Em ano ruim para multimercados, investidores devem esperar melhora ou embolsar o prejuízo?

Juros ainda em patamar elevado têm ajudado a pressionar ainda mais os fundos, que perdem cotistas

Bruna Furlani

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Entre as dúvidas que não saem da cabeça dos investidores nos últimos meses, uma envolve o que fazer com os fundos multimercados que detêm na carteira: resgatar e admitir o prejuízo ou manter a alocação?

Após resultados estelares de algumas casas no ano passado, os retornos têm decepcionado no acumulado de 2023, deixando investidores indecisos sobre qual decisão tomar. É o caso de gestoras como a Verde Asset Management, Legacy Capital e Vista Capital, que viram os fundos carros-chefes das casas disparar até 24% em 2022, mas agora amargam retornos abaixo do CDI (taxa de referência da classe e dos ativos de renda fixa).

Um sobrevoo pela indústria mostra a dimensão do problema: os multimercados de gestão ativa, agrupados no Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), apresentaram, na média, rendimento de 4,25% neste ano, até dia 7 de novembro — ao mesmo tempo em que o CDI (taxa de referência da classe e dos ativos de renda fixa) avançou 11,22%.

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A manutenção de uma Selic elevada tem incentivado a migração dos investidores para ativos isentos de Imposto de Renda e pressionado ainda mais os multimercados, que registram uma forte queda no número de cotistas.

Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney mostra que, desde o começo do ano até esta terça-feira (7), os multimercados perderam mais de 704 mil cotistas. Foram analisados 4230 veículos. Fundos exclusivos e de crédito privado ficaram de fora.

Ao todo, há cerca de 13 mil fundos multimercados em toda a indústria, mas vários possuem poucos cotistas ou contam com uma estrutura pequena em termos de patrimônio.

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Esperar ou resgatar?

Embora o desempenho esteja aquém do esperado em boa parcela dos multimercados, a avaliação de especialistas ouvidos pelo InfoMoney é de que o investidor não deve resgatar com base em retornos passados e que a análise de janelas de retornos mais curtas — entre seis e 12 meses — não é recomendada.

“Multimercados são produtos com risco mais elevado e com volatilidade que pode variar entre 3% e 8%. Quando uma classe apresenta esse perfil de risco, ela tende a ser mais de longo prazo do que outros investimentos mais conservadores, pondera Carlos Macedo, especialista em alocação de investimentos da Warren Rena.

De olho em obter retornos mais expressivos no longo prazo, a dica de Macedo é que o investidor não realize o resgate da aplicação olhando apenas o retrovisor. Segundo ele, uma eventual saída para produtos de renda fixa agora poderia fazer com que o investidor perdesse a primeira “pernada” de alta, ao tentar voltar para os multimercados mais tarde.

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Vitor Pitz, especialista em investimentos na Suno, também defende que não há motivo para tomar uma decisão de venda com base em retornos mais curtos. “É importante que o investidor lembre qual foi o motivo que o fez adicionar essa classe de ativos na carteira”.

Multimercados costumam ser vistos como forma de diversificar o portfólio, porque podem alocar em diversas classes de ativos. As principais estratégias tendem a ser macro, long e short, investimento no exterior, quantitativo e multiestratégia.

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A primeira envolve produtos que podem operar em câmbio, Bolsa e juros, e que adotam decisões de investimento com base em cenários macroeconômicos.

Já os fundos long e short são aqueles que montam operações compradas (que se beneficiam da alta) e vendidas (que ganham com a desvalorização) em ações, geralmente em pares.

Já os multimercados investimento no exterior são aqueles que alocam, pelo menos, 40% do patrimônio líquido em ativos financeiros no exterior.

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Há ainda os quantitativos que são baseados em algoritmos complexos e os multiestratégia, que podem adotar mais de uma estratégia de investimento.

Na XP, por exemplo, a recomendação é que investidores com perfil conservador mais cauteloso separem até 10% da carteira para alocar em multimercados. Já quem tiver o perfil mais moderado pode aplicar entre 20% e 21% do portfólio, enquanto mais agressivos devem investir 14%.

Diversificando a carteira: saída para diluir riscos

Uma opção para quem deseja diluir os riscos é diversificar a exposição entre subclasses de multimercados. Pitz lembra que é possível aproveitar gestores que historicamente tomaram boas decisões em ambientes macroeconômicos mais nebulosos, por meio de posições em multimercados macro.

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Outra opção é deter uma parcela alocada em fundos quantitativos. “Se as ações da carteira como um todo se desvalorizarem, [os quantitativos] poderiam ser uma boa opção, porque tendem a operar vendidos [se beneficiando do recuo das ações] em momentos de queda”, destaca Pitz.

Diversificação também tem sido a tônica na XP. Ainda que não haja uma fórmula pronta, Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação e fundos da casa, afirma que uma proporção de 50% da carteira alocada em multimercados macro, 30% em multimercados quantitativos e 20% em multimercados long e short neutro parece “satisfatória”. Multimercados long e short neutro têm a vantagem de deter uma exposição líquida zero, ou seja, as operações que apostam na alta de papéis são equivalentes às que se beneficiam da queda de ações.

Entre as alterações recentes feitas na carteira está a alocação em multimercados macro. “Fizemos essa mudança no fim do primeiro semestre para tentar privilegiar produtos que possam se diferenciar. É melhor ter coisas descorrelacionadas do que ir atrás de uma grande aposta”, pondera Sgavioli. Geralmente, o percentual mínimo alocado nessa subclasse tende a variar entre 50% e 70% do portfólio de multimercados.

Ainda que o momento esteja difícil para a classe, o alocador defende que a grande vantagem dos produtos é a capacidade de adotar exposição tática, o que é mais difícil de ser replicado diretamente pelas pessoas físicas. “Quem tende a operar o primeiro movimento no mercado é o gestor multimercado. São ágeis em perceber tendências”, destaca o especialista da XP.

Juros americanos no foco

A falta de tendências claras neste ano, aliás, é um dos fatores que têm puxado para baixo o desempenho dos multimercados. Após um primeiro semestre mais nebuloso em que gestores tiveram certa dificuldade de precificar até onde iriam os juros americanos, as sinalização dadas pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) na semana passada, juntamente com dados de atividade mais fracos, podem ajudar na busca por tendências mais claras ao longo dos próximos meses.

“A convicção de que agora o Fed entrou em um período de estabilização da taxa de juros americana aumentou”, avalia Macedo, da Warren Rena. Para o especialista, a visão de que a barreira está mais alta para subir os juros têm como base a divulgação de dados de mercado de trabalho mais fracos na semana passada, além de uma preocupação maior da autoridade monetária com o aperto das condições financeiras.

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De olho em uma tendência que parece surgir como mais força a partir de agora, algumas casas voltaram a se posicionar no fechamento (recuo) das taxas em países desenvolvidos, caso da Ibiuna.

Em carta mensal, a gestora disse que retornou “cautelosamente” para posições aplicadas (se beneficiam da queda) em juros de países desenvolvidos e emergentes com perspectiva de queda ou de início do ciclo de cortes até o fim do ano.