R$ 6,2 bilhões nos fundos de ações. No acumulado do ano, a fuga já alcança a cifra de R$ 16 bilhões.

O efeito também pôde ser sentido em fundos de previdência do tipo “ações indexados”, que amargaram perdas de 7,47% em fevereiro, em média. Na sequência, fundos de “previdência ações ativo” sofreram com retorno médio negativo de 6,69%.

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Em fevereiro, os fundos de previdência também foram afetados pelo movimento de resgates. Ao todo, as retiradas líquidas nesses tipos de produtos bateram R$ 1,3 bilhão. No ano, o montante chega a R$ 656,4 milhões.

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O mês também foi difícil para fundos multimercados. Das 11 subclasses, apenas uma terminou com rentabilidade média acima do CDI (taxa de referência da renda fixa), que encerrou fevereiro com alta de 0,92%.

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No mesmo período, o único tipo de multimercado que superou o CDI foi o “long e short neutro”, que terminou fevereiro com ganhos de 3,04%, na média. Tais produtos montam posições que apostam na alta de ações (compradas) e na queda de papéis (vendidas) com o objetivo de manter a exposição líquida limitada a 5%.

Já no quesito saídas líquidas, os fundos multimercados passaram por mais um mês de saques, com resgates líquidos de R$ 15 bilhões. No acumulado do ano, a captação líquida está negativa em R$ 32,7 bilhões.

Sobrou até para os fundos de renda fixa

A avalanche de notícias envolvendo empresas como Americanas (AMER3), Light (LIGT3), Marisa (AMAR3) e CVC (CVCB3) deixou marcas também nos retornos de fundos de renda fixa.

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Das 16 subclasses, apenas quatro tiveram desempenho acima do CDI em fevereiro. É o caso das carteiras do tipo “renda fixa indexados”, “renda fixa duração alta soberano”, “renda fixa duração alto grau de investimento” e “renda fixa dívida externa” – com destaque para o último que obteve ganhos de 1,70% no mês.

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Nota-se que os únicos produtos capazes de encerrar o mês com retornos acima da taxa de referência da classe foram “indexados”, com “grau de investimento” (que dão preferência para papéis de empresas com baixo risco de crédito) e “soberanos” (que investem prioritariamente em títulos do governo federal). Eles alocam em ativos de crédito de menor risco ou apenas em títulos públicos.

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O desempenho aquém do índice de referência de alguns fundos de renda fixa está ligado à marcação a mercado das cotas – atualização diária do valor dos ativos feita pelos fundos, de acordo com as condições vigentes de negociação.

Nos últimos dois meses, a elevação dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação aos títulos públicos, considerados de baixo risco) no mercado secundário levou a uma reprecificação de vários ativos de crédito.

Em relatório mensal divulgado nesta segunda-feira (6), a gestora JGP informou que, excluindo o efeito da nova precificação de ativos da Americanas e da Light, os spreads médios ponderados das debêntures atreladas ao CDI saíram de 2,03% em janeiro para 2,62% em fevereiro. Os números são do Idex-CDI,  índice desenvolvido pela casa para acompanhar o mercado de debêntures com retorno indexado ao CDI.

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No mês passado, o Idex-CDI apresentou o pior retorno nos últimos 12 meses, fechando o mês com leve queda de 0,05%, contra uma alta de 0,92% do CDI.

Em fevereiro, fundos de renda fixa também não conseguiram passar ilesos de resgates, com saques líquidos alcançando R$ 7,5 bilhões. No acumulado do ano, porém, a captação ainda está positiva em R$ 3,6 bilhões.

Quem também foi afetado negativamente em fevereiro em termos de saídas foram fundos cambiais, que terminaram com retiradas líquidas de R$ 742,8 milhões, número que chega a R$ 907,2 milhões no acumulado deste ano.

ETFs, FIPs e FIDCs terminam com captações no azul

Por outro lado, ETFs (fundos de índice), assim como fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) e fundos de participações (FIPs) conseguiram fugir da onda de resgates e encerrar fevereiro no campo positivo.

No caso dos ETFs, as captações líquidas chegaram a R$ 1,4 bilhões. No acumulado do ano, porém, as saídas líquidas são maiores e chegam a R$ 2,5 bilhões.

FIDCs e FIPs, por sua vez, acumularam depósitos líquidos de R$ 378,4 milhões e de R$ 466,0 milhões em fevereiro, respectivamente. No ano, a captação líquida está negativa para os FIDCs no valor de R$ 7,2 bilhões e positiva no caso dos FIPs com R$ 944,3 milhões.