Os fundos de ações e multimercados que mais ganharam e perderam cotistas no 1º semestre

Fundos chegam a conquistar até 30 mil novos investidores de janeiro a junho; maiores perdas chegam a ultrapassar os 10 mil cotistas

Beatriz Cutait | Lucas Bombana

(Getty Images)

SÃO PAULO – Se algum gestor disser que o primeiro semestre de 2020 deixou boas lembranças, há grande chance de estar mentindo. A epidemia de coronavírus pegou o mundo de surpresa e naturalmente não poupou o mercado financeiro. Muito pelo contrário.

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As bolsas mundiais despencaram, a corrida por ativos de baixo risco se intensificou e as expectativas macroeconômicas tiveram que ser completamente alteradas, com uma recessão que logo se imporia em um novo cenário.

No mercado brasileiro, em meio à queda da ordem de 18% do Ibovespa no semestre, os fundos de ações foram penalizados de maneira generalizada. Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram que, no período, a queda média das diferentes categorias desses fundos, como small caps, dividendos e “ações livres”, variou de 12,3% a 21%.

Já no grupo dos multimercados, apesar do estresse em um primeiro momento, o desempenho na primeira metade do ano não ficou tão comprometido, dada a maior liberdade dos gestores para atuar em diferentes classes de ativos, como Bolsa, juros e moedas.

Ainda que o semestre tenha sido responsável por um dos maiores desafios da história para os profissionais de investimento, diferentemente de outras crises, o investidor pessoa física tem se mostrado mais paciente em 2020, resistindo ao impulso de abandonar investimentos de risco em momentos de grande estresse, como o visto a partir do fim de fevereiro.

Levantamento feito pela Economatica a pedido do InfoMoney mostra que, entre os dez fundos de ações que mais ganharam cotistas no primeiro semestre, oito tiveram retornos negativos no período. Os dados consideram apenas fundos criados há pelo menos 12 meses.

O grupo é liderado pelo fundo da Equitas, com cerca de 29 mil novos cotistas e captação líquida de R$ 930 milhões. Embora tenha perdido dez mil investidores desde o início da crise, em 21 de fevereiro, a saída pode ser considerada pequena, perto da queda de 25% do fundo no ano.

Luis Felipe Amaral, sócio-fundador da Equitas, vê o resultado como uma “grata surpresa” e atribui parte do comportamento à diversificação da base, com a entrada dos fundos em plataformas ao fim de 2018, o que resultou no ingresso de pessoas físicas.

Na época, a decisão foi tomada de olho em uma maior estabilidade da base e levou a gestora a se adaptar para um novo público entrante, com uma comunicação intensificada nesta crise.

Outro caso que chama atenção é do Alaska Black Institucional, com queda de 17% em 2020, mas com o ingresso de mais de 17 mil cotistas, inclusive com crescimento em relação ao nível pré-crise.

Ney Miyamoto, sócio fundador e gestor da Alaska, também reconhece que o comportamento disciplinado da base de investidores, ainda mais em meio a uma crise tão aguda, foi surpreendente.

Para ele, a Selic em 2,25% ajuda a explicar a resiliência. “Se a taxa de juros estivesse em 10%, seria muito mais difícil o investidor se manter em um fundo de ações”, diz, acrescentando que o crescimento na base de cotistas pegou carona na evolução do número de investidores pessoa física na B3, que aumentou em 1 milhão no ano até junho, totalizando 2,65 milhões de pessoas físicas registradas.

No caso especifico da Alaska, Miyamoto avalia que, embora não seja garantia de rentabilidade futura, o retorno entregue no passado recente é um dos principais motivos para a chegada constante de novos clientes.

Em 2019, o fundo Alaska Black Institucional rendeu 31,1%, após retornos já expressivos de 32,3% e de 51,4% nos dois anos anteriores.

Embora o Ibovespa já tenha recuperado parte do tombo recente, Miyamoto diz que ainda há claras oportunidades em cima da mesa, desde que sob uma ótica de longo prazo. “Tem um mar de oportunidades, e nas ações que são extremamente liquidas”, afirma o especialista.

Multimercados

Entre os fundos multimercados, nove dos dez produtos que lideram o ranking de crescimento da base de cotistas têm ganhos no ano, que chegam a até 51%, no caso do Órama Ouro. E desde o início da crise, todos os fundos da lista conseguiram captar novos cotistas.

Destaque para o Ibiuna Hedge STH, com quase 30 mil novos cotistas no semestre, em meio aos ganhos de 10,3% do fundo.

Segundo Caio Santos, sócio responsável pela área de relações com investidores da Ibiuna, houve um crescimento consistente na gestora como um todo, o que ele atribui ao acerto na estratégia em meio à crise e antes dela também.

Com cerca de R$ 13 bilhões sob gestão e uma base diversificada de clientes, Santos nota uma evolução da resiliência do investidor, impulsionada ainda pelo patamar de juros baixos não só no Brasil, mas em outros países, e por um trabalho educacional, com maior conhecimento da pessoa física.

Maiores perdas

Do lado negativo, entre os fundos de ações que mais perderam cotistas na primeira metade do ano, a maioria acumula desvalorização, que chega a 30% no caso dos fundos de ações do Banco do Brasil (focado em ações da Petrobras) e do Itaú Unibanco.

O destaque fica com o Moat Capital, com a saída de 14 mil cotistas no período. O fundo, contudo, passou por uma cisão, que resultou em fundos espelho, o que explicaria a queda de investidores, segundo Adriano Leite, sócio responsável pelo relacionamento com investidores.

Um dos novos fundos foi da XP, que criou um veículo exclusivo para sua família Advisory, o que explicou a maior parte da redução de cotistas, diz Leite.

Fundo mais antigo da gestora, criado em 2014, o Moat Capital segue a estratégia “long only”, e acumulou queda de 11,4% na primeira metade do ano, menos que a desvalorização de 17,8% do Ibovespa.

Via Varejo, Lojas Americanas, B2W, Oi e Petrobras foram as posições no portfólio que mais contribuíram para a performance no período, segundo Leite. De acordo com o sócio da Moat, as oportunidades criadas pela queda indiscriminada de março foram tantas que a carteira, que vinha até então com cerca de 25 papéis, passou para perto de 40.

“Após a recuperação recente, estamos agora com aproximadamente 30 ações”, afirma. “A carteira está em um processo de depuração.”

Por fim, na parcela dos multimercados com as maiores saídas de cotistas entre janeiro e junho, o fundo que liderou as perdas foi o CA Indosuez Debêntures Incentivadas Crédito Privado, com 12 mil investidores a menos que ao fim de 2019, embora com retorno levemente positivo de 0,34% no semestre.

A relativa estabilidade apresentada pela renda fixa nos últimos cinco anos, período em que a classe entregou retornos mais polpudos, ajuda a entender os resgates nos fundos de crédito privado em 2020, diz Fábio Passos, CIO do CA Indosuez Wealth Management.

Enquanto na Bolsa o investidor coloca o dinheiro em tese ciente da volatilidade, com a possibilidade  de administrar melhor a ansiedade na crise, nos fundos de renda fixa, a rentabilidade negativa pegou muita gente desprevenida, afirma Passos, que compara a situação a um “passeio fluvial atingido por uma tromba d´água”.

“As pessoas carregam a memória do que aconteceu recentemente, mas a renda fixa tem volatilidade, como qualquer outra classe de ativo.”

Após o baque inicial, contudo, aos poucos os investidores devem voltar novamente os olhares para fundos de dívida privada, prevê o CIO, ainda que em um ritmo mais lento que na Bolsa.

“Nunca vi uma assimetria tão grande de retorno”, diz, acrescentando que não houve registro de evento de crédito entre os ativos nos fundos do CA Indosuez, com dívidas de empresas como Enel, Usiminas, Sabesp, Via Varejo e CCR.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.