Como pequenas e médias empresas levaram fundo da AZ Quest a conquistar lugar entre os maiores da década

AZ Quest Small Mid Caps apresentou ganho de 604% na última década, ante valorização de 68,6% do Ibovespa

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Fugir de nomes óbvios na Bolsa e buscar companhias de menor capitalização pode ser uma escolha arriscada, especialmente em uma economia com o histórico da brasileira. A decisão, contudo, se mostrou bastante acertada para quem confiou e investiu no fundo AZ Quest Small Mid Caps.

Lançado em 2009, o produto da AZ Quest concentrou esforço em pequenas e médias empresas do mercado doméstico e garantiu o segundo lugar entre os melhores fundos de ações da década, segundo o ranking InfoMoney-Ibmec 2020.

Nos últimos dez anos, o fundo entregou ganhos de 604% aos cotistas, bem acima da alta de 142,2% de seu referencial, o índice de small caps (SMLL), e também da valorização de 68,6% do Ibovespa.

Fundada em 2001 como Quest Investimentos pelo ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros, a gestora teve 60% do seu capital adquirido em 2015 pelo grupo italiano Azimut, no Brasil, originando a AZ Quest.

Com o passar dos anos, a asset, que tinha inicialmente um DNA de análise macro, deu seu primeiro passo em renda variável, lançando, em 2005, dois produtos: um fundo long and short e outro do tipo “long only”.

Faltava no portfólio, porém, uma carteira que pudesse captar a retomada econômica esperada a partir de 2009, com foco exclusivo em nomes ligados à atividade doméstica. E foi com a atenção voltada a empresas ainda pouco exploradas pelo mercado e com forte potencial de valorização que nasceu o AZ Quest Small Mid Caps. Atualmente, o fundo possui um patrimônio líquido de R$ 1,6 bilhão e está fechado para novas captações.

Liderada por Walter Maciel, CEO da casa, a AZ Quest hoje possui cerca de R$ 20 bilhões em ativos sob gestão, dos quais R$ 7,3 bilhões em fundos de ações. Demais produtos incluem produtos multimercado, de crédito privado, previdenciário, de arbitragem e um fundo com viés de impacto social.

Estreia em uma crise

Focado no segmento de small e mid caps (ações de empresas de pequena e média capitalização da Bolsa brasileira), o fundo foi criado em dezembro de 2009, um dos melhores anos do Ibovespa, com alta da ordem de 83%.

“Era um momento em que você tinha preocupações sobre como a crise se desenrolaria, mas as reações dos bancos centrais e o estímulo fiscal recebido pelo Brasil acabaram fazendo com que a recuperação dos preços dos ativos fosse bastante rápida, depois de um 2008 catastrófico”, lembra Alexandre Silverio, CIO da AZ Quest e gestor responsável pela estratégia de renda variável da casa.

Nem tudo, todavia, foi um mar de rosas para o mercado. Embora a Bolsa tenha registrado forte valorização em 2009, os anos que se seguiram, em especial no período de 2011 a 2015, foram marcados por mais baixas do que altas. Naqueles cinco anos, o índice de small caps (SMLL) caiu 41,4%, enquanto o Ibovespa registrou perda de 37,5%. O AZ Quest Small Mid Caps, por sua vez, ficou em terreno positivo, com alta de 50%.

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O fundo também teve seus grandes desafios. Silverio, que tem 25 anos de experiência em gestão, nove deles na AZ Quest, tentou algumas vezes se antecipar ao fim da crise brasileira, buscando comprar papéis do varejo por acreditar que o fundo do poço já tinha chegado – o que não se provou verdadeiro.

Os anos de 2014 e 2015 foram de perdas para o AZ Quest Small Mid Caps, mas representarem exceções no histórico. Em 2016, a situação já estava mais favorável e o fundo não parou de ganhar desde então, com destaque para 2019, quando a valorização chegou perto de 50%.

Small, mas nem tanto

Com foco em empresas de pequena e média capitalização, o Small Mid Caps evita apostar em nomes mais ilíquidos e em empresas consideradas “micro caps”, com valor de mercado abaixo de R$ 2 bilhões.

Em 2017, metade da carteira estava alocada em companhias com valor de mercado entre R$ 2 bilhões e R$ 10 bilhões. Na sequência, com 40% de participação, estavam ações de empresas avaliadas entre R$ 10 bilhões e R$ 30 bilhões e os outros 10% recaíam sobre aquelas que valiam mais de R$ 30 bilhões.

Essa proporção, no entanto, sofreu alterações ao longo do tempo com a valorização do mercado. Hoje, o fundo tem um terço do capital alocado em ações com valor de mercado superior a R$ 30 bilhões. Os outros dois terços estão em companhias que valem de R$ 2 bilhões a R$ 10 bilhões e naquelas entre R$ 10 bilhões e R$ 30 bilhões. “Todo sonho do investidor de small caps deveria ser que sua empresa deixasse de ser uma small cap um dia”, diz Silverio.

Cogna (ex-Kroton) é um caso de empresa selecionada para o fundo ainda em estágio inicial. As ações entraram na carteira em 2013, em meio à expectativa na época de incremento da receita com o Fies, programa de financiamento estudantil do governo.

“Soubemos identificar que haveria um programa de incentivo para o ensino superior e a Kroton foi a empresa que soube fazer essa leitura, adequar seus processos, criar campi e ensino a distância. Ela está se reinventando até hoje”, observa Silverio.

Em 2015, a definição de novas regras para a concessão do Fies mudou o ambiente de negócios das empresas do setor de educação e gerou impacto sobre a rentabilidade, o que levou a gestora a zerar as posições em Kroton. Hoje, o nome preferido no segmento é o da Yduqs (ex-Estácio).

Principais posições do fundo

Otimista com o cenário para a Bolsa nos próximos meses, a equipe de gestão do fundo da AZ Quest mantém uma posição acima da média em ações, com 40 nomes. Historicamente, a composição ficou entre 25 e 30 papéis.

Do total de ativos, 25% estão concentrados no varejo, com preferência por empresas com planos de negócio focados tanto no crescimento de lucro e receita quanto na abertura de novas lojas.

“O fato de termos vivido uma década econômica tão difícil, com crescimento baixo, e mesmo assim essas empresas conseguirem entregar ótima rentabilidade e crescimento de receita, demonstra que temos bons exemplos de companhias no Brasil”, assinala o CIO.

Hoje, as maiores posições do fundo não são necessariamente small ou mid caps, caso de Magazine Luiza, Yduqs, Qualicorp e Natura, com cerca de 7% a 8% de participação no portfólio cada. Demais nomes incluem Localiza e Via Varejo, cada uma com peso de 5%.

“2020 vai ser um ano importante, porque teremos uma série de operações para vir a mercado, tanto em número de IPOs quanto de follow-on. Veremos novas empresas nos setores de construção civil, varejo, saúde, saneamento, o que vai gerar para nós, gestores, novas oportunidades”, pontua Silverio.

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