Após queda generalizada de commodities, gestores preferem ações ligadas a petróleo e veem maior risco para minério de ferro e aço

Para especialistas, correção nos preços ainda não terminou e investidor deve ter calma para aumentar posições

Bruna Furlani

(Getty Images)

Publicidade

As correções recentes vistas nas cotações de uma série de commodities, como petróleo, minério de ferro etc, avermelharam os retornos e assustaram investidores que detém ações de empresas ligadas a matérias-primas.

No caso do petróleo, por exemplo, os contratos futuros da commodity do tipo Brent chegaram a ultrapassar os US$ 139 no auge da crise entre Rússia e Ucrânia e agora são negociados perto dos US$ 104.

Embora o recuo tenha assustado, especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmaram que as perspectivas seguem positivas para commodities energéticas e agrícolas, já que ambas estão ligadas a itens de consumo mais diário e com uma demanda um pouco mais estável.

Aula Gratuita

Os Princípios da Riqueza

Thiago Godoy, o Papai Financeiro, desvenda os segredos dos maiores investidores do mundo nesta aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Eles reconhecem, no entanto, que o cenário seguirá desafiador, diante de temores em torno de uma recessão global e de períodos maiores de inflação elevada.

Ações de empresas mais ligadas ao minério de ferro e ao aço, por outro lado, representam riscos maiores para as carteiras, na visão de gestores, já que estão intimamente ligadas à demanda chinesa.

Na visão de Rodrigo Jolig, CIO da Alphatree, o fim da correção nos preços ainda não chegou e o investidor deve ter calma para aumentar as posições. Segundo ele, o mercado vive um dilema ao olhar para os dados de inflação americana e tentar entender quão forte deve ser a recessão que o Federal Reserve (Fed), banco central americano, terá que causar para controlar a alta de preços no país.

Continua depois da publicidade

Isso está mudando inclusive, diz Jolig, a dinâmica das commodities, que costumam ser ativos muito buscados pelo mercado como um hedge (proteção) contra a inflação.

“Estamos vendo uma reprecificação de crescimento global. Quando há uma revisão de crescimento para baixo, é natural que as commodities sejam mais impactadas por causa da queda da demanda”, afirma Edoardo Biancheri, gestor de renda variável da Garde Asset.

Para Biancheri, o ambiente global será de maior volatilidade e incertezas, mas o mercado de commodities seguirá apertado. Aliado a isso, afirma, a China tende a seguir na contramão do mundo – ao adotar uma política de expansão monetária, enquanto o resto das economias reajustam os juros para cima, o que pode ser positivo para matérias-primas.

Com um viés um pouco mais positivo no relativo, o gestor afirma que foi às compras recentemente, com foco maior em aumentar a alocação em empresas ligadas ao açúcar, como a Raízen (RAIZ4).

“Tem uma correlação com o petróleo, mas não tem a volatilidade da commodity. No caso da Raízen, há ainda a questão ESG [sociais, ambientes e de governança]. Ela está na frente das líderes globais. É uma empresa com uma qualidade muito boa e que enxergamos valor”, observa Biancheri.

Petróleo: viés segue mais otimista

Ações de petroleiras também permanecem no radar dos gestores, diante de uma perspectiva de oferta mais reduzida nos próximos anos após períodos sem grandes investimentos no setor.

Christian Faricelli, sócio da Absolute Investimentos, explica que o consumo de petróleo é mais estável e que a demanda costuma cair pouco, mesmo em cenários de maior desaceleração econômica.

Hoje, a maior posição do fundo Long Biased da casa está nos papéis da Petrobras (PETR3);(PETR4). Embora a companhia tenha se envolvido em polêmicas recentes sobre o reajuste dos combustíveis, o gestor defende que isso foi apenas um “ruído”.

Para ele, a empresa reajustou os preços quando necessário e mostrou que manteve a governança como prioridade, contrariando pedidos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para abaixar o valor dos combustíveis.

A prévia operacional da companhia também não trouxe grandes surpresas, na visão de analistas, ao trazer números em linha com o consenso de mercado. Na última quinta-feira (21), a Petrobras reportou que a produção total, em média de óleo, LGN e gás natural no 2º trimestre de 2022, chegou a 2,65 milhões de barris de óleo equivalente por dia (boed).

Leia mais:
Petrobras (PETR4) não traz surpresas com dados de produção; foco está nos dividendos da próxima semana

O montante representa um recuo de 5,1% em relação ao mesmo período de 2021 e sobre o 1º trimestre deste ano.

Após a divulgação dos números, os analistas do Bradesco BBI avaliaram que a empresa pode reportar um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 85 milhões no primeiro trimestre deste ano. O que representaria uma melhora sólida em relação aos R$ 78 bilhões informados no trimestre passado.

A casa espera ainda bons resultados em termos de fluxo de caixa para acionistas (FCFE) com muitos dividendos distribuídos – podendo chegar a um montante entre US$ 8,5 bilhões e US$ 11 bilhões neste ano.

Mas há quem tenha reduzido uma parte da posição em Petrobras, diante da volatilidade dos preços do petróleo e da aproximação das eleições, caso de alguns fundos da AZ Quest, conforme explica Welliam Wang, head de renda variável da casa. “O nível de risco aumentou com a possibilidade de troca de governo, mas seguimos com posição porque é um papel muito barato negociando a cerca três vezes preço/lucro”, afirma.

Visão positiva também para ações de empresas menores do setor, como 3R Petroleum (RRRP3) e PetroReconcavo (RRRP3), que estão com o preço atrativo e possuem forte potencial de crescimento, na visão de Wang.

“Achamos que o cenário aponta que o petróleo seguirá elevado por mais tempo, isso acabaria beneficiando especialmente, essas empresas mais “juniors” [menores]”, observa o especialista da AZ Quest.

Minério de ferro e aço: visão mais pessimista

Enquanto commodities mais relacionadas a bens duráveis e ao consumo diário apresentam uma perspectiva mais favorável, gestores estão mais pessimistas com papéis mais ligados à demanda chinesa, caso do minério de ferro e do aço.

Wang, da AZ Quest, explica que a meta oficial de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês estava em 5,5% no começo do ano. Após sucessivas revisões, boa parte das casas esperam que a economia chinesa agora cresça menos do que 4% em 2022, conta.

O especialista da casa observa que quase um quarto do PIB chinês está ligado à construção civil. O ponto, diz, é que a demanda no setor está fraca. Números do Departamento Nacional de Estatísticas (NBS, na sigla em inglês) apontaram que o volume de vendas de casa na China recuou 31,8% no primeiro semestre de 2022, na comparação com o mesmo período do ano anterior.

Outro problema, afirma o profissional da AZ Quest, está na política de Covid-19 zero, que envolve a realização de bloqueios temporários em várias cidades para evitar a propagação da doença pelo país, o que afeta o funcionamento de fábricas e tende a diminuir o consumo.

“Estamos cautelosos em relação a essas empresas que estão mais posicionadas em China, como Vale (VALE3), e a parte de aço, com companhias de siderurgia”, conta Wang.

A casa não possui alocação nos papéis da Vale atualmente, conforme explica Wang. Além do cenário mais desafiador com a desaceleração global, o alocador chama a atenção para o fato de que houve uma revisão para baixo do guidance de produção do minério para 2022, o que sinaliza desafios operacionais.

Em prévia operacional divulgada na última terça-feira (19), a mineradora anunciou que a produção deve ficar entre 310 milhões e 320 milhões de toneladas de minério. Anteriormente, as projeções apontavam para algo entre 320 e 335 milhões.

Leia mais:
Vale (VALE3) tem produção abaixo do previsto, enquanto atenções se voltam para cortes em projeções; ação fecha em queda

Mas há quem defenda que a companhia possa ser beneficiada por uma melhora da demanda na segunda metade do ano, caso dos analistas do Bradesco BBI. Em relatório, eles optaram por manter a recomendação de compra para os papéis, embora reconheçam que o caminho para as ações não será linear.

No caso do aço, porém, a visão é um pouco menos pessimista. Wang, da AZ Quest, observa que o governo chinês está muito preocupado com os dados de atividade e que tem liberado o aumento da produção de aço. No entanto, a medida pode ser passageira e a expectativa do alocador é que maiores restrições voltem a ser impostas nos próximos meses, o que poderia reduzir a oferta e aumentar o preço.

Faricelli, da Absolute Investimentos, também prefere ser mais cauteloso com os dois setores. “China é uma incerteza. Na nossa visão, os incentivos do governo vão mais para a parte de infraestrutura e não para a construção civil”, conclui o gestor, fazendo referência ao fato de que, nesse caso, minério de ferro e aço seriam mais impactados negativamente.

O que os especialistas da XP recomendam para você? Clique aqui e faça uma simulação de investimentos gratuita, sem robôs