Um ano após acesso, BDRs de Tesla e Mercado Livre lideram preferência do investidor

Volume médio diário saltou de R$ 50 milhões para R$ 500 milhões em dois anos; mudança nas regras, em outubro de 2020, foi marco para expansão

Carla Carvalho

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SÃO PAULO – Há um ano, os BDRs se tornaram acessíveis ao pequeno investidor na bolsa e isso gerou uma multiplicação do volume negociado destes recibos de empresas estrangeiras aqui no Brasil. Se há dois anos o volume médio diário era de R$ 50 milhões, atualmente está em R$ 500 milhões – dez vezes a mais.

Merecem destaque entre os volumes negociados os BDRS de Tesla (TSLA34) e Mercado Livre (MELI34), que movimentaram, por dia, em média, R$ 51,931 milhões e R$ 39,462 milhões, respectivamente, nos últimos doze meses.

E não é só o aumento das negociações, os BDRs de Tesla e Mercado Livre valorizaram-se, entre 20 de outubro de 2020 e o mesmo dia deste ano, nesta ordem, 103% e 17,7%.

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Outros destaques em negociação são os BDRs de Amazon (AMZO34] e Apple (AAPL34), com mais de R$ 14 milhões por dia; e de Alphabet, dona do Google, (GOGL34) e Alibaba (BABA34), com mais de R$ 11 milhões por dia.

Já em termos de retorno, estas grandes empresas globais registram valorização nos últimos doze meses: Alphabet (+77,9%), Apple (+24,4%) e Amazon (+5%). Dos BDRs mais negociados, apenas Alibaba tem desempenho negativo, -43,3%.

Mudanças nos BDRs

A mudança das regras do Brazilian Depositary Receipts, que completou um ano, foi um marco para a diversificação dos investimentos internacionais no país, pois permitiu que todas as pessoas físicas (e não somente investidores qualificados) tivessem acesso aos recibos de ações estrangeiras comercializados na B3.

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Dessa forma, em meio ao aumento do risco fiscal por aqui, os BDRs se tornaram uma alternativa para que os investidores fujam da instabilidade econômica e política, que já derrubou o Ibovespa em mais de 10% neste ano.

Para a estrategista de ações da XP, Jennie Li, a nova regra dos BDRs, que permitiu o acesso ao investidor comum, é extremamente positiva.

“Muitos de nós já somos consumidores de diversas empresas internacionais, como Apple, Google e Netflix, por exemplo. Logo, poder ser acionista dessas empresas faz muito sentido”, diz Jennie.

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Enquanto isso, Roberto Attuch Jr., CEO da OHM Research, acrescenta que os BDRs contribuem não só para a diversificação internacional, como forma de proteger o patrimônio, mas também à renda futura.

“De forma geral, o investidor acaba concentrando recursos no Brasil por ser o mercado conhecido, onde ele tem o emprego e o patrimônio. No entanto, isso funciona quando as coisas estão bem por aqui”, pontua.

Conforme Attuch, o investimento no exterior pode ser fundamental em momentos de crise e desemprego. “Nessas horas, se você não têm ativos lá fora, fica totalmente vulnerável ao risco-país. A menos que você trabalhe em uma empresa cujo desempenho dependa do mercado externo”, acrescenta.

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Jennie afirma ainda que, com as últimas turbulências na bolsa brasileira, foi percebido, inclusive, um maior interesse por investimentos internacionais de forma geral.

“Nos últimos meses, a XP percebeu um salto no interesse nesses ativos, justamente por causa das incertezas fiscais e políticas da economia local.”

Leia também: Para que servem e como investir em BDRs

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E qual é o momento para diversificar com BDRs?

Com a perspectiva de aumento dos gastos públicos, que levou o dólar a superar os R$ 5,65, é pouco provável que haja espaço para uma apreciação maior da moeda brasileira frente à americana, tendo em vista a inflação e os juros em alta – sem contar a chegada do período pré-eleitoral.

Para Attuch Jr, um dos maiores erros do investidor quanto à diversificação internacional é monitorar o dólar diariamente. Conforme ele, para investir em ativos internacionais, é preciso entender que se deve ter dois bolsos: um para os aportes em reais e outro para a moeda estrangeira.

Nesse sentido, afirma, o primeiro passo é determinar um percentual a diversificar: “Digamos que o investidor tenha decidido investir 30% dos recursos lá fora. No momento em que fizer isso, deverá monitorar a carteira com foco no longo prazo, em vez de ficar nervoso cada vez que o real se valoriza por aqui. É preciso se convencer de que a necessidade de diversificação internacional veio para ficar, e está somente começando.”

Já Jennie ressalta que o investimento no exterior pode ser feito a qualquer momento, principalmente se o cliente ainda não tem parte do patrimônio alocado em ativos internacionais.

Efeito do câmbio

Outro fator importante em relação aos investimentos internacionais é o ganho adicional que se obtém em momentos de real depreciado. Ou seja, quando o dólar se fortalece frente ao real, o investidor conta também com a diferença cambial, além da valorização da própria ação estrangeira.

Logicamente, é preciso estar pronto também para a situação oposta. Caso a ação lá fora caia ou o real se valorize frente à moeda estrangeira, o reflexo será negativo para o resultado do investimento.

Por isso, é importante entender o perfil do investidor, para que a distribuição do portfólio seja feita da forma mais adequada.

Obstáculos aos BDRs

Por outro lado, Jennie observa que ainda existem algumas limitações em relação aos BDRs, sendo que a principal delas é a liquidez.

“Dependendo da empresa, as negociações de BDRs ainda são pequenas na bolsa. Alguns nomes menos conhecidos pelos investidores brasileiros ainda não têm liquidez, ou seja, torna-se mais difícil para o investidor negociar esses títulos”, diz, ponderando que, conforme o tempo passe e mais investidores fiquem interessados, “isso será contornado gradualmente”.

Outra dificuldade é a relativa falta de informações disponíveis sobre os BDRs e empresas estrangeiras em português. Para Jennie, isso acaba dificultando o acesso de boa parte dos investidores a esses ativos, principalmente os menos experientes.

“Há um grande trabalho ainda a ser feito por bancos, casas de análises e mídias sociais no sentido de levar informações sobre BDRs e ações estrangeiras à população em geral”, afirma ela.

Leia também: BDRs da XP estreiam na bolsa brasileira

Evolução dos BDRs

Os BDRs começaram a ser comercializados na bolsa brasileira em 2011, com aproximadamente 50 títulos do tipo não-patrocinado. Ou seja, não havia participação da companhia emissora na sua negociação, pois a iniciativa de ofertar os títulos é exclusiva da instituição depositária nacional.

Com o passar do tempo, o número de BDRs foi aumentando na bolsa, tendo chegado a 110 nomes em 2015.

No entanto, a evolução ocorreu mesmo a partir de 2019, quando o banco B3 passou a lançar lotes de 50 a 100 nomes a cada trimestre, aproximadamente, pontua Pietra Guerra, estrategista da Clear Corretora e apresentadora do Radar InfoMoney.

Outro grande salto na comercialização desse ativo ocorreu, exatamente, em outubro do ano passado, com o ingresso dos pequenos investidores no universo dos BDRs.

“Nesse sentido, o principal mercado dos BDRs ainda são os Estados Unidos, com aproximadamente 90% dos programas”, destaca Pietra.

BDRs que lideram as valorizações

Atualmente, há mais de 800 BDRs listados na bolsa brasileira. Segundo Attuch, as gigantes de tecnologia ainda dominam esse mercado por aqui. Além disso, alguns BDRs de ETFs também estão entre os mais procurados pelos investidores na B3.

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Nesse sentido, Attuch destaca os que investem na China, S&P 500 e Nasdaq. Para ele, a tendência é de que, de forma geral, a demanda por BDRs continue crescente, o que deverá melhorar ainda mais a liquidez desses títulos.

“O Brasil representa somente 2% do mercado financeiro mundial. Por isso, não faz sentido deixar de buscar outros mercados mais diversificados e rentáveis do que o nosso.”

“Aos poucos, o investidor percebe isso, porém ainda há muito trabalho de educação financeira a ser feito nesse sentido”, finaliza.

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