Banco Central mantém Selic em 2% e vê inflação mais alta como “choque temporário”

Decisão seguiu o que esperava a maioria dos analistas, que agora se voltam para o comunicado e perspectivas para os próximos meses

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – O Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu nesta quarta-feira (28) manter a Selic 2% ao ano, seguindo o que esperava a maior parte dos analistas.

A expectativa, porém, está para o que o Banco Central fará a partir de agora, com um cenário de economia ainda bastante fraca por conta da crise, mas com uma inflação que dá cada vez mais sinais de ganhar força.

Dados mais recentes do boletim Focus do BC indicam uma queda de 4,81% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional este ano. Enquanto isso, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em setembro chegou a 3,14% no acumulado de 12 meses, ainda abaixo da meta, mas já mais forte que os 2,44% de agosto.

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Neste cenário, antes da decisão, analistas já discutiam o que a autoridade monetária está pensando para a virada deste ano para o próximo, já que a economia fraca condiz com o ambiente de juros baixos, enquanto olhando do lado da inflação, já se justifica uma possível alta na Selic.

No comunicado, o BC destacou a alta da inflação, mas que segue apenas monitorando, sendo que existem fatores de risco para ambas as direções. “Apesar da pressão inflacionária mais forte no curto prazo, o Comitê mantém o diagnóstico de que esse choque é temporário, mas monitora sua evolução com atenção”, diz a nota.

A autoridade monetária afirma ainda que a decisão reflete “seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2021 e 2022”.

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“O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”, segue o documento.

O BC ainda decidiu manter suas perspectivas (forward guidance), segundo o qual não pretende reduzir o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições sejam satisfeitas. Entre elas, a nota cita as projeções de inflação abaixo da meta, o regime fiscal sem alterações e as expectativas de inflação de longo prazo ainda ancoradas.

Confira o comunicado na íntegra:

Em sua 234ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 2,00% a.a.

A atualização do cenário básico do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:

O Comitê ressalta que, em seu cenário básico para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções.

Por um lado, o nível de ociosidade pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, notadamente quando essa ociosidade está concentrada no setor de serviços. Esse risco se intensifica caso uma reversão mais lenta dos efeitos da pandemia prolongue o ambiente de elevada incerteza e de aumento da poupança precaucional.

Por outro lado, o prolongamento das políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco. O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária.

O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.

Considerando o cenário básico, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros em 2,00% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete seu cenário básico e um balanço de riscos de variância maior do que a usual para a inflação prospectiva e é compatível com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2021 e 2022.

O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno.

O Comitê considera adequado o atual nível de estímulo monetário que vem sendo produzido pela manutenção da taxa básica de juros em 2,00% a.a. e pelo forward guidance adotado em sua 232ª reunião, segundo o qual o Copom não pretende reduzir o grau de estímulo monetário desde que determinadas condições sejam satisfeitas. O Copom avalia que essas condições seguem satisfeitas: as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Fabio Kanczuk, Fernanda Feitosa Nechio, João Manoel Pinho de Mello, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Paulo Sérgio Neves de Souza.

*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio R$/US$ observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.

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Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.