Como ficam as ações da Gol (GOLL4) após pedido de RJ nos EUA e saída do Ibovespa?

A aérea não deve sair do Ibovespa, mas investidor deve considerar o risco entre permanecer no papel ou bancar o prejuízo e vender

Monique Lima

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A Gol (GOLL4) anunciou na última quinta-feira (25) que acionou o mecanismo Chapter 11 nos EUA, similar à recuperação judicial do Brasil. Embora a notícia não tenha sido surpresa para o mercado, as ações sofreram e foram excluídas pela B3 de nove índices, incluindo o Ibovespa. Com tudo isso, investidores se questionam: como fica a situação do papel e o que esperar do pedido de reestruturação da dívida da aérea?

Em meio às incertezas, especialistas respondem o que é possível esperar para as ações, o que pode acontecer com os papéis negociados no Brasil, e quais os caminhos que se colocam para o acionista minoritário neste momento. Veja respostas para as principais dúvidas.

As ações da GOL saíram do Ibovespa? 

Sim. A deslistagem das ações da bolsa de valores é opcional para as empresas quando entram em processo de reestruturação de dívida mediada pala Justiça, diz Gabriel Meira, sócio da Valor Investimentos. A Gol optou por não deslistar. Porém, a B3 decidiu por excluir as ações da companhia de nove índices, incluindo o Ibovespa.

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Apesar de ter sido excluída do Ibovespa e outros índices, a ação GOLL4 segue negociada normalmente no Brasil, mas passa a ser listada na B3 sob o título de “Outras Condições” a partir do pregão do dia 30.

Como ficam as ações? 

As ações da Gol ainda devem passar por forte desvalorização pela debandada de investidores dos papéis, como já está começou a ser observado desde a semana passada, o que deve se agravar com a saída dos índices. Muitos fundos e ETFs que acompanham o Ibov, vale lembrar, deixarão automaticamente de comprar o papel.

Na sexta-feira (26), após o anúncio de pedido de recuperação judicial, os papéis caíram mais de 12% na Bolsa brasileira. Na segunda-feira, a ação derreteu mais de 33% e já é negociada a R$ 3,93, menos da metade do preço de fechamento de 2023.

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Analistas já acreditavam que a liquidez das ações diminuiria com o passar do tempo, algo que tende a ser agravado com a decisão da B3 de remover GOLL4 dos índices. Com isso, os preços devem ser ainda mais pressionados e os riscos aumentados para o investidor. 

Melhor vender ou esperar?

Muitas casas já tinham recomendação de venda para as ações da Gol antes da crise, em movimento que tende a acelerar. De modo geral, a recomendação dos principais bancos é de venda das ações brasileiras (GOLL3 e GOLL4) e dos recibos (GOL) listados nos Estados Unidos. O Goldman Sachs decidiu parar de cobrir as ações da empresa, enquanto o Itaú BBA decidiu colocar a recomendação sob revisão.  

Meira destaca que ações são, em geral, investimentos de longo prazo, e recomenda esperar as próximas etapas do plano ao invés de realizar o prejuízo agora. A situação da Gol não é inédita entre companhias aéreas. Em 2020, a Latam entrou com o mesmo pedido no Tribunal dos EUA. Antes dela, outras companhias foram Delta e United Airlines.

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Quais são os direitos dos minoritários?  

“Como sócio da empresa, tem que arcar com os ônus e com os bônus”, diz Meira. O pedido de recuperação judicial, nos EUA ou no Brasil, não confere nenhum direito aos acionistas, sejam eles minoritários ou majoritários. Somente no caso de falência, se a empresa não conseguir reestruturar suas dívidas, haverá uma fila de prioridade para os pagamentos.  

No entanto, acionistas da Gol no exterior podem ser preteridos em relação aos credores. Por conta de uma característica do processo de recuperação judicial americano chamado Absolute Priority Rule (regra de prioridade absoluta, em tradução livre), credores ganham preferência ante os investidores.

“Daqui para a frente vemos forte volatilidade para as ações da Gol. Não temos recomendação, mas uma visão estruturalmente negativa para a ação”, diz Luan Alves, analista-chefe da VG Research.  

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Quais são os próximos passos para a Gol?  

A empresa anunciou dia 29 de janeiro que a Justiça dos Estados Unidos, onde corre seu processo de recuperação judicial, aprovou o acesso provisório a parcela inicial de um empréstimo de US$ 950 milhões. O valor, segundo a empresa, permitirá manter as operações “normalmente”.

A aérea divulgou na segunda-feira (29) que encerrou dezembro de 2023 com endividamento de R$ 20,176 bilhões. Os ativos, não auditados, somavam R$ 16,832 bilhões e o patrimônio líquido estava negativo em R$ 23,350 bilhões.

Espera-se que a Gol apresente em seguida um plano de restruturação de dívida, com detalhes sobre pagamentos e financiamento, e cabe aos credores decidirem se aprovam ou não – é necessário aval de mais de dois terços. Se aprovado, o plano passará em seguida pela Justiça para validação, e a empresa terá um prazo para colocá-lo em prática.

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“É um processo muito longo e é importante acompanhar. É muito cedo [para ter certezas] sobre a situação da Gol”, diz o sócio da Valor Investimentos.

No Brasil, um caminho provável é que a companhia peça também o reconhecimento do processo junto à lei brasileira para evitar processos judiciais dos credores locais.