Dividendos em alta: 17 ações que aumentaram o retorno com proventos em mais de 40% no último ano

CPFL Energia (CPFE3) e Energias do Brasil (ENBR3) tiveram alta de até 272,9% no dividend yield em relação à média dos últimos cinco anos; confira lista

Katherine Rivas

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De um grupo de 96 empresas listadas na Bolsa – com valor de mercado superior a R$ 500 milhões e que distribuíram dividendos nos últimos cinco anos – 17 apresentaram um aumento no dividend yield (taxa de retorno com dividendos) de mais de 40%, se comparado com a média nesse período.

Os dados são de um levantamento exclusivo feito por Daniel Nigri, analista e fundador da Dica de Hoje Research, para o InfoMoney, com dados da plataforma Economatica.

Para chegar às 17 empresas, o levantamento considerou inicialmente três critérios: empresas que pagaram dividendos nos últimos cinco anos, de 2017 a 2021; que apresentaram distribuições nos últimos 12 meses (até 5 de outubro); e que tiveram um dividend yield médio de pelo menos 3% ao ano.

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Por último, foram consideradas apenas as empresas que tiveram um crescimento no dividend yield dos últimos 12 meses superior a 40%, em relação à média das distribuições dos últimos cinco anos. A taxa de retorno foi calculada com base na cotação das ações no início de cada período, para simular quanto o investidor teria recebido se tivesse de fato adquirido os papéis.

Dados os critérios, empresas como a Petrobras (PETR4) – que foi a maior pagadora de dividendos no mundo no segundo trimestre, segundo a 35ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson – ficaram de fora. A estatal não remunerou os acionistas em 2017 e em 2020, de acordo com dados da Economatica.

Na lista, é possível identificar quatro grupos: empresas de commodities, de energia elétrica, do segmento financeiro e industriais. Muitas delas, consideradas “queridinhas” do investidor que busca renda passiva com ações. Nigri destaca que elas conseguiram elevar a remuneração dos seus acionistas apesar de fatores como a guerra na Ucrânia e o baixo crescimento econômico.

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Empresa Dividend yield médio dos últimos cinco anos (2017 a 2021) Dividend yield atual (últimos 12 meses) Diferença Retorno das ações em 2022
CPFL Energia (CPFE3) 4,1% 15,21% 272,9% 40,23%
Energias do Brasil (ENBR3) 3,5% 12,29% 246,4% 17,55%
Iochpe-Maxion (MYPK3) 3,0% 10,14% 237,5% -11,97%
Gerdau Metalúrgica (GOAU4) 5,7% 18,37% 221,4% 3,42%
Gerdau (GGBR4) 3,9% 11,48% 193,2% -2,10%
Brasilagro (AGRO3) 5,7% 15,03% 164,3% 13,94%
Banco do Brasil (BBAS3) 4,5% 11,72% 163,3% 49,75%
Metal Leve (LEVE3) 4,7% 11,37% 140,9% -7,56%
Cielo (CIEL3) 4,1% 9,59% 132,7% 143,47%
Klabin (KLBN11) 3,2% 5,88% 84,7% -22,67%
JBS (JBSS3) 3,1% 5,32% 70,3% -33,34%
São Martinho (SMTO3) 3,7% 6,14% 65,8% -21,88%
ABC Brasil (ABCB4) 6,2% 9,69% 55,4% 41,85%
Santander (SANB3) 5,0% 7,47% 50,5% 12,87%
BB Seguridade (BBSE3) 6,6% 9,82% 48,3% 43,03%
Vale (VALE3) 6,8% 9,73% 42,7% 7,83%
Taesa (TAEE11) 10,7% 14,98% 40,2% 18,81%

Fonte: Dica de Hoje Research, com Economatica. Os dados foram coletados em 05/10/2022.

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Por que as empresas aumentam os dividendos?

Nigri explica que os dividendos são a parte do lucro que uma empresa decide não reinvestir no próprio negócio e, sim, distribuir de volta aos seus acionistas. Desta forma, em tese, uma empresa que dobre os ganhos ao longo do tempo poderia também dobrar os proventos. Outra possibilidade de aumento dos dividendos, segundo o analista, é a empresa elevar o seu payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos).

Um exemplo de empresa que aumentou o payout é a Petrobras, que em 2022 não apenas distribuiu lucro, como também parte das reservas de lucros realizadas em períodos passados na forma de dividendos. “O que precisa ficar claro é que esse tipo de política de distribuição é temporária, porque em algum momento as reservas de lucros cessam”, afirma Nigri.

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Empresas de commodities ainda valem a pena?

De acordo com o levantamento, sete empresas de commodities tiveram um aumento expressivo nos seus dividendos: Gerdau e Gerdau Metalúrgica, do setor de siderurgia; a BrasilAgro, do agronegócio; a mineradora Vale; a JBS, de proteína animal; a São Martinho, de açúcar e etanol; e a Klabin, de papel e celulose.

A Gerdau Metalúrgica (GOAU4), por exemplo, apresentou um salto de 221,4% nos dividendos dos últimos 12 meses, em comparação com a média de proventos dos últimos cinco anos. Já o aumento no caso da BrasilAgro foi 164,3%.

Na visão de Nigri, o cenário positivo para os dividendos de commodities foi fruto da alta dos preços de aço, minério, alimentos, petróleo e proteína animal em dois períodos marcantes: na pandemia e após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia.

“As empresas brasileiras, grandes exportadoras dessas commodities, se beneficiaram deste movimento e vêm apresentando resultados muito fortes que possibilitam uma distribuição de dividendos acima das suas médias”, destaca o analista.

Mesmo com algumas companhias de commodities entregando um retorno em dividendos de quase 19% nos últimos 12 meses, poucas apresentaram valorização dos seus papéis. Deste grupo, apenas as ações de Gerdau Metalúrgica (+3,42%), BrasilAgro (+13,94%) e Vale (+7,83%) subiram em 2022 (até 5 de outubro). As outras quatro tiveram queda de até 33,34%.

Segundo Nigri, a perspectiva de recessão global leva o mercado a acreditar na redução da demanda por matérias-primas nos próximos dois ou três anos, o que levaria à redução dos preços e  dos lucros das empresas. “A Bolsa já está antecipando o movimento”, afirma.

Apesar do cenário adverso, Nigri acredita que as sete empresas ainda podem valorizar – mas dada a ciclicidade dos negócios, não recomenda os papéis para investidores novatos na Bolsa. Ações ligadas ao setor de commodities, afinal, tendem a ter volatilidade elevada. “Um investidor sem experiência pode não suportar uma queda forte ou aguardar o prazo necessário para a recuperação, que pode ser de cinco ou dez anos”, diz. Desde as cotações máximas, a Gerdau Metalúrgica (GOAU4) caiu 68,5% e a São Martinho (SMTO3), 48,6%.

Na avaliação de Luan Alves, head de equity da VG Research, a única empresa de commodities adequada para uma estratégia de dividendos no longo prazo é a Vale. Ele destaca que o setor de matérias-primas é cíclico, o que traz incerteza na remuneração dos acionistas. A Vale, no entanto, oferece uma margem de segurança ao investidor, dado o preço atual dos metais, seu nível de endividamento e valuation (valor da empresa).

Entre as vantagens, Alves cita que os resultados da mineradora não dependem da economia brasileira e nem são afetados pelo risco político, ao mesmo tempo que se beneficiam da alta do dólar. O principal risco é a queda no preço do minério de ferro, caso a desaceleração econômica da China vista neste ano se prolongue. O retorno em dividendos projetado para a Vale é de 10% para os próximos 12 meses e a recomendação da VG é de compra para os papéis.

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Elétricas e setor financeiro

As companhias destes setores são conhecidas pela sua perenidade e por remunerar consistentemente os acionistas. Entre as elétricas, a preferência dos analistas é por CPFL Energia (CPFE3) e Energias do Brasil (ENBR3).

Energias do Brasil atua na geração, transmissão e distribuição de energia, o que a torna competitiva em um cenário de elevado reajuste tarifário para as distribuidoras, por conta da inflação, segundo Nigri. Cerca de 35% do seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) vem do segmento de distribuição.

Para Sergio Biz, sócio e analista do GuiaInvest, a alteração da política de dividendos da Energias do Brasil em 2020 tornou seus proventos mais atraentes. A companhia estabelece um payout superior a 50% do lucro líquido ajustado ou um dividendo mínimo de R$ 1 por ação.

“Os resultados operacionais da companhia estão muito sólidos, com investimento em energias renováveis (especialmente no segmento de energia solar) e em linhas de transmissão que permitem aumentar a previsibilidade das receitas”, destaca Biz. O analista projeta um dividend yield de 9,1% nos próximos 12 meses, com preço-teto de compra de R$ 21,50.

Já para a VG Research, a opção mais atrativa no momento é a CPFL Energia. Segundo Alves, a empresa se encontra em um bom momento operacional que lhe permite gerar resultados fortes, pagar bons dividendos e continuar com crescimento no seu balanço. A casa de análise projeta um dividend yield de 10% para os próximos 12 meses.

No setor financeiro, a preferência da VG Research é pelo Banco do Brasil (BBAS3), com um retorno em dividendos de 8,7% projetado para os próximos 12 meses. Já para Nigri, pesa o risco político. No caso da Cielo, Nigri destaca que a forte valorização da companhia – de 143,47% neste ano – deixa pouco espaço para garantir um dividend yield futuro elevado.

As duas “intrusas” do setor industrial

Setor incomum nas estratégias de dividendos, o segmento industrial também figura entre os que elevaram proventos no último ano. Iochpe-Maxion e Metal Leve, por exemplo, mais do que dobraram as suas distribuições.

Para Nigri, estas companhias se mostram resilientes e fortes tanto na carteira de pedidos quanto na receita, apesar de um cenário adverso – e mesmo assim, suas ações desvalorizaram.

Não é necessariamente um mau sinal, avalia o analista. “Vemos as empresas como oportunidades, apesar de uma possível futura redução nas margens, que podem demorar a se recompor. O mercado está pessimista pelo cenário externo e possível queda da demanda dos produtos”, destaca. Para Nigri, estas companhias ainda podem valorizar no curto prazo ou trazer alegria na forma de dividendos.

A visão é parcialmente compartilhada por Biz, que acredita que Metal Leve continua entregando resultados resilientes e com um bom histórico de dividendos. Ele destaca que mesmo com custos pressionados, a companhia apresenta margens elevadas.

“O aumento no preço da energia na Europa pode levar o grupo a priorizar a produção no Brasil com custos mais competitivos. Além disso, as tendências continuam positivas para o Brasil com veículos comerciais com idade avançada, o que deve se traduzir em aumento de demanda”, aponta. O analista projeta um retorno em dividendos para LEVE3 de 10,5% nos próximos 12 meses, com preço-teto de compra de R$ 29,50.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.