Tem título indexado ao IPCA? Veja como a deflação afeta o papel; gestores apostam em debêntures isentas

Apesar do temor, especialistas defendem que fenômeno deve ter prazo curto e reiteram que há boas oportunidades para alocação em títulos atrelados à inflação

Bruna Furlani

(Getty Images)

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O resultado negativo de 0,08% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em junho, divulgado nesta semana, trouxe preocupação para alguns investidores com alocação em títulos com retorno indexado ao indicador.

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O motivo da preocupação não é à toa. Papéis atrelados à inflação possuem dois componentes que afetam o seu preço: a remuneração prefixada, que é estabelecida no momento da compra, e a variação do IPCA. Por exemplo, se um título oferece IPCA+7%, isso significa que a taxa prefixada é de 7%.

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Nesse caso, quando o IPCA fica negativo em certo período, o rendimento final dos títulos atrelados à inflação é reduzido por causa de uma correção negativa no valor do ativo, conforme explicam as especialistas da XP, Camilla Dolle, Mayara Rodrigues e Natalia Moura, em relatório.

O efeito, porém, pode ou não ser compensado pela parte prefixada do título. Ou seja, se esse juro prefixado cair conforme as taxas que o mercado precifica naquele dia, isso poderá levar a uma valorização do preço do papel. Movimento que é chamado de marcação a mercado.

Na prática, papéis prefixados e os atrelados à inflação – especialmente os de longo prazo, que são mais sensíveis às variações – costumam valorizar quando as taxas de juros estão em tendência de queda, como é o caso agora. O contrário também é verdadeiro.

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Movimento diferente do passado

Em 2022, por exemplo, as três lembram que a deflação representou uma surpresa inicial para os mercados, o que fez com que as taxas de juros reais se elevassem no período. Com isso, as profissionais afirmam que o preço dos títulos sofreu uma desvalorização tanto por conta do efeito da marcação a mercado (elevação do juro real) quanto por causa do carrego (acúmulo de IPCA negativo naquele mês).

Embora a deflação vista no ano passado entre os meses de julho e setembro tenha levado a uma fuga de ativos atrelados à inflação, as especialistas da XP reconhecem que tais títulos podem ter um impacto pequeno, mas acreditam que o momento segue favorável para alocar em papéis atrelados ao IPCA, principalmente para prazos médios e longos.

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As profissionais avaliam que o resultado negativo visto agora tem uma “natureza de curto prazo”. Há uma expectativa de que o IPCA de julho também apresente uma deflação próxima de zero, mas isso deve se dissipar nos próximos meses. As especialistas também alegam que o fenômeno parece bem diferente do registrado em 2022.

Um dos primeiros aspectos ressaltados pelas três e que diferenciam o fenômeno atual do antigo é que a deflação observada no mês passado foi pouco expressiva, principalmente na comparação com o ano anterior. Outro ponto, afirmam, é que o resultado foi mais brando do que o antecipado por economistas. O consenso de mercado esperava uma queda de -0,10%.

Outro detalhe é que as estimativas de inflação da corretora levam em conta que a inflação seguirá acima da meta do Banco Central nos próximos dois anos, com projeções em 4,7% em 2023 e 4,1% em 2024 – o que tende a diminuir os riscos de que o fenômeno da deflação volte a ocorrer.

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O Itaú BBA também está com algumas apostas em ativos atrelados à inflação. Na carteira recomendada de papéis do tipo para julho, por exemplo, a sugestão contém debêntures incentivadas e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), com prazo de vencimento entre 2024 e 2037.

Na lista estão três debêntures da Concessionária Rota das Bandeiras (CBAN12, CBAN52 e CBAN72), além de títulos de dívida da Engie (EGIE19 e EGIE39) e da CSN Mineração (CMIN12). Há ainda um CRI da Rede D’Or (19H0262186), que possui vencimento em 2029.

Momento único para debêntures com isenção de IR

O otimismo com alguns produtos atrelados à inflação, especialmente os com isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas, como as debêntures incentivadas, também é compartilhado por gestores.

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Em carta divulgada neste mês, a Sparta destacou que as debêntures incentivadas apresentaram mais um mês de forte fechamento (queda) dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação ao dos títulos públicos, considerados de baixo risco) e de recuperação nos preços.

“Entendemos que os preços atuais oferecem excelente oportunidade de investimento nessa classe de ativos”, avaliaram os especialistas da casa.

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Não à toa, a casa informou que vai reabrir o Sparta Debêntures Incentivadas e o Sparta Max para aproveitar os prêmios e a normalização da demanda, com um equilíbrio maior entre aplicações e resgates.

O primeiro deverá abrir a partir da próxima segunda-feira (17) e não há data para fechamento. Já o segundo está aberto e permanecerá disponível para aplicações até o dia 31 de julho. Após essa data, a gestora informou que apenas o fundo espelho dessa estratégia com resgate em 60 dias é que vai se manter aberto.

A visão mais positiva para as debêntures incentivadas também é compartilhada pela Legacy Capital. Em carta a investidores, a gestora reforçou que o momento é “único” para aplicar em papéis do tipo voltados para empresas de qualidade, que estão oferecendo retornos entre IPCA+7% e IPCA+7,5%.

Uma das vantagens das debêntures incentivadas, na visão da casa, é que elas envolvem papéis mais ligados a infraestrutura. Ou seja, produtos que tendem a ter fundamentos de crédito mais sólidos, caracterizados pela grande previsibilidade de geração de caixa, com receitas geralmente indexadas à inflação, em muitos casos, o que favorece a alocação nesse tipo de ativo, lembra a Legacy.

“Por esse motivo que é muito mais raro ver um default [calote] de uma empresa de infraestrutura, ou de um project finance, do que de uma companhia ligada a setores mais cíclicos como varejistas, construtoras, etc”, pondera a casa.