De olho no fim do ciclo de alta da Selic, especialistas começam a se voltar para títulos de inflação longos

Papéis como o Tesouro IPCA + com vencimentos distantes costumam ser mais sensíveis ao risco e podem oferecer chance de ganho de capital, dizem alocadores

Bruna Furlani

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A percepção de uma parte do mercado de que o ciclo de alta da Selic, já em 13,25% ao ano, deverá encerrar em breve tem levado os especialistas a olhar com carinho para a porção mais distante da curva de juros. Na visão de alguns deles, as taxas títulos públicos de longo prazo atrelados à inflação estão atrativas.

Segundo Nicolas Giacometti, especialista em renda fixa da Blue3, os preços dos títulos de prazo mais longo são mais sensíveis ao risco e, por isso, variam com maior intensidade. Assim, é possível encontrar neles oportunidades de ganhos de capital em saídas antecipadas, antes do vencimento dos papéis.

Explique-se: os juros oferecidos por um título de renda fixa têm uma relação inversa com o seu preço de negociação pelos investidores. Quando as taxas recuam, seu valor tende a subir. O contrário também é verdadeiro.

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A expectativa (ainda que não consensual) de que os juros parem de subir nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) – e, bem mais à frente, comecem a arrefecer – poderia favorecer a alta dos preços dos títulos de inflação. Na prática, devido à chamada “marcação a mercado” dos papéis, alguns especialistas acreditam que eles podem valorizar.

Nesse caso, papéis com vencimentos mais longos, como 2060, podem ser boas opções para uma alocação com esse objetivo, afirma Giacometti. Como esse tipo de vencimento não está disponível no Tesouro Direto, uma alternativa é alocar no Tesouro IPCA + 2055, por exemplo.

Outra opção, diz o especialista, é aplicar no título com vencimento em 2035, em que a relação risco e retorno parece atrativa. Nesta segunda-feira (27), por exemplo, o papel oferecia juro real de 5,78% ao ano.

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A estratégia representa uma mudança para os investidores, já que até recentemente as recomendações de grandes casas de análise giravam em torno de títulos atrelados à inflação de curto prazo, caso do Tesouro IPCA + 2026 (que, aliás, ainda não foi totalmente eliminado das indicações). O principal ponto era evitar papéis que oferecessem risco maior, diante de um cenário nebuloso para os juros.

É fato que o ambiente ainda segue muito incerto, mas a aproximação do fim do ciclo de alta da Selic tem pesado a favor na hora de alocar nesses tipos de papéis também na MAG Investimentos. A razão está ligada a um estudo recente feito pela gestora.

Patrícia Pereira, estrategista-chefe da gestora, explica que um levantamento mostrou que títulos públicos de inflação de prazo mais longo costumam se sair melhor do que os de vencimento mais curto durante períodos de estabilidade da Selic ou com a aproximação do fim de ciclo de aumento da taxa básica de juros.

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Para a análise, a estrategista-chefe comparou o desempenho do IMA-B5+ (índice de renda fixa composto por títulos públicos atrelados à inflação com vencimento igual ou maior do que cinco anos) com o retorno do IMA-B5, que envolve os papéis com vencimento cinco anos ou menos.

Segundo o estudo, entre setembro de 2015 e outubro de 2016, por exemplo, quando houve um período de alta de juros seguido por outro de estabilidade da Selic, o IMA-B5+ subiu quase 40%, enquanto o IMA-B5 avançou cerca de 21%.

Da mesma forma, quando a Selic caiu após um período de altas entre setembro de 2011 e novembro de 2012, o IMA-B mais longo teve ganhos de quase 38%, contra 20% do IMA-B mais curto.

Por outro lado, em períodos de alta da Selic, como de março de 2021 para cá, o desempenho do índice de papéis mais curtos (IMA-B5) é melhor do que o indicador longo (IMA-B5+), com avanço de quase 11% contra um recuo de 0,4%, respectivamente.

Patrícia defende que a subida maior dos títulos de curto prazo em relação aos longos nos últimos meses ocorre porque a inflação apresentada nos indicadores ficou mais alta do que a esperada pelos economistas.

Em maio, no entanto, houve uma inversão: os títulos atrelados à inflação de longo prazo avançaram mais do que os papéis de curto, ao subir 1,16% contra 0,78%. A estrategista destaca que isso “pode indicar uma precificação de fim de ciclo”.

Para ela, a justificativa está nas medidas do governo para tentar baixar o preço dos combustíveis. Nos cálculos de agentes de mercado, tais medidas podem diminuir as expectativas de inflação neste ano em até 3 pontos percentuais, o que reduz as chances de o Banco Central elevar a Selic muito além das projeções atuais, que estão entre 13,50% e 13,75% ao ano.

Nesse caso, diz Patrícia, a tendência é de que os papéis de prazo mais curto registrem performances inferiores aos de vencimento mais longo.

Uni, duni, tê

Ainda que alocações de prazo mais longo tenham ganhado espaço nas carteiras de algumas casas, posições em papéis de curto prazo seguem a preferência de outros alocadores. É o caso de Daniel Onaga, analista de renda fixa e crédito da Eleven Financial.

Na avaliação do especialista, o ideal agora é manter a maior parte das alocações em títulos pós-fixados e ter uma posição em títulos atrelados à inflação com prazo mais curto, como o Tesouro IPCA + 2026, sem esquecer de deixar um percentual para aplicar em outras oportunidades pontuais. “É hora de focar na preservação de capital, além de ter flexibilidade e liquidez para fazer outras alocações”, afirma.

De olho nisso, a casa recentemente incluiu na carteira de renda fixa uma sugestão de compra para o Tesouro IPCA + 2032. A justificativa está no fato de que o papel sugerido possui juros semestrais, o que diminui a duration (prazo médio ponderado em que o investidor recebe os fluxos de um título) e consequentemente, o risco.

“Fizemos uma recomendação para alongar, mas de maneira cometida”, ponderou. “O foco é capturar mais prêmio na curva, mas esse tipo de alocação deve corresponder apenas a uma parcela pequena do portfólio”, completou Onaga.