ETF ganha tração com volatilidade dos mercados e vira porta de saída da Bolsa na crise

Em março, quando o Ibovespa caiu 29,9%, fundo que acompanha o benchmark foi o terceiro ativo mais líquido da B3

Lucas Bombana

SÃO PAULO – Com a queda de quase 30% do Ibovespa em março, nenhuma das 73 ações que compõem o benchmark conseguiu fechar o mês no campo positivo – as ações do Carrefour tiveram o melhor desempenho do período, com uma queda de 0,29%.

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Diante do movimento de vendas generalizadas, em vez de se desfazer de um papel por vez, o investidor preferiu recorrer ao ETF referenciado em Ibovespa para sair de todas suas posições de forma mais prática e rápida.

Com isso, o fundo indexado ao Ibovespa da BlackRock – principal ETF da B3 – BOVA11 acabou sendo o terceiro ativo mais líquido da bolsa no mês passado, com uma média diária de negociação de R$ 1,6 bilhão, ficando atrás apenas das ações da Petrobras (com giro diário de R$ 2,05 bilhões) e da Vale (R$ 1,9 bilhão).

O ETF chegou a liderar a movimentação financeira da Bolsa em quatro pregões, como no dia 18 de março, quando o fundo registrou seu maior giro no mês, de R$ 2,3 bilhões, e também quando as negociações foram interrompidas com o acionamento do “circuit break” e com um recuo de 10,3% do Ibovespa.

“Pela liquidez intradiária, o ETF permite o ajuste rápido de posições de forma a defender o portfólio em momentos de queda”, afirma Carlos Takahashi, presidente da BlackRock no Brasil.

O fundo de Ibovespa da BlackRock respondeu por aproximadamente 70% do volume total de negociação dos ETFs em março, segmento que movimentou, em conjunto, cerca de R$ 2,3 bilhões no período.

O giro ficou bem acima da média – em fevereiro havia sido menos da metade (R$ 1,1 bilhão). Em comparação com anos anteriores, a diferença fica ainda maior – em 2019, o volume médio diário dos ETFs foi de R$ 594,1 milhões, e, em 2018, de R$ 351,4 milhões.

Apesar da evolução galopante, os fundos ainda representam apenas uma pequena fração do total negociado – em março, a média diária de negociação das ações na B3 foi de R$ 34,2 bilhões, alta de 110,6% em bases anuais.

Migração para a bolsa

Segundo Renato Eid, head da estratégia de ETF da Itaú Asset, o crescimento na utilização dos fundos, notadamente daqueles de renda variável, tem acompanhado a própria evolução no número de investidores na Bolsa como reflexo da Selic baixa – em dezembro de 2019, eram cerca de 1,6 milhão de CPFs cadastrados na B3, quase o dobro ante um ano antes.

No caso dos ETFs de ações, a base de investidores foi de 41,1 mil, em 2018, para os atuais 180,2 mil. “Há cerca de um ano, nosso ETF de Ibovespa negociava cerca de R$ 50 milhões por dia, e hoje está por volta de R$ 320 milhões.”

Eid cita a transparência dos ETFs como uma das vantagens que têm beneficiado a atração de novos bolsos. “A composição da carteira é divulgada diariamente, com o preço disponível em bolsa e uma metodologia pública e clara dos índices ao qual o fundo está referenciado”, afirma o executivo da Itaú Asset. “O investidor sabe exatamente o que está comprando.”

Oportunidades para além-mar

E não são apenas os fundos indexados à bolsa brasileira, e com perspectivas de queda, que estão no radar dos investidores.

Os ETFs atrelados ao índice americano S&P 500 também apresentaram um salto significativo no volume negociado em março – o giro do fundo da BlackRock que acompanha o benchmark internacional foi de R$ 183,2 milhões no mês passado, ante R$ 43,7 milhões em fevereiro.

Em ritmo um pouco mais modesto, o ETF SPXI11 da Itaú Asset, que também acompanha o benchmark americano, registrou um volume de R$ 5,4 milhões em março, frente aos R$ 3,7 milhões de fevereiro.

O movimento pode ter sido influenciado pela tese que vem ganhando corpo no mercado de que os países desenvolvidos tendem a sair da crise antes dos emergentes, seja por terem entrado primeiro nela, ou pelo poder de fogo para combater a pandemia substancialmente superior.

Além disso, as empresas de tecnologia com ações negociadas nas bolsas americanas, como Apple e Netflix, tendem a sofrer menos a crise pela natureza dos serviços prestados em comparação com a média do mercado.

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Segundo Takahashi, a história mostra que, em momentos de maior estresse, os fundos de índice geralmente passam a ocupar um espaço maior nos portfólios dos investidores.

“Nas crises os gestores ativos começam a ser questionados em relação à capacidade de entregar alfa [superar seu referencial, como Ibovespa ou CDI], visa vis a taxa de administração cobrada”, diz o presidente da BlackRock no Brasil.

O baixo custo dos ETFs deve manter a utilização do instrumento em trajetória crescente nos próximos meses, em um cenário de juros baixos em que os investidores devem se atentar cada vez mais para os gastos atrelados aos produtos, prevê Takahashi.

Também de olho em uma demanda crescente, a Itaú Asset lançou em fevereiro um fundo de índice com a estratégia de small caps, que vai concorrer com um produto mais antigo da BlackRock. “Não pensamos no ETF como um instrumento circunstancial”, diz Eid. “Vemos o ETF como um veículo estratégico.”

Demanda desigual

Se por um lado os ETFs de renda variável vem ganhando apelo, por outro, com a Selic na mínima histórica de 3,75%, os fundos de índice de renda fixa estão tendo dificuldade para manter a atratividade no momento.

Dados da B3 mostram que a base de investidores nesses veículos somava 5,2 mil em março de 2020, ante 5,4 mil em dezembro de 2019. Em termos de volume negociado, a média diária dos ETFs de renda fixa foi de R$ 7,01 milhões no mês passado, queda de 30,6% frente aos R$ 10,1 milhões de fevereiro, mas alta de 20,8% ante os R$ 5,8 milhões de 2019.

“A forte desvalorização da bolsa e o aumento da aversão ao risco podem fazer com que os ETFs de renda fixa voltem a atrair os investidores”, pondera a professora Claudia Yoshinaga, coordenadora do centro de estudos em finanças da FGV EAESP.

Entre os pontos de atenção dos ETFs, a professora da FGV aponta a distorção na tributação que incide sobre esses fundos. “Operações com ações de até R$ 20 mil são isentas de Imposto de Renda, o que não vale para os ETFs, mesmo para os de renda variável”, afirma.

Por outro lado, para os ETFs de renda fixa, em menos de seis meses a alíquota de imposto devido fica em 15%, percentual obtido em aplicações com títulos públicos somente após dois anos, observa a professora.

Yoshinaga entende que os produtos ainda carecem de um trabalho maior de divulgação e distribuição para sua disseminação em escala mais relevante. Seja como for, considerando os prós e contras, a acadêmica enxerga nos fundos de índices uma boa alternativa para os investidores.

“Estudos mostram que é muito difícil um gestor bater o mercado consistentemente no longo prazo”, argumenta a professora. “Faz sentido o investidor ter um fundo no portfólio que não se propõe a bater, mas, sim, a seguir o mercado, com um custo bastante inferior ao de outros veículos.

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