BlackRock: Investidor não pode atrasar a coragem de abandonar o vício do CDI

Principais apostas da gestora estão hoje em ações japonesas e de mercados emergentes, assim como em títulos de renda fixa high yield

Beatriz Cutait

Carlos Takahashi, CEO da BlackRock Brasil

SÃO PAULO – Em meio a taxas de juros cada vez mais baixas no Brasil, e também no restante do mundo, investidores têm sido cada vez mais estimulados a assumir mais riscos para garantir retornos consistentes. Mas, mesmo com a taxa Selic caindo ontem para o menor nível histórico, de 4,5% ao ano, pressionando as rentabilidades de aplicações de renda fixa, o brasileiro ainda mostra dificuldade para diversificar melhor seu portfólio.

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“A grande pauta é não atrasar a coragem de abandonar o vício do CDI”, afirmou hoje Carlos Takahashi, CEO da BlackRock Brasil, em referência ao conhecido apego do investidor brasileiro às aplicações mais conservadoras. “E perder esse vício não é uma coisa simples, fácil.”

Apesar de enfatizar a recomendação, Takahashi ressaltou nesta quinta-feira, em conversa com jornalistas, que a diversificação já começou a acontecer. “É um processo bastante consistente, misto de um cenário macroeconômico favorável e a ruptura em um modelo de distribuição.”

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Nesse ambiente, o executivo destacou que, além da diversificação internacional, o investidor brasileiro precisa pensar em produtos alternativos, com ativos reais como de infraestrutura, private equity e do setor imobiliário.

Em termos de alocação, Takahashi enxerga duas preocupações no cenário atual: buscar retorno, especialmente com mais investimento em ativos de risco, e inflação. “Se tiver crescimento e com taxas de juros em níveis baixos, pode ter pressão inflacionária, que pode provocar mudanças nos portfólios”, assinalou.

Japão e emergentes: grandes apostas

Em relatório com as perspectivas para 2020, a BlackRock, responsável pela gestão de quase US$ 7 trilhões no mundo, apontou que as principais apostas estão hoje em ações japonesas e de mercados emergentes, assim como em títulos de renda fixa high yield e também de mercados emergentes. Nos Estados Unidos, a casa reduziu a classificação para as ações para neutra, ressaltando estar cautelosa em relação à habilidade das ações em resistirem aos riscos da eleição de 2020, o grande evento do próximo ano.

“Esperamos um crescimento superior em 2020, com risco de recessão em curto prazo limitados. Este é um cenário favorável para ativos de risco. A postura moderada dos bancos centrais que direcionou os mercados em 2019 está muito atrás de nós, o risco de inflação parece subestimado e pode levar a uma mudança no regime de mercado. Isso nos deixa em pró-risco geral, mas apenas moderadamente”, pontuou a gestora, em relatório.

Com o fim dos estímulos monetários pelos bancos centrais, o crescimento será o principal suporte dos ativos de risco.

Estrangeiro quer crescimento do Brasil

Foco de atenção no mercado brasileiro, a volta do investidor estrangeiro só deverá acontecer de vez com o crescimento do país e com o que Takahashi chama de “agenda clara de oportunidades”, com privatizações, concessões, um ambiente regulatório claro e micro reformas. “Não é o juro baixo que vai trazer o estrangeiro de volta”, disse o CEO.

Com cerca de R$ 12 bilhões em gestão de ETFs (fundos de índices negociados na Bolsa) no Brasil, a BlackRock tem estudado o mercado para oferecer novos produtos. Hoje a instituição é responsável pela gestão de cinco ETFs de renda variável, com destaque para o BOVA11, o mais negociado do país, que replica o desempenho do Ibovespa.

ETFs: chega de mais do mesmo

Questionado sobre a possibilidade de lançar um ETF de renda fixa no país, segmento que conta hoje com três gestoras, o CEO da BlackRock Brasil afirmou que a casa está em busca de produtos diferentes dos ofertados hoje no mercado brasileiro. “Talvez não faça muito sentido ter uma infinidade dos mesmos ETFS”, afirmou.

Apenas de Ibovespa há hoje quatro ETFs que buscam replicar o índice.

Segundo dados da B3, o volume negociado de ETFs já aumentou 47% no ano, para R$ 156 bilhões, e o número de investidores mais do que dobrou, de 41,5 mil, em dezembro de 2018, para 93 mil, em outubro de 2019.

O investidor institucional é ainda o maior participante do mercado brasileiro, com mais de 70% do volume negociado e do total em custódia – as pessoas físicas respondem por 9% das negociações e por 16,4% da custódia.

Há ainda estudos para começar a distribuir ETFs no Brasil que repliquem índices estrangeiros. Hoje a BlackRock é responsável pelo IVVB11, que busca refletir a performance do índice americano S&P. “O mercado tem que se regular, encontrar caminhos para trazer ETFS para cá”, afirmou Takahashi. Além dos ETFs, a BlackRock distribui no Brasil cinco feeders (fundos espelhos de estratégias no exterior), sendo três lançados neste ano.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.