Biotecnologia puxa lista de BDRs mais valorizados em 2021; empresas chinesas lideram queda

Empresas ligadas à produção de vacinas estão entre as mais valorizadas, enquanto as companhias com exposição à China têm pior desempenho

Carla Carvalho

Depois de um ano liberado para o pequeno investidor na bolsa brasileira, os BDRs (Brazilian Depositary Receipts) vêm registrando um desempenho superior ao do Ibovespa em 2021. Enquanto o principal índice de ações da bolsa brasileira recuou cerca de 9%, o (BDRX), que mede o desempenho dos principais recibos na B3, já avançou mais de 32% este ano até o dia 10 de dezembro.

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Setores como biotecnologia e petróleo figuram no topo da lista de valorizações, ao passo que grandes companhias com foco na China e na América Latina acumulam as maiores perdas do ano.

Mas, entre todo esse universo de BDRs, quais foram os que melhor e pior desempenharam em 2021?

Veja a seguir as listas elaboradas pela Economatica a pedido do InfoMoney.

BDRs: as melhores performances de 2021

Biotecnologia

Entre os BDRs que mais se valorizaram em 2021, com liquidez média superior a R$ 1 milhão, estão duas empresas de biotecnologia: a BioNTech (B1NT34), com valorização de 231,3% e a Moderna (M1RN34), com retorno de 154,3% no acumulado até 10 de dezembro.

Em comum, ambas desenvolveram vacinas contra a Covid-19, sendo que, atualmente, as duas estão adaptando suas fórmulas para lidar com a variante ômicron.

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Assim, essas empresas que atuam na produção dos imunizantes vêm alavancando os seus resultados o que, consequentemente, se reflete no preço de suas ações.

Outros nomes importantes nesse cenário são Pfizer (PFIZ34) e Astrazeneca (A1ZN34), com valorizações de 59,3% e 19,2%, respectivamente, no acumulado do ano. Inclusive, BioNTech e Pfizer são parceiras no desenvolvimento de vacinas.

Para César Crivelli, sócio da Nord Research, parte do mercado ainda não precificou adequadamente essa nova fonte de receita das empresas de biotecnologia.

“Com cientistas e governos falando sobre a necessidade de uma terceira ou até quarta doses para reforço do sistema imunológico, é possível que a vacina da Covid-19 passe a ser uma receita recorrente para as biotechs. É como a vacina da gripe, que temos todos os anos. Possivelmente, o mesmo aconteça com a Covid, e isso ainda não está no preço das ações”, observa Crivelli.

Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, também observa que os mercados estão otimistas com as empresas de biotecnologia.

“Recentemente, BioNTech e Pfizer anunciaram que uma terceira dose da vacina seria eficaz contra a ômicron. Isso animou bastante o mercado, justamente porque já há o entendimento de que a nova variante é uma ameaça menor do que quando havia sido anunciada”, diz o analista.

Petróleo e gás

Outros exemplos de recibos que surfaram na conjuntura macroeconômica em 2021, mas que registram uma menor liquidez na negociação de seus BDRs na B3, são os das petroleiras, que se beneficiaram da alta do preço da cotação do barril do petróleo.

Apesar do recente arrefecimento das cotações, o WTI encontra-se na faixa dos US$ 70 (ante US$ 50 do início de 2021) e o do tipo Brent em US$ 74 (ante cerca de US$ 50).

Entretanto, no início de outubro, ultrapassou a marca de US$ 80, o que não acontecia desde o último grande ciclo de alta das commodities, em 2014. “Com essa alta, naturalmente é de se esperar que essas empresas lucrem mais, o que acaba se refletindo no preço de suas ações”, conclui Crivelli.

Diante disso, destacam-se os BDRs de Devon Energy Corp (D1VN34), com alta acumulada de 208,3%, Marathon Oil (M1RO34), que subiu 156,2%, Diamondback Energy (F1AN34), alta de 148%, Conocophillips (COPH34) com valorização de 106,6% e Apache (A1PA34), alta de 100,8% no ano até 10 de dezembro.

Retomada demanda combustíveis

O retorno do consumo e a queda dos investimentos em infraestrutura produtiva estão entre alguns dos motivos da alta na cotação da commodity. Além disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) afirmou que não colocaria mais petróleo no mercado.

No mais, Crespi acrescenta que o setor de petróleo tem sido bastante resiliente para o investidor no mundo todo. Segundo ele, tanto no Brasil quanto no exterior, essas empresas têm tido uma robusta geração de caixa.

“O forte controle da OPEP sobre a produção e a redução do Capex (investimento em bens de capital) dessas empresas por causa de políticas ESG leva a uma oferta mais restrita, o que segura o preço alto”, diz.

Tecnologia

O destaque na tecnologia ficou por conta, principalmente, das empresas produtoras de semicondutores.
Nesse sentido, a que melhor surfou na escassez de chips foi a Nvidia Corp (NVDC34), que viu seus BDRs acumularem valorização de 148,8% em 2021.

Outros destaques foram Advanced Micro Devices (A1MD34), alta de 62,3%; NXP Semiconductors (N1XP34), +53,7%; Broadcom (AVGO34), +57,3%; e Qualcomm (QCOM34), +34,03% até 10 de dezembro.

Para Vinícius Araújo, analista internacional da XP Investimentos, essas empresas se beneficiam da tendência, cada vez mais forte, de pessoas mais conectadas aos seus aparelhos.

“Há uma população crescente que joga videogames e está integrada ao mundo dos criptoativos e metaverso. Tudo isso ajuda a impulsionar a demanda por chips semicondutores e, por consequência, alavanca o desempenho das empresas produtoras”, diz Araújo.

Rodrigo Crespi também analisa o bom momento das empresas de tecnologia. Segundo ele, sobre a Nvidia, além da parte dos semicondutores, a empresa tem tido uma correlação forte com o Facebook, depois que a empresa anunciou o metaverso.

“A Nvidia seria uma das grandes beneficiadas pelo metaverso, pois seus chips desempenhariam papel crucial em peças de computação utilizadas nesse sistema. Por dois meses, Nvidia tem sido a melhor performance de nossa carteira de BDRs”, destaca o analista.

É importante observar também que a oferta de semicondutores não acompanhou a velocidade da demanda. Sobre isso, Crivelli observa que “nos primeiros meses de pandemia, todas as empresas pararam as suas produções”.

Entretanto, quando a demanda voltou, ressalta, “foi com força total, e o mercado não estava preparado”, já que “não havia componentes suficientes à disposição”, o que também contribuiu para a valorização dos papéis destas companhias.

BDRs com valorização superior a 100% em 2021 até 10 de dezembro
Empresa Código Volume médio diário* Valorização
Biontech Se B1NT34 7.578 231,3%
Bath & Body Works, Inc B1BW34 31 208,8%
Devon Energy Corp D1VN34 147 208,3%
Ford Motor Co FDMO34 630 161,4%
Marathon Oil Corp M1RO34 17 156,2%
Moderna, Inc M1RN34 12.299 154,3%
Nvidia Corp NVDC34 7.906 148,8%
Diamondback Energy, Inc F1AN34 32 148,0%
Macy’S, Inc MACY34 220 142,1%
Fortinet, Inc F1TN34 37 124,8%
Conocophillips COPH34 370 106,6%
Simon Property Group, Inc SIMN34 219 103,6%
Apache Corp A1PA34 87 100,8%

*Em milhares; Fonte Economática

BDRs: as piores performances de 2021

No lado negativo das variações neste ano, ainda como reflexo da pandemia, destacam-se as empresas ligadas ao turismo. Alguns exemplos são Walt Disney (DISB34), com -9,1%; Carnival (C1CL34), -4,1%; e Melco Resorts (M1LC34), -40,7%. No entanto, esse ainda é um setor pouco negociado na bolsa brasileira, com baixa líquidez.

Além do impacto direto em si da pandemia, outros BDRs sofrem os efeitos resultantes da redução da atividade econômica. Nesse caso, variáveis regionais políticas e econômicas também prejudicaram fortemente a rentabilidade desses títulos.

América Latina

Entre os BDRs mais negociados, os de Mercado Livre (MELI34) estão entre os que acumulam maior desvalorização, por conta da sua concentração de negócios na América Latina. De janeiro a novembro, a perda de valor desses papéis foi de 27,4%.

Conforme Crespi, mesmo listada nos Estados Unidos, a atividade do Mercado Livre depende muito da América Latina, sobretudo dos mercados brasileiro e argentino.

“Assim como as grandes empresas de e-commerce brasileiras, a companhia vem tendo dificuldade cada vez maior por aqui, por causa da inflação, juros mais altos e perda do poder de compra do consumidor, e isso tudo se reflete no seu desempenho”

China

Destacam-se também entre as variações negativas os BDRs de empresas chineses. Conforme Araújo, da XP, o movimento está concentrado, principalmente, nas ações de tecnologia, que tiveram as maiores quedas, por causa do alto grau regulatório do governo chinês.

Entre os BDRs de empresas da China, lideram as perdas Alibaba (BABA34), com -43%; Bilibili (B1IL34), com -32,1%; e Baidu (BIDU34), -25,8%.

“Na verdade, Alibaba, Bilibili e Baidu já vinham caindo no ano passado. Porém, a desvalorização se acentuou em 2021 devido ao aperto das regulações governamentais”, explica o analista.

Rafael Nobre, analista internacional da XP, acrescenta que o setor de educação também foi afetado pelas políticas de regulação.

“O escrutínio regulatório da China também atingiu o segmento de educação. Nesse sentido, tivemos a Tal Education (T1AL34) despencando esse ano, com desvalorização acumulada de 92,1%”, observa.

Em segundo, entre as maiores desvalorizações, vem a New Oriental Education & Technology Group Inc. (E1DU34), com retração de 86,4%. Assim, na lista das seis maiores desvalorizações do ano, encontram-se apenas empresas chinesas.

Jennie Lee, estrategista de ações da XP, aponta também a preocupação do mercado com uma crise imobiliária na China. “De forma geral, nós olhamos a China no curto e médio prazo com uma visão um pouco mais neutra, pois ainda falta um pouco de visibilidade sobre os próximos passos do governo”, diz Jennie.

BDRs com maiores desvalorizações em 2021 até 10 de dezembro
Empresa Código Volume médio diário* Valorização
Tal Education Group T1AL34 96 -92,1%
New Oriental Education E1DU34 106 -86,4%
Iqiyi, Inc. I1QY34 17 -68,0%
Vipshop Holdings Ltd V1IP34 55 -63,6%
Autohome Inc. A1TH34 10 -62,3%
Pinduoduo Inc. P1DD34 279 -61,4%

*Em milhares; Fonte Economatica

BDRs mais negociados com maiores quedas até 10 dezembro
Empresa Código Volume médio diário* Valorização
Zoom Video Comm, Inc Z1OM34 1.512 -43,6%
Alibaba Group Holding BABA34 12.088 -43,3%
Mercado Libre MELI34 44.015 -27,4%
Baidu, Inc. BIDU34 1.583 -25,8%
Uber Technologies, Inc U1BE34 1.623 -24,9%
Paypal Hldg Inc PYPL34 3.853 -12,0%
Walt Disney Co DISB34 7.469 -9,1%
Carnival Corp C1CL34 1.189 -4,1%

*Em milhares; **com volume médio diário superior a R$ 1 milhão; Fonte Economatica

BDR’s mais negociados de 2021

Mesmo que o volume negociado de BDRs tenha avançado, com o ingresso do pequeno investidor, por enquanto, apenas nove recibos movimentam mais de R$ 10 milhões por dia.

Entre eles, destacam os BDRS de Tesla (TSLA34) e Mercado Livre (MELI34), que movimentaram, por dia, em 2021, em média, R$ 67,008 milhões e R$ 44,015 milhões, respectivamente, nos últimos doze meses.

No entanto, além da mudança das regras, os recibos vêm sendo apontados como alternativa de diversificação de investimentos, diante de um cenário de risco fiscal por aqui.

Para a estrategista de ações da XP, Jennie Li, a nova regra dos BDRs, que permitiu o acesso ao investidor comum, é extremamente positiva.

“Muitos de nós já somos consumidores de diversas empresas internacionais, como Apple, Google e Netflix, por exemplo. Logo, poder ser acionista dessas empresas faz muito sentido”, diz Jennie.

BDRs mais negociados em 2021 até 10 de dezembro
Empresa Código Volume médio diário* Valorização
Tesla, Inc TSLA34 67.008 58,2%
Mercado Libre MELI34 44.015 -27,4%
Apple Inc AAPL34 15.453 46,7%
Alphabet Inc GOGL34 14.889 84,4%
Amazon.Com, Inc AMZO34 14.605 12,8%
Moderna, Inc M1RN34 12.299 154,3%
Alibaba Group  BABA34 12.088 -43,3%
Microsoft Corp MSFT34 11.573 67,4%
Meta Platforms, Inc FBOK34 11.172 29,7%

*Em milhares; Fonte Economatica

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