Ainda dá para ser “milionário de Bitcoin”? Veja projeções de ganho e simulação de quanto investir

Histórias de milionários com Bitcoin fazem parte do imaginário da criptomoeda; especialistas avaliam se isso ainda é possível para quem começa agora

Paulo Barros

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Dez anos atrás, o chileno Davinci Jeremie publicou um vídeo no YouTube explicando os motivos que o levavam a acreditar que o Bitcoin (BTC) era um ativo promissor. O programador recomendava aos seus seguidores que comprassem algumas unidades da moeda – que, na época, valia US$ 1.

Seu conselho ficou famoso. “Se for a zero, você perde US$ 1. Quem se importa?”, dizia. “Mas, se eu estiver certo, quero que todos vocês me agradeçam, não vou ficar feliz se em 10 anos vocês disserem ‘eu gostaria de ter ouvido você’”.

Desde que Jeremie publicou aquele vídeo, a moeda valorizou 3.000.000% (30.000 vezes) – o que fez dele um dos muitos “milionários de Bitcoin. Ele é o feliz proprietário de pelo menos uma das 79.275 carteiras digitais com saldo superior a US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões) na criptomoeda, segundo o serviço Bitinfocharts.

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Lançado em 2009, o Bitcoin inaugurou uma nova classe de ativos e acumula uma valorização até difícil de ler: em dólar, disparou cerca de 60.000.000% (mais de 600 mil vezes) desde então, segundo o site CoinMarketCap. Pouca gente capturou todo esse movimento, mas apenas parte dele foi suficiente para transformar pessoas como Jeremie em milionários.

Histórias como essa fazem parte do imaginário sobre a criptomoeda, mais como uma aposta que deu certo do que como um investimento planejado. E como o tempo não volta, o que interessa agora é a resposta para outra pergunta: ainda é possível ficar milionário comprando Bitcoin?

R$ 1 milhão com Bitcoin está na mesa

Segundo especialistas, o Bitcoin ainda tem potencial de ganhos suficiente para criar mais milionários, desde que o investidor saiba onde está pisando: o dinheiro do café dá lugar a um aporte considerável, e é preciso ter consciência de que será preciso ter um horizonte de investimento longo, além de muita paciência e estômago para suportar os altos e baixos pelo caminho.

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Embora tenha sido criado para ser uma alternativa de moeda, a principal tese de investimento em Bitcoin se baseia na ideia de que ele é a melhor alternativa digital ao ouro, por possuir atributos como segurança garantida por criptografia de ponta, facilidade de transação via Internet e escassez programada em código que é imutável.

“O mundo caminha do físico para o digital, as empresas investem mais em tecnologia. Não faz sentido ter uma reserva oficial física somente. Acreditamos que o Bitcoin tem esse potencial [de se tornar uma reserva digital]”, diz Renato Nobile, CEO e gestor da Buena Vista Capital.

A possibilidade ou não se conseguir R$ 1 milhão com Bitcoin está diretamente ligada à capacidade de ele cumprir seu potencial estimado de valorização. Para analistas que cobrem esse mercado, as projeções passam por calcular o quanto de valor a moeda digital poderá abocanhar de mercados que já existem, do ouro a outros ativos e usos. A partir daí, surgem vários cenários possíveis.

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Quanto investir para conseguir R$ 1 milhão com Bitcoin?

Cenário 1: a projeção de consenso

O potencial de alta de 10 vezes é praticamente consenso entre especialistas em criptomoedas. Por essa medida, nos preços de hoje, ao redor dos US$ 30 mil, o Bitcoin poderia alcançar US$ 300 mil (cerca de R$ 1,5 milhão) por unidade.

“A capitalização de mercado do ouro é de cerca de US$ 10 trilhões. Se o Bitcoin de fato virar um ouro digital, seria possível bater essa marca em algum momento no futuro”, explica Jorge Souto, gestor do fundo TC Digital Assets. “Estamos falando, certamente, de uma valorização de mais 10 vezes”, aposta.

Mas, seria preciso ter convicção suficiente para esperar. “Em um prazo de 10 anos, dá para pensar em uma valorização de 10 vezes de maneira relativamente tranquila”, avalia André Franco, head de research do Mercado Bitcoin.

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Nesse cenário, portanto, seria preciso investir R$ 100 mil a preços atuais para alcançar R$ 1 milhão com Bitcoin em 10 anos.

Cenário 2: a visão dos otimistas

Para alguns analistas, o investimento não precisaria ser tão alto. Vinícius Bazan, analista de criptoativos da Empiricus Research, ressalta que o cálculo de 10 vezes pode estar baixo demais.

“A maior parte das pessoas, principalmente do mercado financeiro tradicional, não entendem ainda [o Bitcoin], e isso faz com que ele esteja subavaliado”, avalia Bazan. “Sendo conservador, eu projetaria 20 vezes de valorização para o Bitcoin nos próximos 10 anos”.

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Por essa estimativa, a criptomoeda poderia valer US$ 600 mil em uma década (R$ 3 milhões), reduzindo pela metade o tamanho do aporte para alcançar R$ 1 milhão no período: R$ 50 mil.

Cenário 3: as projeções dos esperançosos

Há projeções ainda mais otimistas. As mais famosas são da gestora Ark Invest, da “guru da inovação” Cathie Wood. Em estudo divulgado no começo do ano, a casa reforçou sua visão positiva para a criptomoeda e até revisou alvos para cima.

No cenário mediano, a Ark enxerga o Bitcoin a US$ 680 mil já em 2030. Em uma projeção ainda mais ousada, aponta que o BTC pode bater até US$ 1,5 milhão dentro dos mesmos sete anos.

O número se baseia nos possíveis percentuais que o Bitcoin pode capturar de um determinado mercado, do ouro a caixas de empresas (como já fazem Tesla, Microstrategy e Mercado Livre) e portfólios de investimento institucionais, alvo que a BlackRock quer viabilizar com a proposta de um novo ETF de Bitcoin nos EUA.

As possibilidades incluem também o uso do Bitcoin em reservas nacionais (como acontece com El Salvador) e como um dinheiro global — no último mês, Larry Fink, CEO da BlackRock, afirmou em entrevista à Fox Business que o BTC se credencia como uma “moeda internacional”.

“Tudo isso acaba casando na possibilidade de chegar nesse patamar de US$ 1 milhão”, complementa Franco, do MB. “Quando você olha a conta, o número parece meio bizarro, grande demais para o patamar de hoje. Mas, quando se olha a lógica, acaba fazendo um pouco de sentido porque estamos falando de pequenos percentuais de mercados que já são grandes”.

“São projeções factíveis, mas dado que a gente tem mais de 14 anos de história do Bitcoin estamos projetando mais sete para frente, é muito difícil ser preciso”, pondera Bazan, da Empiricus. “Mas fazem sentido justamente porque o Bitcoin tem avançado em sua adoção no mundo, com adoção institucional, interesse de países. Eu entendo que o Bitcoin ainda é subavaliado no mercado”.

Nos cenários mais otimistas com alvos a US$ 680 mil (R$ 3,4 milhões), US$ 1 milhão (R$ 5 milhões) ou US$ 1,5 milhão (R$ 7,5 milhões) nos próximos anos, o aporte necessário para ficar milionário com Bitcoin cai consideravelmente: para R$ 44 mil, R$ 30 mil e R$ 20 mil, respectivamente.

E o risco?

E se as projeções mais otimistas estiverem erradas? Gestores consideram essa possibilidade, e por isso recomendam alocações tão baixas quanto 3% a 5% da carteira na moeda digital. Mas, trabalham com a hipótese de que a relação de risco-retorno do ativo é atrativa, desde que se tome a precaução de comprar aos poucos, fazendo o famoso preço médio.

“O US$ 1 milhão está mais longe que o zero”, ponderou Alexandre Vasarhelyi, gestor da BLP Crypto, casa que abriu o primeiro fundo de criptomoedas do Brasil, em 2018, em conversa recente com o InfoMoney (confira o vídeo na íntegra no início da reportagem).

Ele lembrou, por exemplo, que o lendário investidor Warren Buffet é um dos fortes críticos da criptomoeda. Mas, disse também que nunca imaginaria ver a BlackRock encampando a defesa da moeda digital — algo que, na sua visão, mostra que tudo pode mudar.

“O Buffet demorou bastante para comprar Apple, e hoje é a maior posição dele. Dentro do que ele faz, que é investir em coisas de baixíssimo risco, o Bitcoin não está dentro da paleta de produtos”, explica o gestor. “Acho bom o fato de ele não ter — o dia que tiver 40% do fundo em Bitcoin, eu vou vender”.

Paulo Barros

Editor de Investimentos