Como investir com a Selic mantida em 2% ao ano e com aumento dos riscos inflacionários

Segundo especialistas, investidor deve proteger portfólio com ativos que entreguem juros reais, como títulos atrelados à inflação e fundos imobiliários

Mariana Zonta d'Ávila

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SÃO PAULO – Conforme esperado pelo mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve, pela segunda reunião consecutiva, a taxa básica de juros em 2% ao ano.

Apesar de a Selic seguir inalterada, desde a última reunião do Copom cresceu o receio do investidor brasileiro  com o quadro fiscal e com a aceleração da inflação, com reflexo sobre as perspectivas de alta de juros em 2021 e, consequentemente, sobre as recomendações de investimentos.

“O BC tem que controlar os impactos secundários da inflação. Se começar um processo de recuperação mais acelerada da economia, com maior geração de empregos, a autoridade monetária vai ter que atuar, [subindo os juros]”, diz Dan Kawa, sócio da gestora de patrimônio TAG Investimentos.

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Na semana passada, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – Base 15 (IPCA-15) surpreendeu negativamente, após registrar inflação de 0,94% em outubro, a maior alta para o mês desde 1995.

No ano até setembro, o IPCA, índice de preços de referência no Brasil, acumula inflação de 1,34% e, em 12 meses, de 3,14%. E as perspectivas para a inflação em 2020 não param de subir. De acordo com o relatório Focus, do Banco Central, mais recente, a inflação deve chegar a 2,99% em 2020, na 11ª elevação seguida da projeção.

Na avaliação de Kawa, uma parte da pressão inflacionária é pontual, reflexo da queda da cadeia produtiva em meio à pandemia, e deve se estabilizar nos próximos meses.

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Outra fatia mais permanente, contudo, se deve a uma retomada da atividade em meio à reabertura econômica, após um nível de inflação muito baixo no país entre os meses de março e maio.

Como investir nesse cenário?

Com o aumento das tensões com os gastos do governo, em paralelo com uma segunda onda de contaminações pela Covid-19 na Europa, o nível de risco aumentou, dificultando ainda mais a escolha de bons produtos financeiros pelo brasileiro.

Com um pregão de forte queda nesta quarta-feira, o Ibovespa amenizou os ganhos do mês para 0,8%, enquanto o dólar se aprecia em 2,6% em relação ao real no período.

Diante desse quadro, a busca por proteção tem aumentado e gestores de patrimônio e assessores de investimento consultados pelo InfoMoney recomendam que o investidor diversifique o portfólio buscando ativos com ganhos reais, acima da inflação, para se proteger de um aumento dos preços.

Nos títulos públicos, Kawa diz gostar principalmente do papel Tesouro IPCA+ com vencimentos entre 2024 e 2027.

“O juro real é baixo, na casa de 1% e 2%, mas não são papéis com vencimentos muito longos, expostos a um risco fiscal. Além disso, se o IPCA for alto, tem o carrego da inflação”, defende.

Renato Iversson, gestor da Taler Investimentos, afirma que os prêmios estão mais interessantes na parte longa da curva de juros, mas que há grande incerteza em meio ao aumento dos gastos públicos, o que acentua o risco a ser assumido pelo investidor. Por isso, a preferência recai sobre títulos de vencimentos intermediários, como 2030 e 2035.

No Tesouro Direto, o Tesouro IPCA+2026 oferecia um prêmio anual de 3,07% mais a variação do IPCA nesta quarta-feira, enquanto o mesmo papel com prazo em 2035 pagava um juro real de 4,20% ao ano.

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O gestor da Taler se diz menos animado com papéis prefixados, dada a condução das contas públicas e os riscos associados, mas possui posições menores nos vencimentos entre 2023 e 2026, dadas as taxas tidas como atrativas.

Nesta quarta-feira, os prêmios dos títulos negociados no Tesouro Direto correspondiam a 5,16% e a 7,41% ao ano, respectivamente.

Pesquisa elaborada nesta semana pela XP Investimentos com 32 gestores de fundos multimercado macro mostrou que 65,6% esperam agora que o juro básico suba em 2021, com metade acreditando que a alta se dará entre o terceiro e o quarto trimestre.

Crédito Privado

Na fatia de renda fixa de crédito privado, o gestor da TAG Investimentos diz preferir os fundos de crédito high yield (que embutem maior expectativa de risco e retorno), em busca de taxas na casa de CDI mais 7% ao ano.

Segundo ele, os fundos high grade (crédito de maior qualidade) não estão hoje sendo negociados com uma relação entre risco e retorno atrativa. 

“Vemos esses fundos com taxas de CDI mais 1% a 2% ao ano. É um carrego ok, mas não é atrativo diante dos riscos ainda presentes”, justifica.

Já Iversson, da Taler, destaca que tem evitado papéis de crédito privado por conta da falta de liquidez dos papéis. “Se o investidor for entrar, precisa fazer buy and hold [comprar e manter], porque não tem mercado secundário”, diz, apontando para a dificuldade enfrentada pelo investidor para se desfazer dos papéis antes da data de vencimento.

Bolsa

Na renda variável, ações de empresas que repassem a inflação são consideradas “ouro”.

Tiago Alvim, sócio no escritório Voga Invest, vê boas oportunidades em empresas de varejo, principalmente de e-commerce, assim como em companhias de produtos essenciais, casos de infraestrutura e serviços, que conseguem repassar aumentos de preços aos investidores.

O cenário, contudo, exige cautela, afirma Bruno Ponciano, assessor de investimentos no escritório Artigiano Investimentos. “Se nada for feito para resolver o lado fiscal, podemos ter meses muito ruins para a Bolsa pela frente”, diz.

A grande preocupação, destaca, recai sobre o cumprimento do teto de gastos em meio ao aumento da dívida pública, em um ambiente de economia fragilizada e sem o avanço de reformas estruturais necessárias, como a tributária.

Ele conta que, no escritório, os clientes têm reduzido posições na Bolsa. Para quem deseja entrar, a recomendação é “comprar aos poucos”.

Uma boa opção, diz, reside sobre fundos long biased, que conseguem se proteger melhor em um movimento de realização da Bolsa dada a maior flexibilidade na gestão.

Na Taler, a escolha recai sobre gestores de fundos de estratégias como long only e também de long biased, tidos como complementares em uma carteira, principalmente no cenário atual, diz Iversson.

Investimentos alternativos

Outra forma de proteger a carteira da inflação se dá por meio de ativos alternativos, menos líquidos, como fundos de venture capital e de private equity, que buscam oferecer retornos na casa de 20% a 30% ao ano, defende Kawa.

São, contudo, opções mais arrojadas e muitas vezes voltadas para investidores qualificados, com no mínimo R$ 1 milhão em aplicações financeiras.

“O grande pulo do gato é a execução. Não é qualquer fundo de venture capital, o investidor precisa escolher os gestores corretos e estar bem assessorado”, diz.

Fundos imobiliários também são apontados como bons ativos para diversificar o portfólio e defender a carteira da maior pressão inflacionária, afirma Kawa, uma vez que a maioria dos FIIs possui contratos de aluguel atrelados à variação da inflação, como IPCA ou IGP-M.

É preciso, entretanto, que o investidor avalie os diferentes setores, os ativos que compõem as carteiras e o time de gestão antes de investir, orienta Iversson, da Taler.

Isso porque a classe também foi afetada pela pandemia, o que levou a um aumento da taxa de vacância em fundos de escritórios, e ao fechamento temporário de shopping centers e hotéis, diante das medidas de isolamento social para conter o vírus.

No ano, o Ifix, índice que acompanha os FIIs negociados em Bolsa, recuava 13,3% até esta quarta-feira.

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